Sim, a Medicina Veterinária também cuida da sua saúde

Ao manter os cuidados com o rebanho na produção primária, fornecer matéria-prima de qualidade para a indústria de alimentação e controlar doenças, o médico-veterinário está preservando o bem-estar animal, ambiental e, consequentemente, a saúde humana

O médico patologista alemão Rudolf Virchow (1821-1902) foi um dos primeiros estudiosos a dizer que entre animais e medicina humana não há divisórias. Mais tarde, nos anos 60, o médico-veterinário norte-americano Calvin Schwabe (1927-2006) reforçou a teoria e ainda desenvolveu o conceito que passaria a ser conhecido como Saúde Única (One Health), união entre as saúdes animal, humana e ambiental.

Apesar de a expressão ser recente, seu embasamento é antigo. Segundo Schwabe, os primeiros registros de atividade em saúde pública dentro da Medicina Veterinária teve como alicerce a higiene de alimentos, no final do século XIX e início do século XX. A partir desta base é que alguns poucos médicos-veterinários passaram a assumir posições administrativas em programas de saúde em vários países. Essa participação durou até a Segunda Guerra Mundial. Em 1946, o termo Saúde Pública Veterinária foi utilizado oficialmente pela primeira vez durante encontro da Organização Mundial da Saúde (OMS). Somente em 2007, na Conferência Ministerial Internacional sobre Influenza Aviária e Pandêmica, realizada em Nova Deli, na Índia, é que os governos foram encorajados a aplicar efetivamente o conceito de Saúde Única, construindo pontes de ligação com o objetivo de reduzir o número de doenças infecciosas resultantes da interface entre animais, humanos e ecossistemas.

O fluxo de pessoas pelo mundo a negócios ou turismo, além da comercialização de produtos, permitiu que agentes causadores de doenças rompessem as barreiras de proteção territorial e se estabelecessem onde antes não existiam. Doenças transmissíveis causadas por , vírus, bactérias e parasitas encontraram neste cenário a oportunidade de se difundirem. “A formação em Medicina veterinária permite que o profissional desempenhe muitos papéis na saúde pública, como controle e prevenção de zoonoses e de animais peçonhentos e inspeção de alimentos de origem animal. É possível também atuar em atividades que são mais comuns aos médicos e a outros membros da equipe de saúde pública, como epidemiologia, serviços de laboratório, produção e controle de produtos biológicos, avaliação e controle de medicamentos, pesquisa e saneamento ambiental em geral”, explica a médica-veterinária Valéria Gentil de Tommaso, membro efetivo da Comissão de Políticas Públicas do CRMV-SP.

As zoonoses estão entre as atividades de saúde pública mais contempladas pela Medicina Veterinária, uma vez que causam importantes fatores de morbidade e pobreza, por meio de infecções agudas e crônicas causadas aos seres humanos, e pelas perdas econômicas ocasionadas na produção animal. “A domesticação dos animais e a aglomeração de pessoas para constituir as cidades deram origem ao estreito contato humano, animal e ambiental. Este último é componente fundamental para estabelecer o elo entre o agente infeccioso que acomete o animal e o indivíduo”, afirma a médica-veterinária Margareth Elide Genovez, presidente da Comissão de Saúde Animal do CRMV-SP e criadora da Série Zoonoses, amplamente divulgada pelos canais de comunicação do Conselho.

Segundo a OMS, 60% das doenças infecciosas humanas têm sua origem em animais, como é o caso da leptospirose, raiva, dengue, doença de chagas, hantavirose, teníase, cisticercose, entre outras. Ao longo das últimas três décadas, 75% das novas doenças emergentes em humanos foram zoonoses. Margareth explica que a abundância de alimentos nas cidades gerou o acúmulo de resíduos e lixo, que por sua vez, trouxeram a migração e o aumento populacional desenfreado de espécies invasoras e sinantrópicas, portadoras dos mais variados agentes de doenças. “Acrescente-se a isso, o fato de que na atualidade, a humanização dos animais de companhia, permitiu a proximidade dos seres humanos com as doenças de cães, gatos, aves silvestres, entre outros”, conta.

