Mudanças climáticas poderão reduzir e deslocar populações de morcegos

Em 2050, caso a previsão sobre as mudanças climáticas se concretize em seu cenário mais pessimista, espécies de morcegos poderão ter, em média, 41% de sua área de distribuição reduzida, sendo obrigadas a se deslocarem mais de 400 km para encontrar condições climáticas adequadas. A constatação é baseada em uma pesquisa do Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília (UnB), que levou em consideração 120 espécies representativas de morcegos no Brasil. O estudo foi apresentado no VI Encontro Brasileiro para o Estudo de Quirópteros, em Maringá (PR).

Esse cenário foi construído a partir dos dados fornecidos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC), comparando-se a atual distribuição geográfica das espécies estudadas e sua possível distribuição no futuro, baseada na modelagem feita a partir do chamado cenário A2. “Trata-se do cenário em que a temperatura média anual sobe mais. É o pior cenário possível, em que não se promoveu nenhuma intervenção. Nele, o uso de combustíveis fósseis continua, a economia está cada vez mais globalizada, a produção é baseada na monocultura e na alta produtividade, entre outros fatores”, explica o ecólogo Ricardo Bomfim Machado, um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo.

O deslocamento previsto ocorre no sentido sudoeste, ou seja, em direção a regiões de Cerrado que englobam o Estado de São Paulo e parte do Paraná, hoje apontadas como importantes centros para a agricultura no futuro. “Além das condições climáticas serem diferentes, as condições ambientais hoje já são ruins. Há dúvida se as espécies conseguirão se estabelecer em áreas que hoje já estão extremamente degradadas”, alerta Machado.

Os dados do IPCC preveem mudanças no clima em escala de décadas, de maneira que, em 2050, espera-se que o clima vá mudar radicalmente. Até hoje, os ciclos naturais de mudança climática do mundo ocorriam em períodos longos. O último, lembra Machado, ocorreu há cerca de 15 mil anos.

“Como as espécies estão acostumadas a ciclos naturais de larga escala, o que aconteceria se elas não conseguissem se adaptar ou se deslocar para lugares mais favoráveis nesses cenários extremamente curtos? Para onde vão e qual a distância que têm que se deslocar para encontrarem condições adequadas. Se não conseguirem, qual a perda que teremos?”, questiona ele.

Também autora da pesquisa, a ecóloga Ludmilla Moura de Souza Aguiar chama a atenção para a importância dos morcegos no meio ambiente. Além de predadores de insetos, entre eles algumas pragas agrícolas importantes, os morcegos são grandes dispersores de sementes. “Diferentemente das aves, os morcegos defecam enquanto voam, o que facilita que essas sementes caiam em áreas abertas e cresçam. Não só em áreas rurais mas também nas cidades, perto de parques, por exemplo, é possível encontrar plantas que crescem devido à deposição das sementes feita pelos morcegos. Outra função importante desses animais é a polinização. A maioria das espécies que florescem à noite são polinizadas por eles”, afirma.

Além das condições climáticas ideais para os morcegos, também é preciso levar em conta, por exemplo, as plantas de que as espécies se alimentam e os animais que predam, que também sofrerão o impacto das mudanças climáticas. Considerando o sudeste do Cerrado como uma região bastante degradada e que provavelmente ainda terá uma pressão maior pela agricultura, a proteção ambiental é uma das saídas possíveis para garantir a permanência das espécies de morcegos estudadas. “Para que as espécies – não só de morcegos, mas de outros vertebrados – tenham condições de suportar as mudanças climáticas, teríamos que implementar um grande programa de recuperação ambiental nessas áreas”, afirma Aguiar.

Fonte: Com Ciência (acessado em 22/09/2011)

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