Para o infortúnio das
indústrias frigoríficas, os preços da arroba do boi se mantiveram
relativamente sustentados na safra pecuária, que começou em meados de janeiro
e termina agora em meados de maio, com a entrada da estação seca. Houve
arrefecimento das cotações em alguns mercados, mas não na proporção esperada
e, agora a entressafra deve contar com uma oferta de boi de confinamento 20%
menor que no ano passado. A pressão sobre os preços deve ser potencializada
com a retomada do abate de alguns frigoríficos que estavam paralisados. A
tendência é de mais arrocho nas margens da indústria.
Com custo de produção alto e custo financeiro maior, os frigoríficos devem,
portanto, manter rentabilidade espremida nos próximos meses. O recuo já foi
bem crítico do fim de 2008 para o início deste ano, segundo balanço dos
frigoríficos que têm capital aberto em bolsa de valores. O JBS, por exemplo,
teve sua margem ebitda (antes de juros, impostos,
amortização e depreciação), ou seja, de geração de caixa, reduzida de 6,1% no
terceiro trimestre de 2008 para 2,8% no trimestre seguinte, até bater 2,3%
entre janeiro a março deste ano.
"A oferta de boi foi muito pequena nesta safra. O abate de matrizes está
refletindo em uma recuperação mais lenta do rebanho brasileiro", avalia
Maria Gabriela Tonini, analista da Scot Consultoria. As margens do frigorífico Marfrig (ebitda) também caíram
fortemente. De 18,6% no quarto trimestre para 7,3% no primeiro trimestre
deste ano. Na mesma direção foram as margens do Minerva, que recuaram de 6,3%
para 5,7% no mesmo período.
A arroba do boi em Barretos (SP) – usado como referência para outras regiões
do País –, começou o mês de janeiro em R$ 87 e, só
foi sair do patamar de R$ 80 no início do mês de março. Ainda assim, não
passou de R$ 75 e já em abril, retornou aos patamares de R$ 80. Ontem, fechou
em R$ 81, leve alta de 1,25% no dia, segundo dados da Scot
Consultoria.
Esses preços sustentados na entressafra surpreenderam o mercado, sobretudo
pelo número elevado de frigoríficos paralisados, ou seja, uma menor demanda
pelo boi. "A safra foi muito conturbada. O excedente de fêmeas abatidas
afetou muito o plantel. Houve ainda estiagens que não foram favoráveis para
incrementar a oferta de boi e, em algumas regiões, o pecuarista segurou o
gado para ter preço melhor", avalia Hélio Toledo, diretor-executivo do
Sindicato da Indústria do Frio do Estado de São Paulo (Sindifrio).
Ele acrescenta que os preços dos cortes no mercado estão estanques. "A
margem da indústria, portanto, está arrochada".
No mercado de exportação a rentabilidade também é avaliada como nula.
"Houve alguma recuperação de preços, mas que ficou estacionada. Havia
também expectativa que a arroba caísse, o que não aconteceu. Os custos se
mantiveram, o crédito ficou mais caro. Portanto, frigoríficos estão
empatando", diz Ivanir Rocha,
diretor-presidente da Meat Center.
Agora, explica Ana Gabriela, da Scot, a entressafra
já está começando, e espera-se uma oferta menor de boi de confinamento, que
já tem uma representatividade bem pequena, perto de 6% do que o Brasil abate.
A expectativa é que a oferta de bois confinados seja 20% menor do que no ano
passado, segundo Juan Lebron, diretor-operacional
da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon).
"Faltou bezerros para serem confinados. Acredito que no Brasil o recuo
será de 20% para 2,5 milhões de cabeças", avalia Lebron.
Além da entrada da entressafra bovina, algumas regiões do País estão com
preços em alta por causa da retomada de abates de frigoríficos paralisados. É
o caso de Rolim de Moura, em Rondônia, onde o frigorífico
Independência voltou a abater 500 cabeças por dia. "Neste
município, os preços subiram de R$ 67 para R$ 68 de um dia para outro",
conta Ana Gabriela.
Em algumas praças, como
Mato Grosso
despencarem de R$ 75 para R$ 70 em abril (o pecuarista vende mais rápido na
seca para o boi não perder peso), mas agora em maio já subiu para R$ 73.
"Quando outras plantas paralisadas retomarem os abates, há chances do
preço da arroba subir fortemente", avalia a especialista da Scot Consultoria.
Friboi
Dentro de
sua estratégia agressiva de ganhar espaço no mercado interno, o JBS informou
ontem à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que foi aprovada pelo conselho
da companhia a abertura de uma filial atacadista de carnes (bovina, suína e embutidos) em Manaus, capital do Amazonas.
Fonte: Agrolink,
acesso em 22/05/2009