No Estado de São Paulo, alguns casos recentes chamaram a atenção, como a confirmação de mais de 72 casos positivos de Leishmaniose Visceral Canina (LVC) na cidade de Presidente Prudente, e mais de 100 em Tupã, ambas no interior. Em 2016, foram registrados 3.626 casos em humanos no País, sendo 119 em São Paulo, com 275 e 11 óbitos, respectivamente. A prevenção e a eliminação desse tipo de enfermidade no homem depende, em grande parte, das medidas adotadas contra essas doenças nos animais. “Protegê-los das enfermidades certamente eleva a qualidade da saúde da população humana. Este é o foco atual da Medicina Veterinária em todas as suas áreas de atuação”, afirma Margareth.

A situação de animais de rua também representa um problema de saúde pública. A “superlotação” de animais soltos pode propagar doenças graves, como a raiva. De acordo com a OMS, mais de 50 mil pessoas morrem todos os anos vítimas da doença no mundo, principalmente em países da Ásia e África, onde se concentram 95% dos casos de óbitos. “A falta de responsabilidade da população em manter seus animais dentro dos limites domiciliares, com práticas adequadas de saúde e bem-estar , faz com que milhões de animais sejam negligenciados, mantidos em condições precárias ou abandonados, criando assim um ambiente favorável para a ocorrência de enfermidades, sejam elas físicas ou comportamentais”, explica a médica-veterinária Vânia de Fátima Plaza Nunes, presidente da Comissão de Médicos-Veterinários de ONG’s do CRMV-SP.

Reconhecidamente, as organizações não-governamentais são hoje as grandes parceiras na minimização dos problemas de abandono e suas consequências, pois abrigam e cuidam de animais de forma voluntária, na maioria das vezes, sem qualquer auxílio. “Essas entidades precisam estar envolvidas na adoção de medidas de prevenção e controle de doenças, pois são agentes importantes da saúde coletiva. Sem esses parceiros, que possuem uma ligação constante com médicos-veterinários, que são os profissionais com formação e conhecimento para auxiliar no controle de diferentes enfermidades, não teríamos chance de agir correta e eficazmente e obter os resultados esperados”, enfatiza Vânia.

O médico-veterinário também está capacitado para planejar e executar medidas de prevenção e controle de enfermidades como as arboviroses, que incluem o vírus da febre amarela, dengue, zika e chikungunya. “Essas doenças têm origens multifatoriais, não estão ligadas a uma ou outra exclusivamente, mas sim a diversos agentes que se relacionam. Assim, as arboviroses inserem o médico-veterinário na saúde ambiental, já que o vetor está ligado a esse universo”, explica a médica-veterinária e docente do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animal da Unesp Jaboticabal, Dra. Karina Paes Bürger.

São muitas as preocupações referentes à saúde ambiental que fazem parte das atividades desenvolvidas pelo médico-veterinário, visto que as mudanças que ocorrem nos diversos ecossistemas do planeta têm os primeiros efeitos negativos observados nos animais, sejam eles domésticos ou silvestres. “A poluição do ar e da água comprometem a disponibilidade de alimentos, plantas, frutos e outras fontes nutricionais, e provocam doenças respiratórias e carências metabólicas nos animais. Por essa razão, o médico-veterinário tem um papel preponderante no monitoramento das doenças ocorridas no meio ambiente, na saúde e no comportamento da vida, pois é capaz de identificar fatores de risco e agir de modo preventivo na redução e controle desses fatores, o que lhe confere a liderança nessa área”, enfatiza a médica-veterinária Elma Pereira dos Santos Polegato, presidente da Comissão de Saúde Ambiental do CRMV-SP.

Controle de zoonoses

Os Centros de Controle de Zoonoses (CCZs) são órgãos governamentais que visam garantir o bem-estar de animais e da população por meio do controle de zoonoses, prevenção de epidemias e controle de vetores. Embora nem todo mundo saiba como funcionam ou qual seja exatamente o trabalho realizado por estas unidades de saúde, muitos se sentem mais familiarizados com o tema quando se fala em “carrocinhas” ou mutirões de castração.

