A Unesp de Araçatuba finalizou uma pesquisa inédita sobre o sequenciamento genético da raça Nelore, a principal raça bovina do Brasil. O estudo foi coordenado pelo professor José Fernando Garcia com participação de colaboradores internacionais. O trabalho amplia as possibilidades de controle no processo de seleção dos melhores animais e de seus cruzamentos, propiciando, entre outros benefícios, a melhoria na qualidade da carne e do leite bovino brasileiro.
Atualmente, o Brasil é o maior exportador de carne do mundo, batendo a Austrália e a Argentina, entre outros. Cerca de 90% da carne produzida em solo nacional é de animais zebuínos. O boi de corte brasileiro (com exceção dos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina) tem a genética zebuína na sua composição. “O objetivo da pesquisa foi oferecer à comunidade científica e técnica, o genoma de referência de um animal zebuíno, tão importante para as regiões tropicais”, afirma Garcia.
A pesquisa teve duração de dois anos e investimentos de aproximadamente 500 mil dólares, provenientes da Unesp e do edital 64 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) / Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
O estudo consistiu no sequenciamento completo de uma das duas principais sub-espécies bovinas, a Bos primigenius indicus, também conhecido como grupo zebuíno ou indiano. O touro escolhido para representar essa sub-espécie chama-se Futuro POI do Golias e vive na região de Araçatuba. Até então, só se tinha concluído o sequenciamento da outra sub-espécie Bos primigenius taurus, denominada taurino ou europeu, realizada em 2009 por uma equipe internacional da qual Garcia também era integrante, e que consumiu 50 milhões de dólares. “Houve um grande desenvolvimento das tecnologias analíticas que permitiu gerar mais informação, de forma mais rápida e com menor custo”, compara o professor.
De acordo com o pesquisador, conhecer em detalhes o código genético das sub-espécies propicia entender os fatores determinantes das características que diferenciam os taurinos dos zebuínos, para que em breve seja possível um melhor controle nos processos de seleção dos animais e de seus cruzamentos.
Os pesquisadores realizaram o sequenciamento, a montagem e as comparações entre os genomas das raças. Geraram ainda uma nova ferramenta analítica para testar o DNA dos bovinos, chamada “SNP chip” de alta densidade. Essa tecnologia tem a capacidade de testar cerca de 700 mil pontos do genoma, por meio da análise do DNA de um animal, revelando as diferenças existentes entre raças e indivíduos, permitindo simultaneamente o desenvolvimento do genoma e suas aplicações.
Com o conhecimento do catálogo completo das duas sub-espécies, será possível desenvolver novos testes de DNA para selecionar os melhores animais dentro de uma população; identificar a existência das características mais importantes para uma qualidade aprimorada, como tamanho das peças das carnes, maciez, padrão de distribuição de gordura entre as fibras musculares e as depositadas nas carcaças; auxiliar na seleção para a resistência a parasitas e outras enfermidades e na tolerância ao calor; e melhorar as tecnologias de rastreabilidade e certificação, condições exigidas para a liderança do setor.
As raças de zebuínos ocupam o sul da Ásia (Índia e Paquistão), leste da África e América do Sul. No Brasil, desde o final do século 18, começaram ser importados animais zebuínos oriundos da Índia, que foram cruzados com os animais locais (de origem ibérica e africana), adaptando-se muito bem às condições do País. As principais raças zebuínas introduzidas e desenvolvidas no Brasil foram o Nelore (carne) e o Gir (leite).
Além do professor Garcia, a pesquisa é coordenada em conjunto com o pesquisador americano do Agricultural Research Service (ARS) e Departamento Americano de Agricultura (USDA) Tad Sonstegard. Pesquisadores da Universidade de Maryland, nos EUA, e Università Cattolica Del Sacro Cuore, na Itália, também participaram do projeto.
As informações do sequenciamento são públicas e estarão disponíveis no portal do National Center for Biotechnology Information (NCBI).
Fonte: Unesp