O mês de outubro é dedicado à conscientização sobre o câncer de mama. Este é o tipo que mais acomete mulheres no Brasil e no mundo. Por isso, é essencial atentar-se a possíveis sintomas, como nódulos e alterações na pele, entre outros, e realizar o autoexame. Com mais de 60% do efetivo de médicos-veterinários atuantes no estado de São Paulo sendo composto por mulheres, o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) não poderia ficar de fora desta campanha.
Além de estimular o autocuidado das profissionais que integram a classe e toda a comunidade, com a realização de exames preventivos, o CRMV-SP aproveita para alertar que cadelas e gatas também precisam de atenção especial de seus tutores.
No universo dos pets, o câncer de mama está entre as neoplasias mais comuns nas fêmeas, revelando a importância da prevenção, detecção e tratamento. Assim como em humanos, a identificação precoce da neoplasia mamária, como qualquer outra, é essencial para a determinação do prognóstico e para aumentar as chances de sucesso no tratamento.
“Pensando na prevenção do aparecimento de câncer em cães e gatos, a histerectomia precoce (castração) age de forma direta, diminuindo a probabilidade do aparecimento do câncer de mama, principalmente na idade adulta dos animais”, afirma Maickel Bitolo, integrante da Comissão de Clínicos de Pequenos Animais do CRMV-SP e membro da direção da Associação dos Médicos-veterinários do Grande ABC.
Nesse contexto, o médico-veterinário tem papel muito importante de orientação ao tutor. “Considerando que o tratamento é complexo, geralmente envolvendo cirurgia e também quimioterapia, e que, quando descoberto o tumor, as chances de ser maligno são de cerca de 50% em cadelas e 80% em gatas, a prevenção é necessária. A castração precoce e o controle de peso são formas preventivas eficazes”, elucida Otávio Verlengia, membro da Comissão de Clínicos de Pequenos Animais do CRMV-SP e integrante da direção da Associação Brasileira de Hospitais Veterinários (ABHV).
Prevenção
Apesar das novas discussões sobre a castração, esta ainda é a melhor forma de prevenção dos tumores de mama em cadelas e gatas. “A castração precoce, ou seja, ainda dentro do primeiro ano de vida, quando as porcentagens de prevenção são maiores, é o principal protocolo de prevenção”, afirma Rodrigo Ubukata, médico-veterinário oncologista, diretor e fundador da Associação Brasileira de Oncologia Veterinária (Abrovet).
A castração pode também, de uma forma indireta, agir na diminuição do aparecimento de outras neoplasias como, por exemplo, o linfoma em felinos. “Por meio do controle de natalidade e da diminuição da promiscuidade, principalmente em gatos errantes, teremos uma menor frequência da disseminação de algumas doenças virais, que sabidamente aumentam a propensão a esse tipo de câncer”, declara Maickel Bitolo.
“Quando removemos os ovários e útero dos pets, ou seja, realizamos a ovariosalpingohisterectomia eletiva, criamos um ambiente que não favorece o estímulo desse epitélio glandular, reduzindo até 95% as chances do desenvolvimento neoplásico se realizado já nos primeiros anos pós cio”, aconselha Stéfanie Vanessa dos Santos, médica-veterinária pós-doutora em oncopatologia comparada pela A.C. Camargo Cancer Center, professora de pós-graduação do Ippesp e pesquisadora das áreas de patologia comparada, saúde única e medicina da conservação.
Mudança de hábitos
Manter hábitos saudáveis como dieta hipocalórica, hipoproteica e rica em suplementos minerais e vitamínicos, os chamados agentes oncoprotetores, favorece a prevenção neoplásica, explica a médica-veterinária do A.C. Camargo.
Além disso, ao manter uma rotina rica em exercícios físicos, os pets são favorecidos com aumento da oxigenação, eliminação de catabólitos, manutenção da glicemia e colesterol orgânico, o que, por sua vez, reduz o teor de tecido adiposo, considerado um ambiente promotor de crescimento celular e inflamação.