Contudo, o trabalho realizado pelos CCZs vai além. Eles oferecem treinamentos, cursos e treinamentos específicos para os profissionais da área, além de esclarecer dúvidas e ajudar na educação do público em geral para que sejam efetuadadas as ações de controle das populações de animais domésticos e sinantrópicos, como morcegos, pombos, ratos, abelhas, mosquitos, entre outros.

Dentre as ações de maior destaque do CCZ de São Paulo está o Programa Permanente de Controle Reprodutivo de Cães e Gatos, por meio da realização de mutirões de castração, e vacinação contra raiva animal. Em 2016, foram notificados no Brasil 448 casos de raiva, a maioria em bovinos e morcegos. Somente neste ano, 93 casos já foram constatados em animais, sendo 18 na Capital. Atualmente, 68 médicos-veterinários atuam no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de São Paulo.

Para proteger os rebanhos da raiva, a Coordenadoria de Defesa Agropecuária da Secretaria de Agricultura e Abastecimento mantêm o Programa Estadual de Controle da Raiva dos Herbívoros (PECRH), que atua no controle dos transmissores por meio de vacinação e do trânsito de animais. “Desenvolvemos um sistema eficaz de vigilância epidemiológica e estimulamos a participação comunitária na defesa sanitária. Nosso objetivo é diminuir o agravo à produção pecuária e preservar a saúde pública”, explica o médico-veterinário Paulo Antonio Fadil, coordenador na Defesa Agropecuária e responsável pelo Programa.

Sempre que há uma suspeita ou diagnóstico positivo para raiva animal, uma equipe de controle é mobilizada para realizar a fiscalização no local do foco e do perifoco, que é a região delimitada de 15 a 20 quilômetros da ocorrência, e feita a comunicação ao órgão de Saúde para prestar atendimento às famílias. “Se houver necessidade, realizamos a captura e, em seguida, aplicamos a pasta vampiricida no dorso do animal. Ele será tratado e, posteriormente, solto para retornar às suas colônias. Como os morcegos têm o hábito de lamberem uns aos outros, eles contaminam outros da espécie, reduzindo a população e os ataques”, conta o médico-veterinário.

Em âmbito federal, vale destacar o Programa Nacional de Prevenção e Vigilância da Encefalopatia Espongiforme Bovina (PNEEB), que tem como objetivo evitar a entrada do agente no território nacional, aplicar medidas de mitigação de risco a fim de evitar eventual reciclagem e difusão do agente da EEB, e manter um sistema de vigilância para detecção dos animais infectados pela doença. “Para a concretização destas metas, fazemos o controle da importação de animais e seus produtos e subprodutos; fiscalizamos os estabelecimentos de abate de ruminantes, bem como de processadores de resíduos de produtos de origem animal, dentre outras ações. Por meio da adoção dessas medidas de segurança e controle de doenças, os programas federais contribuem para evitar que a doença se torne uma ameaça para a população humana”, enfatiza a médica-veterinária Juliana do Amaral Moreira Conforti Vaz, auditora fiscal federal agropecuário e responsável pelo PNEEB desde 2007.

Há ainda outros importantes programas de saúde federais, como Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal; Programa Nacional de Sanidade Avícola; Programa Nacional de Sanidade dos Equídeos e Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa.

Mercado de trabalho

Como visto, o médico-veterinário possui papel fundamental na área da saúde pública e está inserido em diferentes atividades que podem contemplar desde a gestão e o planejamento em saúde, até a mais tradicionalmente conhecida vigilância , seja epidemiológica, sanitária ou ambiental.

É de sua responsabilidade inspecionar e avaliar todos os alimentos de origem animal que chegam à mesa dos consumidores, além de desenvolver estudos e pesquisas de novas vacinas para tratamento e erradicação de doenças transmitidas por animais. Com o crescimento da comercialização de produtos de origem animal e industrializados, houve uma necessidade de seguir ainda mais rigorosamente as normas de segurança alimentar. “O médico-veterinário deve acompanhar o produto desde a produção até o ponto de venda, passando pela sanidade animal, qualidade e higiene de produção, conservação e comercialização. Ele também fiscaliza frigoríferos, indústrias, fábricas de produtos e subprodutos de origem animal”, diz o médico-veterinário Dr. Ricardo Moreira Calil, presidente da Comissão Técnica de Alimentos do CRMV-SP.

