O luto pela perda de um animal de estimação é um tema ainda pouco discutido, especialmente no campo da Medicina Veterinária, onde o cuidado se estende não apenas aos animais, mas também aos seus responsáveis e aos profissionais que os acompanham. Foi para preencher essa lacuna que as psicólogas Juliana Sato e Louisanne Sanchez lançaram o livro “Luto Pet no Contexto da Medicina Veterinária”, publicado pela Editora Lucto.
O lançamento, realizado no dia 3 de outubro, na Casa Hario, em São Paulo, reuniu profissionais do setor e contou com a presença da diretoria do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), representada pela presidente Daniela Pontes Chiebao e pela vice-presidente, Carolina Filippos.
“O livro coloca em pauta um tema essencial para a Medicina Veterinária: a saúde mental e o acolhimento emocional de profissionais e dos responsáveis pelos animais. Reconhecer e cuidar do luto no universo pet fortalece a prática ética, a humanização do cuidado e a sustentabilidade da profissão”, disse a presidente do CRMV-SP.
A obra, bilíngue (português e inglês), reúne 21 capítulos assinados por profissionais de diferentes áreas e propõe caminhos de acolhimento e redes de apoio entre médicos-veterinários e sociedade.
Dor silenciosa
O cotidiano de médicos-veterinários é marcado por emoções intensas. Comunicar más notícias, acompanhar tratamentos terminais e lidar com o sofrimento dos responsáveis pelos animais são experiências que exigem não apenas preparo técnico, mas também resiliência emocional.
“Um dos principais desafios é lidar diariamente com a dor do outro, muitas vezes sem espaço para elaborar a própria dor”, explica Juliana Sato, coautora da obra e psicóloga especializada em saúde mental de profissionais do segmento pet vet. Segundo ela, a compaixão que move esses profissionais pode se transformar em desgaste e fadiga emocional quando não há suporte adequado.
Juliana defende que o acolhimento deve ser incorporado de forma prática ao cotidiano de clínicas e hospitais veterinários, por meio de escuta qualificada, capacitação em comunicação compassiva e espaços de troca entre as equipes. “Reconhecer o impacto emocional do dia a dia clínico é um passo fundamental para que os profissionais possam sustentar seu trabalho de forma saudável”, afirma.
Cuidar do luto é cuidar da profissão
Para as autoras, discutir o luto no contexto da Medicina Veterinária também é um ato de reconhecimento à classe. “Os médicos-veterinários sustentam o sofrimento dos outros com empatia e dignidade, mas muitas vezes não encontram espaço para cuidar de si mesmos”, reflete Juliana Sato.
Entre as medidas propostas no livro estão a inclusão do tema do luto e do manejo emocional na formação médica-veterinária, a criação de protocolos institucionais de acolhimento e programas de bem-estar organizacional. Além disso, campanhas educativas voltadas aos responsáveis pelos animais podem ajudar a compreender melhor o envelhecimento e o fim da vida dos pets, reduzindo pressões e ampliando o diálogo com as equipes.
“A relação humano-animal envolve amor, vínculo e, inevitavelmente, despedidas”, ressalta Juliana. Para ela, investir em práticas de acolhimento não é apenas um diferencial, mas uma estratégia de sustentabilidade emocional e ética para todo o setor.