Outra forma de prevenir, de acordo com o diretor da Abrovet, é jamais utilizar anticoncepcionais para se evitar o cio ou uma reprodução indesejada. Uma única aplicação, segundo Ubukata, pode aumentar em três vezes o risco de desenvolvimento de tumores mamários.
Identificação
O estar perto e atento ao pet é a maior arma contra o câncer de mama. Como nas mulheres, aprender a realizar o “autoexame” ajuda no diagnóstico precoce. A hora da escovação, do banho, do passeio ou o período antes das refeições podem ser usados para essa finalidade.
“É preciso realizar o toque em busca de nódulos, feridas e secreção”, afirma a médica-veterinária do A.C. Camargo. O exame deve ser realizado no máximo a cada seis meses, em toda a região da cadeia mamária (abdômen), desde a axila até a virilha.
Sintomas mais generalistas como anorexia, apatia, lambedura na região, galactorreia, secreção vulvar, tenesmo, emagrecimento, alopecia, sobrepeso, dispneia, edema e linfoadenomegalia em membros também pode alertar comprometimento em cadeia mamária, explica a pesquisadora.
“Ao perceber nodulações, alteração das mamas ou presença de secreções, os tutores imediatamente devem procurar o médico-veterinário de confiança. Nunca esperar para ver se cresce”, afirma o diretor da Abrovet.
“Na presença de qualquer tecido mais duro, é preciso procurar tratamento o mais rápido possível”, reforça Velengia.
Estágio
Se forem detectadas formações nas mamas, o próximo passo é realizar o estadiamento da doença, ou seja, avaliar em que estágio o tumor se encontra. As principais condutas oncológicas da neoplasia mamária estão totalmente dependentes do diagnóstico histopatológico, que nada mais é do que uma análise microscópica do tecido, o qual nomeará a neoplasia em benigna ou maligna, se é uma doença localizada ou se há focos metastáticos, e se a margem cirúrgica está comprometida.
Isso é realizado por meio de uma avaliação física detalhada, bem como pela realização de exames complementares de imagem (radiografias, ultrassonografia, entre outros) e laboratoriais.
Tratamento
“Sendo os resultados favoráveis e com doença em estágio passível de tratamento, procedemos a cirurgia, que é a primeira linha de tratamento”, explica o diretor da Abrovet.
De acordo com a pesquisadora do A.C. Camargo, “a mastectomia bilateral, ou seja, exérese de todas as glândulas mamárias será a opção em caso de malignidade”. Stéfanie Vanessa dos Santos informa que, além da cirurgia, um protocolo de terapia coadjuvante poderá ser utilizado, como hormonioterapia alvo e quimioterapia dependente do painel de imunofenótipo hormonal, bem como da presença ou não de metástase.
“Tratamentos como quimioterapia e/ou radioterapia, em sua grande maioria das vezes, serão indicados após a cirurgia e na dependência do diagnóstico histológico do tumor, que definirá a agressividade e risco para metástases. Nem todos os casos terão indicação para estes tratamentos”, salienta Ubukata.
Outubro Rosa – mês de conscientização
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Outubro Rosa é o movimento para conscientizar sobre o câncer de mama, criado na década de 1990 pela Fundação Susan G. Komen for the Cure. O nome faz referência à cor do laço usado como símbolo da campanha. Atualmente, a campanha também está sendo expandida para os animais.
A detecção de um nódulo isolado e de pequeno tamanho está diretamente relacionada com um melhor prognóstico e terapêutica oncológica e, portanto, maior sobrevida e bem-estar do oncopaciente e família.
“O contato diário com doses de amor e carinho, aliado à castração e palpação rotineira, adequação de manejo nutricional, ambiental, emocional e sanitário, pode possibilitar a permanência duradoura do pet ao lado de seu tutor”, recomenda a pesquisadora da A.C. Camargo.