Registro genealógico garante a evolução da raça e produtividade

Área é promissora para os zootecnistas, mas mercado ainda é pouco explorado pelos profissionais
Texto: Comunicação CRMV-SP / Foto: Freepik

O registro genealógico animal, ferramenta fundamental para o melhoramento genético, tem se consolidado como peça-chave para o avanço da produtividade no agronegócio brasileiro. Por meio de cruzamentos controlados e dados zootécnicos precisos, o sistema contribui diretamente para a evolução de raças e o aumento da eficiência produtiva no campo.

“A escrituração zootécnica, feita por profissional capacitado e comprometido, é o caminho mais seguro e eficaz para garantir dados confiáveis nas propriedades e, consequentemente, promover o melhoramento genético com impactos positivos em toda a cadeia produtiva”, afirma a zootecnista Mônica Campos Junqueira, com mais de 35 anos de atuação na área, incluindo a experiência como superintendente técnica da Associação Brasileira de Criadores de Bonsmara (ABCB).

Segundo Mônica, o registro genealógico é a forma mais segura de comprovar a genética incorporada a cada animal, garantindo não apenas a evolução das raças, como também fortalecendo os cruzamentos industriais. Ela destaca, ainda, que o avanço da genética brasileira em raças como Nelore, Gir e Girolando já vem gerando frutos concretos, como o aumento das exportações de animais, sêmen e embriões, movimentando divisas e elevando o Brasil a um patamar de destaque internacional no setor.

A tecnologia, como em outras áreas do conhecimento, tem desempenhado um papel cada vez mais relevante nesse processo. O Serviço de Registro Genealógico (SRG) das associações de raça evoluiu significativamente com a digitalização de processos e, em breve, deve incorporar ferramentas de Inteligência Artificial. “A tecnologia tem avançado rapidamente e já transformou o SRG. Acredito que a IA será um reforço importante, mas sempre será essencial contar com um bom zootecnista para garantir que essas ferramentas sejam utilizadas com eficiência e responsabilidade”, ressalta.

Com mais de 35 anos de experiência na área, Mônica lembra que a evolução tecnológica no setor começou há décadas, com técnicas como inseminação artificial, sincronização de cio, fecundação assistida, superovulação, coleta e transferência de embriões, além da confirmação de paternidade e, mais recentemente, o uso da avaliação genômica, que elevou ainda mais o nível de confiabilidade dos programas de melhoramento genético.

Área promissora

Apesar de ser uma área promissora, o registro genealógico ainda atrai poucos zootecnistas. A zootecnista Kátia Oliveira, presidente da Comissão Técnica de Zootecnia e Ensino do CRMV-SP, destaca que o trabalho do profissional é essencial para garantir a qualidade genética dos animais. “O registro comprova o potencial do animal para transmitir características desejáveis aos descendentes, agrega valor comercial e permite o rastreamento da linhagem genética”, afirma.

Kátia ressalta que o zootecnista atua como um supervisor da origem e da qualidade dos animais produzidos no país, validando se cumprem os padrões da raça — o que é decisivo tanto na comercialização quanto nos resultados produtivos, como ganho de peso em bovinos ou desempenho esportivo em equinos.

A zootecnista Mônica Junqueira reforça a importância dessa atuação, destacando o domínio técnico do profissional na coleta e análise de dados zootécnicos. “O zootecnista identifica animais de alto potencial genético, seleciona os melhores exemplares, evita cruzamentos consanguíneos e assegura dados confiáveis para programas de melhoramento genético”, conclui.

Mercado pouco explorado

Com ampla experiência na área de equinos, a zootecnista Kátia Oliveira, presidente da Comissão Técnica de Zootecnia e Ensino do Regional, observa uma carência de profissionais qualificados para atuar com registro genealógico, especialmente diante do crescimento expressivo do mercado de cavalos atletas. “O número de concursos hípicos tem batido recordes de inscrições, e a reprodução de cavalos está em alta, pois o mercado está absorvendo esses animais. Precisamos de mais zootecnistas atuando nessa área, com base nas normas das associações de raça. Um cavalo registrado, independentemente da raça ou da modalidade esportiva, possui valor comercial muito superior àquele sem filiação comprovada. É um trabalho fundamental, não apenas para o comércio de equinos, mas para a produção animal como um todo”, destaca.

