Quase a metade dos animais ameaçados de desaparecer no Cerrado tem registro nas unidades federais de conservação localizadas nesse bioma. Ou seja, de 137 deles, 65 (48%) estão nessas reservas. Isso leva a crer que quanto mais áreas assim existirem, melhor para a preservação do meio ambiente.
“Os dados evidenciam a necessidade de se ampliar e consolidar o sistema nacional de unidades de conservação e as pesquisas científicas associadas, especialmente em biomas extremamente ameaçados como o Cerrado. Ele já perdeu metade da vegetação original e tem menos de 3% da área efetivamente protegida. Ainda assim, é um grande fornecedor de água e outros serviços ambientais ao País”, ressalta o coordenador do Programa Cerrado-Pantanal do WWF-Brasil, Michael Becker.
Segundo ele, pela alta fragmentação do que resta da vegetação, políticas públicas de conservação devem agir para a formação de corredores ecológicos associada ao posicionamento em bloco de reservas legais, formando paisagens sustentáveis.
Os parques nacionais das Emas e da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, e da Serra da Canastra, em Minas Gerais, por exemplo, se destacam por abrigar muitas espécies em perigo, como o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), a águia-cinzenta (Harpyhaliaetus coronatus), o pato-mergulhão (Mergus octosetaceus), o tatu-canastra (Priodontes maximus), o cachorro-do-mato-vinagre (Speothos venaticus), a onça-pintada (Panthera onça), e o cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus), entre outros.
Dados oficiais também mostram que metade das 618 espécies brasileiras da chamada “lista vermelha” foi registrada em 198 parques nacionais e outras unidades de conservação (UCs) mantidas pelo governo federal. Enquanto mamíferos e aves somam oito em cada dez registros, invertebrados e peixes são os grupos menos apontados.
Nove espécies, de uma lista de 627 animais em perigo, já são consideradas extintas na natureza. Teriam sumido do mapa a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), a arara-azul-pequena (Anodorhynchus glaucus), o mutum-do-nordeste (Mitu mitu), o maçarico-esquimó (Numenius borealis), o michocuçu (Rhinodrilus fafner) e um tipo de libélula (Acanthagrion taxaense), bem como uma perereca (Phrynomedusa fimbriata) e uma formiga (Simopelta mínima) sem nome comum.
Olhando para o Brasil, as dez unidades de conservação com maior registro de espécies ameaçadas estão em sua maioria na Mata Atlântica, onde também estão as maiores áreas desmatadas e número de animais em perigo. No bioma, as ocorrências se deram em maior quantidade na Reserva Biológica de Sooretama (ES), com 33 espécies, seguida pela Estação Ecológica de Murici (AL) e pelo Parque Nacional da Serra dos Órgãos (RJ).
Dos 43 animais ameaçados da Caatinga, 41 foram registrados em unidades como os parques nacionais Cavernas do Peruaçu (MG), da Chapada Diamantina (BA) e da Serra da Capivara (PI). No Pantanal, espécies em perigo sobrevivem no Parque Nacional do Pantanal Matogrossense e na Estação Ecológica de Taiamã, ambos no Mato Grosso.
No bioma Marinho/Costeiro, há 26 espécies ameaçadas na Reserva Biológica Marinha do Arvoredo (SC) e 24 no Parque Nacional Marinho de Abrolhos (BA). Na Amazônia, ocorrem 32 espécies ameaçadas em unidades federais. O Pampa tem 60 animais na “lista vermelha” e apenas duas unidades federais de conservação. Numa delas, na Área de Relevante Interesse Ecológico Pontal dos Latinos e Pontal do Santiago, foi avistada a toninha (Pontoporia blainvillei), um pequeno golfinho.
Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), oito em cada dez espécies em perigo foram registradas em reservas biológicas, parques nacionais e outras unidades de proteção integral, aquelas onde a terra pertence ao governo e não se permite a presença humana permanente.
O Brasil tem hoje 310 unidades federais de conservação, somando 75 milhões de hectares, ou quase 9% do território nacional. Elas variam de 25 hectares, no caso da Área de Relevante Interesse Ecológico Mata de Santa Genebra (SP), a 3,87 milhões de hectares, no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (AP).
Fonte: EPTV (acessado em 18/04/2011)