No campo da saúde ambiental, a prática profissional do médico-veterinário torna-se cada dia mais necessária ao passo que a busca do desenvolvimento sustentável esbarra no estabelecimento da saúde das populações. “Uma estratégia de atenção básica coerente deve ser pautada na sustentabilidade e ter como foco levar a população a compreender a relação indissociável entre indivíduo e meio ambiente, além de reforçar os cuidados a serem tomados em relação à produção, conservação, comercialização, transporte, armazenamento e higienização dos alimentos de origem animal e seus derivados”, explica Elma Polegato.

São muitos os campos de trabalho para o médico-veterinário na área da saúde pública. Veja:

Fiscalização de estabelecimentos de interesse em serviços de saúde

Atividades relacionadas a veterinária, como hospitais, clínicas, consultórios, estabelecimento de diagnóstico por imagem, drogarias veterinárias, pet shops e outras formas de comércio animal; e também em outras atividades não veterinárias, como hospitais, controladoras de pragas, saneamentos domissanitários, farmácias e drogarias, indústria de correlatos e cosméticos e de saneamento ambiental;

Fiscalização zoosanitária em imóveis comerciais ou residenciais

Atende as demandas de maus tratos a animais e de irregularidades no saneamento ambiental;

Manejo da fauna sinantrópica

Controle integrado de vetores e roedores e manejo populacional de cães e gatos;

Fiscalização para implementação do plano de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde animal, humana e ambiental

Atua com os resíduos de origem biológica, com a destinação de cadáveres e carcaças e dos produtos químicos, físicos ou inertes;

Ação integrada com a vigilância epidemiológica

Surtos alimentares e outros agravos, transmissíveis ou não, no controle de zoonoses emergentes e reemergentes, nas campanhas de imunização e controle de zoonoses;

Desenvolvimento e execução de programas zoosanitários

Atua junto às Unidades de Saúde e nas comunidades;

Ação integrada com a Atenção Primária em Saúde (APS)

Um dos pilares do Sistema Único de Saúde (SUS), junto aos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF);

Participação no controle social do SUS

Através da inserção junto aos Conselhos de Saúde e Conferências de Saúde em todas as esferas (local, distrital, municipal, estadual e nacional).

Além das possibilidades citadas, o médico-veterinário também pode ocupar cargos de gestão, contribuindo de forma significativa para a consolidação do SUS por meio de sua participação ativa em Comissões Intergestores Bi (CIB) e Tripartite (CIT); na discussão e elaboração de políticas públicas de saúde; elaboração de leis; regulamentos de interesse à saúde humana e ambiental; política de resíduos de serviços em saúde; comissões técnicas específicas; e na implementação e aprimoramento técnico-científico de projetos e programas na área de saúde humana e animal.

A remuneração do profissional que atua no segmento é atrativa e os salários variam de acordo com as esferas federal, estadual e municipal, podendo chegar até R$ 8 mil. Entretanto, apesar das inúmeras possibilidades de carreira, há um entrave que impede uma maior participação do médico-veterinário nas ações de saúde pública: a formação profissional. “As escolas de Medicina Veterinária não têm enfatizado a capacitação neste setor. A despeito de existirem conteúdos da área nos currículos dos cursos, não há uma orientação adequada para a Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Pública”, afirma Valéria Tommaso.

Atualmente, existem no Brasil mais de 200 cursos de graduação em Medicina Veterinária e todos devem contemplar diretrizes curriculares que atendam as necessidades da sociedade frente aos serviços que o médico-veterinário presta. Contudo, para Elma Polegato, falta incluir nas disciplinas a interdisciplinaridade da área ambiental com as demais já consolidadas. Algumas instituições estão reestruturando suas matrizes com o objetivo de resolver essas falhas. Outro caminho seria as instituições aderirem ao Projeto de Aprendizagem referente às Competências Humanísticas do Sistema CFMV/CRMVs, que por meio de diferentes estratégias insere precocemente o estudante na prática profissional. “Desta forma, ele terá acesso a diferentes cenários de ensino-aprendizagem, além da aproximação com a sociedade. Nestas ações também seria possível trabalhar habilidades humanísticas como liderança, trabalho em equipe, comunicação e senso crítico”, acredita.