A zootecnista Mônica Junqueira concorda e ressalta que, apesar da presença de profissionais competentes atuando nas associações, ainda há escassez de mão de obra especializada. “O trabalho no Serviço de Registro Genealógico (SRG) é técnico e cheio de particularidades, que só se aprendem com a prática. Por isso, recomendo que graduandos ou recém-formados interessados na área busquem estágios em diferentes associações de raça. Todos os SRGs seguem a coordenação do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), mas cada associação tem suas especificidades.”

Mônica também enfatiza a importância da atualização constante. “O zootecnista precisa estar sempre em processo de aprendizado, principalmente no que diz respeito às novas tecnologias que podem aumentar a eficiência, a produtividade e a sustentabilidade das propriedades com rebanhos registrados.”

Lacuna na graduação

Atualmente, a realidade é que os cursos de graduação em Zootecnia não têm incentivado os graduandos a optarem por essa área que pode ser considerada um dos alicerces para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro. “Infelizmente, essa realidade persiste nas universidades. A área foi mais requisitada nos anos 1990, mas com o surgimento de novas frentes de atuação para os zootecnistas, acabou sendo negligenciada. No entanto, nós, zootecnistas, temos trabalhado para tornar essa área mais atraente e corrigir essa situação”, afirma Kátia Oliveira, presidente da Comissão de Zootecnia e Ensino do CRMV-SP.

Mônica Junqueira, que se apaixonou pelo SRG desde seu primeiro contato, acredita que é necessário um movimento conjunto envolvendo universidades, o Ministério da Agricultura (Mapa), o Ministério da Educação (MEC) e o Sistema CFMV-CRMVs. “Acredito que essa colaboração poderia destacar a importância do SRG e, quem sabe, tornar essa área uma disciplina obrigatória ou optativa nos cursos de Zootecnia em todo o Brasil”, conclui Mônica.

Papel do zootecnista nas etapas do registro genealógico:

– Identificar animais com alto potencial genético;

– Controlar a consanguinidade;

– Fornecer dados para pesquisas;

– Contribuir para uma produção pecuária mais eficiente;

– Verificar se o animal atende aos padrões de raça;

– Coletar material para exames de DNA.

Para obter o registro genealógico, o criador deve:

– Ser afiliado à associação de raça dos animais que cria na propriedade;

– Ter e manter as anotações corretas referentes à escrituração zootécnica de seus animais e enviar ao Serviço de Registro Genealógico da Associação (SRG);

– Ter todas as ocorrências do rebanho – cobertura, nascimento, inspeções, venda, morte e animais da propriedade que tenham registro da raça –, de forma que contemple todas as cláusulas e prazos e que atenda ao regulamento do SRG da associação a qual pertence.

Atenção: todos os regulamentos de registro genealógico de qualquer espécie animal, só podem ser executados após a aprovação do órgão regulador que é o Mapa.

Vantagens de ter o registro genealógico do rebanho:

– Identificação correta dos animais, podendo assim comprovar sua genealogia e demonstrar as vantagens da genética da propriedade;

– Possibilita selecionar os animais com maior potencial genético, levando assim à evolução do rebanho;

– Permite ter controle dos acasalamentos mais eficientes, evitando consanguinidade que poderá comprometer a saúde e produtividade do rebanho;

– Os animais com registro genealógico possuem maior valor no mercado e maior liquidez quando no momento da comercialização;

– A escrituração zootécnica bem-feita contendo dados confiáveis é fundamental para pesquisas, avaliação de desempenho\produtividade, e estudos científicos;

– Um rebanho com animais registrados demonstra maior confiabilidade e eficiência da criação;

– Se o criador quiser participar de feiras, exposições agropecuárias e eventos afins para divulgação ou comercialização de seus animais, o registro genealógico é documento obrigatório para participar desses tipos de eventos;

– Se o criador tiver necessidade de um financiamento bancário, dependendo das normas da instituição, possuir gado com registro genealógico poderá facilitar na obtenção dos recursos pretendidos;

– Quando ocorrer comercialização interestadual dos animais, poderá haver isenção do pagamento de impostos (ICMS).

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