Confinados por cerca de 20 horas em câmaras revestidas por uma lona plástica, os animais – ruminantes – alojados no Centro de Energia Nuclear na Agricultura, da Universidade de São Paulo (Cena-USP), em Piracicaba (SP), têm uma importante, porém fácil e fisiológica missão: receber uma alimentação criteriosa, balanceada e a partir daí serem pesquisados em relação às suas emissões de gases do efeito estufa, sobretudo metano (CH4), que tem maior potencial de destruir a camada de ozônio em relação ao dióxido de carbono (CO2).
“Verificamos a troca de gases na câmara e a produção de gases-estufa conforme a alimentação dada aos ruminantes”, diz o pesquisador Adibe Luiz Abdalla, coordenador do Laboratório de Nutrição Animal (Lana) do Cena/USP. A pesquisa vem sendo feita com ovinos, e seus resultados serão transpostos, no futuro, para bovinos e outros ruminantes.
Alimento balanceado. Em breve, acredita Abdalla, será possível chegar a uma alimentação balanceada nas pastagens, que reduza ao máximo a emissão de metano não só por meio da flatulência e fermentação entérica (no rúmen), mas também pelos dejetos dos animais.
É sabido que o rebanho brasileiro de ruminantes, principalmente de bovinos – o segundo maior do mundo, com 200 milhões de cabeças -, é responsável por 63% do total de metano emitido pelo setor agrícola no País, conforme o Ministério da Ciência e Tecnologia. Os alimentos com os quais a equipe de Abdalla – composta por mais dois pesquisadores, além de oito alunos de pós-graduação e dez de iniciação científica, abrigados no Laboratório de Metano Entérico do Lana/Cena-USP – vem trabalhando são os resíduos da produção de biodiesel – tortas de soja, pinhão-manso, girassol, nabo forrageiro, mamona, algodão, excluindo seus elementos tóxicos.
Outra novidade é o uso do tanino para eliminar, no rúmen, os radicais livres e, por consequência, a produção e emissão de metano. “Essa produção e emissão de metano nada mais é do que a deficiência na utilização de nutrientes por parte do animal. Quanto maior essa deficiência, maior a emissão de metano”, diz.
No caso do tanino, seu efeito antioxidante é conhecido de longa data. Ministrado em grandes quantidades, porém, pode ser tóxico. “Observamos que, em pequenas doses, o tanino tem a capacidade de melhorar a eficiência de utilização dos nutrientes”, continua. “O objetivo é chegar a uma fórmula eficiente e acessível ao pecuarista de administrar tanino ao rebanho”, explica.
Nas pastagens, por exemplo, já há algumas plantas taniníferas à disposição, como as famosas mucunas preta e anã e a leucena. Outra planta taninífera bastante conhecida é a sansão-do-campo, muito utilizada como cerca-viva. Ela é palatável ao gado, porém tem muitos espinhos, inibindo a aproximação dos animais, além das acácias.
“No caso da leucena e das mucunas, os animais naturalmente procuram essas plantas no pasto; no caso da sansão-do- campo e das acácias, estamos estudando a melhor maneira de administração. Um resultado já observado, por exemplo, é que se eu substituir feno comum de tifton por 20% de uma planta taninífera, há redução de 3% a 7% de emissão de metano por parte do ovino”, diz.
Em alguns casos, a redução chegou a 35%. “Estamos agora numa fase de avaliar vários outros alimentos e definir a quantidade exata de plantas taniníferas na dieta do gado. Em até três anos, teremos dados mais definitivos”, diz. Esses e outros resultados serão apresentados em outubro, no Canadá, no 4.º Congresso Mundial de Gases do Efeito Estufa em Animais e na Agricultura.
Fonte: Estadão (acessado em 28/07/10)