Um estudo desenvolvido pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, em Pirassununga, mostrou que a suplementação da dieta de equinos com minerais orgânicos ajuda a prevenir o hiperparatireoidismo nutricional secundário (HNS).
O HNS ocorre devido a um desequilíbrio nutricional. “A doença envolve os níveis de cálcio, fósforo, vitamina D e substâncias presentes nas pastagens, chamadas oxalatos. No Brasil, não é rara a criação de equinos em áreas onde o baixo teor de fósforo, a indisponibilidade de cálcio e o teor de oxalato nas plantas levam a esses desequilíbrios”, explica o médico veterinário Henry Wajnsztejn, autor de uma dissertação de mestrado sobre o tema.
O organismo do animal percebe a falta de cálcio circulante e, para compensar, retira o mineral por diversos mecanismos dos ossos, regiões onde ele está presente em altas concentrações. “As moléculas de cálcio saem principalmente dos ossos nasais e são substituídas por tecido fibroso, causando um aumento de volume e gerando outro nome comum da doença, a Síndrome da Cara Inchada. Uma vez instalada a fibrose, não há tratamentos descritos para revertê-la e, portanto, não existe cura para o HNS, apenas formas de prevenção. Decidi pesquisar o tema devido à alta incidência da doença no Brasil, na Ásia e na Austrália”, afirma Wajnsztejn.
Em seu mestrado, o médico veterinário avaliou o efeito da adição de oxalato na dieta de equinos causando um desequilíbrio entre cálcio e fósforo, conforme o que ocorre no campo, e analisou a possibilidade de prevenção do HNS por meio da suplementação com minerais orgânicos.
Os minerais orgânicos são moléculas protegidas que têm por objetivo uma melhor assimilação pelo organismo. “De maneira sucinta, um cálcio orgânico vai ser mais bem absorvido do que sua forma inorgânica, presente na maioria dos sais minerais oferecidos aos cavalos”, esclarece o pesquisador.
Foram utilizados quatro grupos de potros compostos por três machos e três fêmeas cada. Esses animais foram mantidos 150 dias a pasto e com alimentação controlada. Eles passaram previamente por um período de adaptação, sendo pesados quinzenalmente.
O grupo 1 (G1) recebeu ração (concentrado) com minerais orgânicos sem oxalato; o grupo 2 (G2) foi alimentado com ração com minerais orgânicos e oxalato;o grupo 3 (G3) recebeu ração com minerais inorgânicos sem oxalato; e o grupo 4 (G4) recebeu ração com minerais inorgânicos e oxalato. A ração era oferecida em um sistema chamado de lanchonete, onde cada animal come individualmente a quantia oferecida. Depois os animais voltavam aos pastos, onde recebiam o feno.
A cada 30 dias foram colhidas amostras de sangue e de pêlos. Também foram radiografados os ossos da região da “canela” dos membros anteriores de cada potro. A cada 75 dias, foram colhidas amostras de ossos da região da ponta da anca.
Resistência ao desequilíbrio
Os resultados demonstraram que os grupos suplementados com minerais orgânicos, mesmo quando desafiados com oxalato na dieta, apresentaram melhor resistência ao desequilíbrio, evitando o desenvolvimento da doença.
A pesquisa teve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e de uma empresa do setor zootécnico-agrário, que forneceu o mineral orgânico usado no trabalho. “Apesar do maior custo de produção em relação a outros sais minerais inorgânicos disponíveis no mercado, o mineral orgânico provou ser eficaz na prevenção da doença. Isso significa que mesmo em pastos de baixa qualidade, o produto é capaz de manter o equilíbrio nutricional e a saúde dos equinos”, destaca.
Fonte: FMVZ-USP (acessado em 27/09/10)