Para quem teve gato desde criança, passar sete
anos sem nenhum é uma longa espera. Mas o comunicólogo Carlos Knapp, 80, morava em apartamento e aguardava o momento de
voltar a viver em uma casa para adotar um animal. “Sempre achei uma
judiação ter bicho dentro de apartamento.”
Conseguiu se mudar do prédio para uma casa com
quintal, no Sumaré, e resolveu, no final do ano passado, procurar um gato para
adoção. No primeiro contato que fez com uma entidade, no entanto, ficou
perplexo ao descobrir que, se ainda estivesse morando em um apartamento, seria Knapp havia ido atrás da ONG Adote um Gatinho, indicada a
sua mulher por um pet shop. As sócias-fundadoras,
Juliana Bussab e Susan Yamamoto, são algumas dos
muitos protetores de animais de São Paulo que cansaram de resgatar bicho
maltratado, doente ou acidentado. E por isso impõem normas rígidas para a
doação.
Não que achassem que Carlos Knapp fosse maltratar seu animal, mas a regra número um da
ONG é um lar seguro para o bicho. O temor é de que o animal adotado volte para
as ruas e seja atropelado, envenenado ou coisas do tipo.
Knapp não passou pelo crivo das ongueiras,
que exigem muros altos, portão com tela e obstáculos que impeçam o animal de
chegar à casa do vizinho, por exemplo. Elas acharam que a casa dele não tinha a
segurança necessária.
“Quando vieram aqui em casa, não passaram
do jardim da frente. Balançaram a cabeça negativamente”, afirma Knapp. Em janeiro, depois da negativa, ele conseguiu dois
gatos de uma ninhada na vizinhança. “Eu queria ter a vida que têm os meus
bichos nesta casa. A natureza do gato é essa mesma. Não dá para controlar. Eles
fogem e depois voltam.”
Juliana Bussab, 33,
explica as razões do veto ao casal, quando há excesso de bichos esperando quem
os adote. “Eu também gostaria de morar numa casa linda, espaçosa, com
jardim, que meus vizinhos fossem todos do bem. Mas a realidade é outra. Tem
gente que joga veneno de uma casa para a outra”, rebate.
Não é só isso, conta ela. Outra regra para
doação da ONG é verificar, em um apartamento, se todas as janelas têm tela,
inclusive nos basculantes. E não adianta dizer que aquela que não tem tela fica
sempre fechada, argumenta Juliana. “Eu tenho uma gata paralítica, que anda
arrastando as duas patas traseiras. Está assim porque caiu do sétimo andar do
apartamento do ex-dono.”
Seleção rigorosa
Tantos riscos fazem os protetores criarem um
rigoroso processo seletivo, muito diferente de feiras e centros de adoção onde
um animal pode ser levado por R$
A
gatos e cachorros há dez anos, não só envia antes um questionário como depois
acompanha os primeiros meses da adoção. Faz uma visita um mês após entregar o
animal, depois telefona regularmente por um tempo e só então se distancia.
Valéria é do time dos que fazem o novo dono
assinar um termo se comprometendo a não passar o bicho adiante, caso não o
queira mais. “A qualquer momento, é só me ligar que eu vou buscar o
animal.”
A médica Patrícia Cancellara,
do grupo PitCão,
especializado em pit bulls,
conta como é importante conhecer antes a casa e quem mora com o adotante.
“Vamos para saber a opinião dos familiares, se todos estão cientes da
adoção, dos cuidados e dos deveres que terão com o animal.”
Os cuidados não são um exagero, dizem os
protetores, já que os animais encontrados já sofreram bastante. “Precisamos
ter muito cuidado ao doar um animal que foi abandonado, para que ele não venha
a sofrer novamente”, diz a médica.
Ela conta que uma vez encontrou um doberman caquético na rua. “Era cão de segurança, mas
estava velho. Então, jogaram-no fora. Literalmente. Como se fosse lixo. Se me
pedem cachorro para fazer segurança, não dou”, afirma Valéria. Para doar
um cachorro grande e rápido, como um pit bull, por exemplo, ela exige que a
casa tenha um portão de contenção antes do portão da garagem.
Tratar bicho maltratado custa caro. No
processo de reabilitação, os animais são levados ao veterinário, onde são
castrados e vacinados. “Gasto R$ 300 por mês só com fisioterapia,
acupuntura e fraldas para minha gata paralítica”, conta Juliana Bussab.
Regras inflexíveis
Por isso, tela de proteção nas janelas de lar
que tem gato é obrigatória, dizem as protetoras. Há quem se adapte sem
reclamar. O professor Luís Faria e Silva, 43, já tinha tela em seu apartamento
quando procurou a Adote um Gatinho. Na visita prévia das voluntárias, em
janeiro, ele descobriu que aquela não era a tela adequada, porque o buraco era
grande o suficiente para passar um gato.
“Na hora eu refleti se ia valer a pena trocar. Achei que poderia parecer excessivo. Mas é um
cuidado. Não me pareceu absurdo.” Mandou trocar a tela e hoje vive com
dois gatos da mesma ninhada, doados pela ONG.
O mesmo não ocorreu com o industriário Rogério
Bueno dos Santos, 41. No início do ano, ele quase procurou a Adote um Gatinho,
mas leu antes as regras no site e desistiu. Pouco tempo depois, achou uma gata
na rua e hoje possui três. “Não sou contra as exigências delas, mas acho
que poderiam ser mais flexíveis. Às vezes, por causa de um item exigido e não
cumprido, a pessoa acaba ficando sem o gato. Por isso, nem as procurei.”
Juliana acha justo. “Do mesmo jeito que a
pessoa tem o direito de procurar um animal em qualquer lugar para adotar, eu
tenho o direito de negar.”
Cuidados para adotar um…
… gato
– Todas as janelas do apartamento devem ter
tela, inclusive as basculantes
– Em casa, as janelas que dão para a rua precisam ter tela e deve haver
obstáculo para o gato não chegar à casa do vizinho
– Os muros da casa devem ser de no mínimo três metros,
sem apoio próximo
– Portão com espaço grande entre as barras também deve ser telado
… cachorro
– Se o cão é grande e ágil, é necessário haver
um portão de contenção antes do portão da garagam da
casa
– A casinha do cachorro deve ser coberta, para ficar protegida da chuva
Fonte: FolhaonLine 11/08/2009
– 14h11