Os recentes
acontecimentos envolvendo a cadeia de produção da carne, como o embargo das
redes de varejo aos produtos vindos de áreas de desmatamento, colocaram o
tema do rastreamento de alimentos na ordem do dia. Agora, uma nova tendência
que surge é de que os sistemas de verificação de origem sejam ampliados para
outras cadeias produtivas, como de frutas, legumes, pescados e frutos do mar.
A adoção de sistemas de rastreabilidade pode ser
uma ferramenta para aumentar os ganhos de pequenos produtores e estimular
iniciativas de comércio justo.
É o que aponta O Livro Verde de Rastreamento, obra de autoria do engenheiro
Thomas Eckschmidt, lançada este mês pela Varela
Editora. Eckschmidt é sócio da
Pari Passu Aplicativos, empresa que
desenvolveu um software de rastreamento voltado especialmente para pequenos
produtores e cooperativas agrícolas.
Ex-executivo da área de finanças, Eckschmidt passou
15 anos viajando por mais de 20 países, ajudando empresas a fazerem gestão de
fluxo de caixa. Viu o impacto que embargos comerciais causados por eventos
como a doença da vaca louca, no início da década, causaram nos negócios de
pequenos produtores rurais. "Muitos quebraram porque não tinham acesso a
informações sobre novas barreiras comerciais e sanitárias, em um mercado que
já vinha se globalizando", diz.
Hoje, segundo Eckschmidt, as demandas sobre os
produtores de alimentos estão crescendo. "Além de qualidade e segurança,
os produtores estão sendo questionados sobre os aspectos socioambientais da
produção: se envolveu trabalho infantil ou escravo, ou danos ao ambiente."
O desafio é convencer os produtores de que o investimento em rastreabilidade pode trazer ganhos de mercado.
"O consumidor brasileiro ainda não exige essa
informação, como o europeu. Mas a velocidade com que as notícias circulam nas
redes sociais já faz com que um novo perfil de consumidor, mais consciente,
seja moldado."
Grandes redes varejistas já estão apostando na tendência. É o caso do Pão de
Açúcar, que investiu R$ 3 milhões na rastreabilidade
dos fornecedores de hortifrúti. O
Wal-Mart concentrou esforços na rastreabilidade
da cadeia da carne e manteve o embargo aos frigoríficos do Pará. "Só
vamos comprar carne da região quando os frigoríficos apresentarem um sistema
de rastreamento que seja confiável", diz Daniela de Fiori, gerente de
sustentabilidade do Wal-Mart.
Fonte: Estado de S. Paulo, 22/07/2009