A médica-veterinária Dra. Jane Megid, docente titular em Enfermidades Infecciosas dos Animais da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp-Botucatu, afirma que atualmente há diversos cursos de pós-graduação em One Health e universidades com setores e departamentos específicos que trabalham somente com este segmento. “O médico-veterinário que optar por essa área estará na fronteira da tendência mundial, com possibilidades interessantes e valorizadas de atuação em nível nacional e internacional”.

NASF

Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) foram criados pelo Ministério da Saúde em 2008 com o objetivo de apoiar a consolidação da Atenção Básica no Brasil. Reguladas pela Portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011, configuram-se como grupos de trabalho multiprofissionais que atuam de forma integrada com as equipes de Saúde da Família (eSF), de atenção básica para populações específicas (consultórios na rua, equipes ribeirinhas e fluviais) e com o Programa Academia da Saúde. Assistente social, fisioterapeuta, médico e educador físico são algumas das categorias profissionais presentes no NASF.

A interdiciplinaridade da Medicina Veterinária no Núcleo tem sido reforçada desde 2011, quando os médicos-veterinários passaram a fazer parte do NASF. A conquista veio graças a constantes ações do CFMV junto ao Ministério da Saúde e no Congresso Nacional. De acordo com o último dado do Ministério da Saúde, referente ao ano de 2016, há 4.320 NASFs, presentes em 3.400 municípios do País e compostos por mais de 25.319 profissionais. São 114 médicos-veterinários atuando em 19 estados brasileiros.

Muitos argumentos podem ser utilizados para valorizar a inclusão do médico-veterinário na lista de especialistas que compõem as equipes do NASF. “Este profissional tem como um de seus focos as doenças de caráter zoonótico e o desequilíbrio ambiental que tem levado ao aumento do número de animais sinantrópicos, além da emergência e reemergência de enfermidades, em especial as arboviroses. A carência de alimentos e de proteínas nobres derivadas do leite, dos ovos e das carnes, ou a falta de qualidade deles, também constituem um sério problema de saúde pública”, explica a médica-veterinária Professora Adolorata Aparecida Bianco Carvalho, doutora em Ciências Biológicas, docen te das Unesp e membro efetivo da Comissão de Saúde Pública Veterinária do CRMV-SP.

Cada profissional possui a mesma importância dentro das atividades do NASF e deve desenvolver ações integrativas e educacionais dentro da sua área. Desde 2012, a médica-veterinária Eukira Monzani atua na equipe do Núcleo de Descalvado, primeira cidade do Estado de São Paulo a incluir o profissional no NASF. “É gratificante ver mudanças, embora pequenas, na rotina das pessoas e nas residências em que realizo visitas domiciliares”, conta.

Como a área é nova, ainda falta informação e também reconhecimento por parte dos profissionais e da sociedade. “A classe deve se unir e procurar compreender melhor este trabalho. Quem deseja ingressar na área deve buscar cursos sobre o SUS e aperfeiçoamento específico sobre atenção básica”, orienta Eukira, em entrevista a Revista do CFMV.

Conferência de Vigilância em Saúde

O Conselho Nacional de Saúde (CNS) realizará entre os dias 21 e 24 de novembro de 2017, em Brasília, a 1ª Conferência Nacional de Vigilância em Saúde (CNVS). O objetivo é estender as discussões em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) e desenvolver ações para a construção de uma Política Nacional de Vigilância em Saúde.

O evento também visa debater a integração dos programas de todas as vigilâncias, ou seja, epidemiológicas, sanitárias, em saúde ambiental, do trabalhador e dos laboratórios de saúde pública. Também tem entre os seus eixos a discussão das responsabilidades do Estado e dos governos com a Vigilância em Saúde.

