Uma invasão blindada está em andamento em todo o centro-oeste dos Estados Unidos: tatus estão se mudando para territórios considerados impróprios para criaturas de clima quente.
Há 20 espécies conhecidas de tatu, mas apenas uma – o tatu-galinha – se aventurou para fora da América Latina. A espécie chegou ao Texas, nos Estados Unidos, nos anos 1880 e vem se espalhando para novos habitats desde então.
Nos últimos anos, ele se estabeleceu do extremo leste (Carolina do Norte) ao extremo oeste (Ilinois) e algumas vezes é visto nos estados de Indiana e Iowa (no centro dos Estados Unidos). Se a tendência continuar, alguns especialistas preveem que o tatu será visto logo em locais tão ao norte como Washington D.C. ou até mesmo em Nova Jersey.
Alguns cientistas sugerem que o aumento da temperatura causado por mudanças climáticas está permitindo que os tatus se mudem para novos habitats. Mas a bióloga da Universidade Estaudal de Valdosta, no estado da Geórgia, Colleen McDonough duvida que seja esse o motivo.
Segundo ela, os tatus têm se mudado consistentemente para o norte e para o leste do Rio Grande desde a última parte do século 19. “Há diferentes hipóteses diferentes sobre o motivo. Uma delas é que a expansão foi facilitada pelas práticas de uso da terra e pela remoção de grandes mamíferos predadores. Como esse movimento tem sido consistente ao longo dos anos, acho que é uma continuação [de uma tendência de longo prazo] e não resultado direto das mudanças climáticas recentes”, diz a especialista.
Tatus adaptáveis
Em vez das mudanças climáticas, McDonough suspeita que a capacidade de adaptação e a reprodução rápida estão alimentando a expansão dos tatus galinha. Animais onívoros podem fazer suas casas nas florestas, pastagens e até mesmo no subúrbio. Além disso, as fêmeas férteis podem começar a dar cria com apenas um ano e ter ninhadas de até quatro em cada ano. Obviamente, tatus não são invencíveis e o clima frio, no final, restringe sua expansão.
De acordo com McDonough, que também faz parte do grupo de especialistas em bichos-preguiça e tatus da União Internacional para Conservação da Natureza (na sigla em inglês IUCN), tatus galinha têm coberturas esparsas de pelos nas barrigas e suas carapaças os protegem dos predadores, mas não dos elementos naturais.
Além do mais, os tatus não hibernam, ou seja, precisam procurar alimento no inverno. Contudo, conseguem sobreviver por um período no frio ficando em suas tocas e abandonando o forrageamento [ato de vasculhar o solo em busca de alimentos como formigas, largatas, cupins, entre outros] por um curto período. “Soube ainda de animais forrageando sobre uma cobertura de folhas embaixo de uma fina camada de neve no norte o Texas. Pode ser que isso aconteça também mais ao norte, mas em longos períodos de tempo gelado os tatus não ficariam bem”, diz a bióloga.
Tatus podem causar impacto em novos habitats
Como a maioria dos intrusos, os tatus provavelmente irão causar algum impacto em seus novos habitats e esses efeitos não são sempre fáceis de prever.
Conhecidos por desenterrar larvas de insetos para alimentação, é possível que eles compitam por tais refeições com animais que vivem na região, como os gambás. Tatus também são conhecidos por atacar ninhos de diversas espécies e, consequentemente, podem prejudicar as populações de aves que fazem ninhos no chão, como a codorna.
Qualquer um, no entanto, que busque manter o número de tatus baixo não terá uma tarefa fácil. “Não é fácil prendê-los e os predadores naturais são raros neste novo habitat, acrescentou McDonough.
Um fator positivo para os humanos, porém, é que o apetite dos tatus poderia manter algumas pragas de insetos, como formigas de fogo, controladas.
Então o quão longe o tatu irá? McDonough não está certa. “Ao longo das décadas, os cientistas criaram limites (para o alcance dos tatus), baseados na temperatura [e esses animais surpreenderam a maioria dos especialistas ultrapassando este limite. Odeio fazer previsões, porque eles continuam me surpreendendo”, afirma.
Fonte: Último Segundo (acessado em 16/11/2011)