Enfim, a pecuária brasileira parece curvar-se à evidência manifestada pelo mercado doméstico e internacional há anos: não há mais lugar para a carne bovina de procedência duvidosa. Incapaz de livrar-se da acusação de ser o principal motor do desmatamento na Amazônia, o setor – liderado por seu segmento mais dinâmico, o exportador – promete um esquema para rastrear 30% do rebanho do país.
É crucial, para a credibilidade do produtor e para a confiança do consumidor, a capacidade de identificar, em qualquer ponto, todas as fazendas e instalações de processamento por trás de cada quilo de carne, por exemplo, com chips implantados contendo os dados do animal. A chamada rastreabilidade é precondição para a fiscalização sanitária e ambiental.
Não é de hoje que produtores, frigoríficos e o governo devem aos compradores um sistema de rastreamento decente. A promessa descumprida vem, pelo menos, desde a crise da febre aftosa, que fechou vários mercados à carne brasileira, como o embargo russo, de 2005 a 2007.
A associação entre pecuária e desmate tem fundamento. De 1996 a 2006, pereceram 209 mil km² de floresta amazônica, um território maior que o do Estado do Paraná. No mesmo período, o rebanho da Amazônia Legal cresceu 97%, muito acima do desempenho médio do país (10%).
Parte do setor agropecuário se recusa a enxergar o vínculo, refugiando-se na cômoda e pouco crível acusação de que se trata de um complô contra a pujança do produtor nacional. Se é óbvio que as suspeitas funcionam como barreira não tarifária à carne brasileira, ou que ONGs carregam nas tintas de suas denúncias, o melhor antídoto contra elas está em propiciar informação precisa e confiável, mostrando em quais casos as acusações são infundadas.
Preocupa, na promessa dos exportadores de rastrear 30% do rebanho, o prazo anunciado: três a quatro anos. O setor já consegue ver a onda montante no mercado consumidor, mas precisa andar mais depressa que ela.
Fonte: Site UAI (acessado em 19/07/10)