Profilaxia pré-exposição contra a raiva para médicos-veterinários e zootecnistas se torna ainda mais importante

Diante de escassez de imunobiológicos, pessoas com risco de exposição devem tomar vacina e realizar a sorologia
Texto: Comunicação CRMV-SP
Imagem mostra profissional da saúde segurando uma seringa que está extraindo líquido de um pequeno frasco.
Foto: Freepik

O Ofício Circular Nº 54/2023/SVSA/MS, divulgado pelo Ministério da Saúde, alertou a respeito da escassez de soro antirrábico humano (SAR) e de imunoglobulina humana antirrábica (IGHAR), usados para profilaxia pós-exposição da raiva humana no Brasil. No entanto, médicos-veterinários, zootecnistas e estudantes de ambas as áreas podem realizar profilaxia pré-exposição contra a raiva para não ficarem desprotegidos.

“Há grande vantagem em realizar essa prevenção porque, quando feita corretamente, possibilita que nunca mais seja necessário tomar o soro antirrábico”, explica Wagner da Costa, médico do Instituto Pasteur e especialista em Epidemiologia pelo Centers For Disease Control (CDC), nos Estados Unidos.

O especialista esclarece que a profilaxia pré-exposição é feita com duas doses de vacina e o grande benefício é que além de a pessoa estar protegida, se tiver um acidente e eventualmente precisar se vacinar de novo, não vai precisar do soro. “Para o resto da vida, sempre que essa pessoa tiver um acidente que for indicado algum tipo de profilaxia, ela é feita apenas com a vacina”, destaca.

A raiva não é mais uma doença comum em humanos devido às profilaxias realizadas com vacina (pré-exposição) e soro (pós-exposição). Os imunizantes que estão em falta – soro antirrábico humano (SAR) e imunoglobulina humana antirrábica (IGHAR) – são aplicados após a exposição ao risco de contágio. Para médicos-veterinários, zootecnistas e estudantes, a profilaxia pré-exposição é indicada antes do início das atividades de risco.

Profilaxia pré-exposição

A profilaxia pré-exposição é feita com duas doses de vacina: a segunda é aplicada sete dias depois da primeira. O controle sorológico precisa ser realizado após catorze dias da última dose. Deve ser repetido de acordo com o risco a que o profissional está exposto e com o resultado obtido de anticorpos neutralizantes. Para profissionais que atuam em situações de alto risco, o teste deve ser repetido após seis meses.           

 “Esse é um método preventivo fundamental para quem vai manipular o animal sem ter a certeza se ele tem ou não a doença, pois pode sofrer uma mordedura ou um ataque. Com a prevenção estará protegido”, afirma Márcio Mota, presidente da Comissão Técnica de Clínicos de Pequenos Animais do Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo (CRMV-SP). “O médico-veterinário pode atender esses animais, então essa é a importância da profilaxia pré-exposição”, conclui.

Controle Sorológico
Imagem mostra seringa à frente de três frascos contendo líquido
Foto: Pixabay

Após tomar a vacina, é preciso realizar o controle sorológico. Cada pessoa tem um perfil de resposta. Os que são considerados muito bons respondedores desenvolvem títulos de anticorpos em alta quantidade, por toda a vida. Já os bons respondedores desenvolvem títulos altos, mas depois de algum tempo, geralmente após um ano, eles caem para quantidades que não oferecem proteção.

Aqueles que são classificados como maus respondedores desenvolvem títulos baixos, mas mesmo assim em níveis protetores. Após menos de um ano, geralmente, precisam tomar reforço da vacina. Por fim, os não respondedores não produzem anticorpos. Esses não podem trabalhar em situações de risco.

 “Para profissionais que estão em situação de alto risco, a sorologia deve ser feita pelo menos a cada seis meses. Se o resultado para a quantidade de títulos for menor que 0,5 UI/ml, eles precisam receber uma nova dose de vacina para ativar o sistema imunológico para produzir o vírus”, explica o especialista do Instituto Pasteur.

Exposição ao vírus

É indicada a profilaxia pós-exposição após situações de risco, como mordedura, arranhadura ou lambedura de mucosa por animais transmissores. É necessário lavar o local com água e sabão e procurar um posto de saúde.

O acidente pode ter classificação leve, quando se caracterizar por ferimento superficial ou por lambedura de regiões superficiais; ou grave, se tiver ferimento das mucosas, ferimento profundo, ferimentos múltiplos ou lesões profundas, ou ainda se for ferimento causado por morcego ou por outro mamífero silvestre.

É preciso avaliar também o animal que causou o acidente. Se for um animal passível de observação e não apresentar sinais de raiva; se for um animal passível de observação e com sinais de raiva; ou se for um animal não passível de observação por dez dias. Na primeira situação, que é a mais comum, indica-se observação até o 10º dia.

Profilaxia pós-exposição

Em acidentes leves está indicada a vacina, e para acidentes graves, vacina e SAR ou IGHAR.  No caso dos acidentes causados por morcego e demais mamíferos silvestres, inclusive os domiciliados, que são classificados como graves, em qualquer situação, deve ser aplicada vacina e SAR ou IGHAR. “O tratamento profilático pós-exposição visa que os anticorpos inativem o vírus”, relata Mota.

Em todos esses casos, se houve esquema de pré-exposição completo com pelo menos duas doses da vacina, não é indicado SAR ou IGHAR. A depender da situação, somente a vacina deve ser aplicada em até três dias subsequentes.

No Brasil, o tratamento pós-exposição foi instituído apenas para as pessoas que tiveram um ataque com grandes chances de que o animal tenha raiva. “Na maioria dos casos, é recomendado lavar bastante o local com água e sabão, o uso de antiinflamatório quando necessário e observar o animal”, conclui o presidente da Comissão Técnica de Clínicos de Pequenos Animais.

A raiva

A raiva é uma doença infecciosa viral que atinge os mamíferos, com alto grau de letalidade. A forma mais comum de transmissão é pela saliva de animais doentes como cães, gatos e outros, incluindo morcegos.

Certos profissionais têm risco aumentado de contágio, como médicos-veterinários, zootecnistas, aqueles que lidam com animais infectados (como os que capturam morcegos e os que fazem necropsia), ou que trabalham em laboratório com manuseio de vírus, entre outros. A profilaxia pré-exposição é indicada para todos esses casos.

Nos ciclos de transmissão urbana, cães e gatos são os principais transmissores quando têm algum contato com morcegos doentes. Caso isso ocorra, é importante procurar o médico-veterinário. Já no ciclo rural, participam animais de produção (bovinos e equinos, entre outros). No ciclo silvestre-aéreo, há o envolvimento de morcegos. E no ciclo silvestre-terrestre, mamíferos silvestres.

Identificação e controle da doença

“O médico-veterinário é o profissional responsável por avaliar animais com sintomas neurológicos, suspeitos de raiva. Se houver morte ou necessidade de eutanásia, o material deve ser encaminhado para laboratórios de referência para diagnóstico. Se o resultado der positivo, o médico-veterinário vai dar as orientações sobre como proceder”, relata Adriana Maria Lopes Vieira, presidente da Comissão Técnica de Saúde Pública Veterinária do CRMV-SP.

Dependendo do caso, se for cão ou gato com resultado positivo, há uma estratégia de vacinação para bloqueio de foco. “É o médico-veterinário que vai coordenar essa ação”, conclui Adriana a respeito da importância do profissional para o controle dessa doença.

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