“O evento permitirá que médicos-veterinários colaborem com a formulação de políticas públicas, interconectadas entre saúde humana, ambiental e dos demais seres vivos”, explica a Dra. Suely Stringari de Souza, representante do CRMV-SP no Conselho Estadual de Saúde e componente da Comissão Organizadora da Conferência Estadual de Vigilância em Saúde.

Com o tema “Vigilância em Saúde: Direito, Conquistas e Defesa de um SUS Público de Qualidade”, a 1ª CNVS é aberta para a participação de trabalhadores, gestores, representantes de movimentos sociais, ONGs, entidades e instituições com atuação em defesa da saúde pública. Oficinas e seminários livres já estão ocorrendo, em diferentes locais, para fortalecer o debate. A conferência será precedida por etapas municipais e/ou macrorregionais, programadas para acontecer até o dia 31 de agosto. As etapas estaduais serão de 1º de setembro a 21 de outubro.

Para participar o interessado deverá entrar em contato com o Conselho Municipal da Saúde de sua cidade e comprovar que representa alguma entidade de classe. “Embora façamos parte do grupo de profissões de saúde, na prática e dentro dos sistemas que envolvem a atuação do médico-veterinário, ainda lutamos para que os estabelecimentos veterinários sejam assim considerados, e não vistos apenas como de interesse em saúde animal, como ocorre atualmente. Se as diretrizes discutidas durante a Conferência forem aprovadas pelo Estado, nossa profissão estará respaldada e os serviços veterinários oferecidos à população estarão amparados legalmente”, enfatiza a Dra. Elma Polegato, presidente da Comissão de Saúde Ambiental.

Impactos da “Operação Carne Fraca”

Carne com papelão, substância cancerígena na salsicha. Desde que a Operação “Carne Fraca” da Polícia Federal foi deflagrada, em março deste ano, as informações se espalham pela TV e internet e causam pânico em muitos consumidores. Segundo o médico-veterinário Dr. Pedro Eduardo de Felício, mestre em Genética Animal, Ph.D em Animal Science/Animal Products e professor titular de Ciência e Tecnologia de Carnes da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a maneira como o caso foi divulgado pelos veículos de comunicação gerou uma desconfiança “exagerada” sobre a carne brasileira.

“Ouvimos algumas coisas bem absurdas e que foram repetidas pelos jornalistas para todo o mundo ouvir, sem o mínimo de verificação. Os produtos de origem animal, bem como as indústrias que os processam, devem sempre passar por uma rigorosa inspeção higiênica e sanitária. No mundo todo, esse trabalho é conduzido por médicos-veterinários devidamente preparados para o desempenho dessas tarefas. No Brasil, o Serviço de Inspeção Federal (SIF) é o órgão máximo de fiscalização e desde sua criação, em 1915, atua com profissionais altamente qualificados, que se empenham em oferecer uma carne de ótima qualidade sanitária para a população”, explica.

Entretanto, há duas ou três décadas, o Governo Federal deixa de responder às demandas dos setores que processam alimentos no que diz respeito à contratação de inspetores veterinários e modernização da infraestrutura administrativa e financeira do sistema. “O SIF de hoje não condiz com o tamanho e a complexidade da indústria nacional. Diante disso, as faculdades de Medicina Veterinária também se sentiram desestimuladas a enfatizar a carreira de inspetor aos seus estudantes, visto que o único empregador deixou de contratar”, conta Felício. O resultado é a perda de terreno nessa vertente da profissão e queda na qualidade e eficiência do tradicional sistema de inspeção higiênico-sanitário, que hoje se alimenta de contratações feitas por estados e municípios para exercício junto ao sistema federal.

Apesar da turbulência diante da delação de Joesley Batista, presidente de uma das maiores companhias de carnes do mundo, a JBS, e da suspensão das exportações de carne desossada para os Estados Unidos, Dr. Pedro acredita que a desconfiança será superada com a melhoria constante. “Todos esses acontecimentos geraram forte impacto no comportamento dos consumidores no mercado interno e internacional. É preciso modernização da inspeção sanitária oficial e do controle de qualidade das indústrias. Não podemos subestimar a necessidade dessas mudanças, sob a pena de voltarmos a ter crises de tempos em tempos”, esclarece o médico-veterinário.

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