Rodovia, que liga Porto Velho a Manaus, corta
‘coração’ da floresta.
Cientista teme que reforma da estrada
prejudique animal recém-descoberto.
Uma nova subespécie de
macaco acaba de ser descoberta no Amazonas e já corre risco. O pequeno
primata, batizado cientificamente como Saguinus fuscicollis mura, foi encontrado entre os rios Madeira e
Purus, justamente sob o traçado da rodovia BR-319, que liga Porto Velho (RO)
a Manaus (AM). A rodovia, que hoje está abandonada e intransitável, tem a
reforma prevista no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). A obra aguarda
apenas a licença do Ibama
para começar, e ambientalistas afirmam que a estrada poderá trazer uma
devastação sem precedentes para a região.
O nome mura, dado pelo ecólogo Fábio Rohe, um dos
autores da descoberta, é uma homenagem aos índios muras, que viviam próximos
ao lugar onde o macaco foi encontrado. A escolha, segundo o cientista, serve
para dar um alerta. “Os mura foram muito prejudicados pelos brancos. De certa
forma, eles representam a resistência da natureza ao mundo civilizado”, conta
o cientista, que trabalha na WCS Brasil (Wildlife Conservation Society) dentro do
Programa Conservation Leadership
Programme (CLP).
Bicho versátil
A descoberta do novo macaco ocorreu em 2007 durante uma expedição de um grupo
de cientistas ligados à rede Geoma. De acordo com Rohe, o bicho é conhecido pelos moradores da região, mas
ninguém sabia que se tratava de uma nova subespécie, já que ele é semelhante a outros macacos amazônicos, todos chamados
genericamente de sauim ou choim.
Depois de comparar cores, medidas e localização de pelo menos 13 parentes
próximos do mamífero, o pesquisador comprovou que o animal era uma variação
da espécie Saguinus fuscicollis,
e a descrição da subespécie foi publicada na revista
científica "International Journal
of Primatology" em
junho deste ano. Além de Rohe, participaram da
descoberta os pesquisadores José de Sousa e Silva Jr, Ricardo Sampaio e Anthony
Rylands.
O novo macaco é pequeno. Tem em média
sobreviver tanto em matas densas quanto em florestas ralas, como as que
margeiam os campos naturais ao longo da BR-319. Ele consegue se alimenta
principalmente de insetos e de frutas.
Estradas, usinas e gasoduto
Não é apenas a reforma da rodovia que gera temor entre os biólogos que
trabalham na Amazônia. A construção das usinas de Jirau e Santo Antônio, no
Rio Madeira, e o projeto do gasoduto Urucu-Porto Velho também assustam os
estudiosos do meio ambiente, que prevêem uma corrida de migrantes para o sul
do Amazonas.
“Não sabemos ainda quais serão as conseqüências da obra [das usinas] para o
curso do Madeira. Além do desmatamento, a obra vai fazer com que mais pessoas
vão morar na região”, alerta o cientista da WCS. “Mas certamente, se não
houver um trabalho de fiscalização sem precedentes no Brasil, a BR-319 será a
veia de destruição da Amazônia central brasileira.“
Nova gralha
Uma espécie de
gralha também foi descoberta recentemente no traçado da BR-319, e corre ainda
mais risco do que o macaco. Como ela consegue viver apenas nos ambientes de
transição entre os campos naturais e a floresta, pode ser muito prejudicada
pelas queimadas que passarão a ocorrer na região.
Fonte: G1, acesso em 08/07/2009