Pesquisadores de Cingapura conseguiram criar em laboratório uma bactéria Escherichia coli geneticamente modificada para o combate de infecções hospitalares. A nova bactéria, construída a partir de ferramentas da biologia sintética, é capaz de perceber e matar Pseudomonas aeruginosa, outra bactéria responsável por infecções pulmonares e gastrointestinais em pacientes hospitalizados. No experimento realizado em laboratório, a E. coli matou a cultura de P. aeruginosa em apenas 18 horas.
O estudo representa um passo para a cura das infecções provocadas pela P. aeruginosa, mas ainda é preciso fazer testes em animais e humanos. “Acredito que demore alguns anos para que possamos desenvolver as bactérias modificadas e usá-las para o tratamento de infecções em pacientes reais. O próximo passo é o teste em animais”, disse ao iG o autor da pesquisa, Matthew Wook Chang, da Universidade Tecnologica Nanyang, em Cingapura.
A lógica do estudo foi criar um “espião” para as mensagens dadas pela bactéria P. aeruginosa. Na guerra das bactérias, a E. coli modificada se deu melhor. Os pesquisadores só conseguiram isso a partir da análise de modos de “mensagens” bioquímicas entre as bactérias da colônia.
“As modificações genéticas foram feitas pela inserção de trechos de DNA que codificam as proteínas usadas no sistema de comunicação, contém informações importantes como instruções de controle e decide como e quando cada parte do sistema é ativada”, disse ao iG o editor do periódico científico Molecular Systems Biology, Andrew Hufton. O estudo foi publicado nessa terça-feira (16).
Tática de Guerra
Muitas bactérias têm um sistema natural de comunicação entre si, como é o caso da P. aeruginosa. Ela libera moléculas para que outras bactérias como ela a detectem, permitindo, assim, que a colônia possa tomar “decisões” mais eficientes para atacar o corpo.
Mas a guerra não é tão simples. Ao mesmo tempo em que existe um sistema de cooperação, as bactérias também são muitas vezes pouco amigáveis umas com as outras. A P. aeruginosa pode liberar para matar outras bactérias da colônia. “Os pesquisadores pegaram os genes responsáveis por esse papel biológico das P. aeruginosa e introduziram no DNA da E.coli”, explicou Hufton.
O estudo ainda não representa a cura da das infecções provocadas pela P. aeruginosa, pois foi realizado apenas em culturas bacterianas de laboratório. Mesmo assim, mostra que no futuro a E.coli modificada pode representar uma nova arma contra a doença.
Os pesquisadores conseguiram demonstrar que a E.coli modificada matou a P. aeruginosa, com a redução de 99% das células viáveis, além de inibir a formação de cerca de 90% da formação de biofilme (um tipo de crescimento bacteriano que pode ser muito difícil de tratar quando encontrado em um animal). Para os pesquisadores, a nova bactéria pode ser um caminho para a luta contra a P. aeruginosa, que está se tornando cada vez mais resistente à medicação existente.
Fonte: Último Segundo (acessado em 17/08/2011)