Criado para alertar sobre a importância da espécie, o Dia Nacional da Onça-pintada, instituído pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), marca a necessidade urgente da preservação do maior felino das Américas. Por ser reconhecida como símbolo brasileiro de conservação da biodiversidade é crucial para diferentes habitats e animais se mantenham.
“Sua diminuição ou eliminação na natureza traria profundo desequilíbrio”, afirma o médico-veterinário Fabrício Braga Rassy, chefe da Divisão de Medicina Veterinária da Fundação Parque Zoológico de São Paulo (FPZSP) e integrante da Comissão Técnica de Médicos-veterinários de Animais Selvagens (CTMVAS), do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP).
Segundo o médico-veterinário Marcello Schiavo Nardi, presidente da CTMVAS, por ser topo da cadeia, a onça-pintada controla populações de herbívoros e de outras espécies. Quando não há esse controle, o ecossistema sofre. “Assim, haverá a superexploração da mata, porque esses animais, sem seu predador, acabam comendo muito mais plantas e isso tem um efeito até mesmo de modificação da paisagem.”
O felino, de acordo com o MMA, é considerado um guarda-chuva, debaixo do qual todas as outras espécies presentes na área onde ele vive estão protegidas. Onde a onça-pintada foi extinta, nota-se aumento, por exemplo, do número de capivaras e a consequente explosão de carrapatos, associados à transmissão da febre maculosa.
Presente em diferentes biomas
A onça-pintada está presente em quase todos os biomas brasileiros – Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal – com exceção do Pampa, onde é considerada extinta. Na Caatinga e na Mata Atlântica a espécie é avaliada como criticamente em perigo.
De acordo com Rassy, a Floresta Amazônica, devido à sua grande extensão, detém uma parcela considerável da população de onças-pintadas do País. “Cada bioma apresenta uma realidade e quantidade de animais, mas podemos considerar estudos em diversas regiões/áreas que indicam que a densidade populacional pode variar de 0,3 a até 10 onças para cada 100 km2”.
Ameaças e risco de extinção
Marcello Nardi destaca que uma das maiores ameaças é a ação do homem, que transforma indiscriminadamente o habitat da onça-pintada. “Além disso, existe a caça por retaliação, porque ela ataca a criação animal, seja de bovinos, de ovinos”, afirma Nardi, alertando sobre a caça por esporte e o tráfico de partes do corpo do animal associado à medicina alternativa chinesa.
Fabrício Rassy concorda e acrescenta que, mesmo tendo o hábito de evitar áreas degradadas e com intensivo uso por atividades humanas, muitas vezes, ela entra em conflito com produtores rurais, “nesse caso, o maior risco é para o animal, pois muitos destes proprietários simplesmente abatem a onça-pintada, prática que ameaça a sobrevivência da espécie”.
Atuação do médico-veterinário e do zootecnista na preservação
Com a fragmentação de seu habitat, a conscientização da população e a atuação profissional são imprescindíveis para a preservação da onça-pintada. “Todas as ações e atividades envolvendo a conservação de espécies devem ser planejadas e executadas por meio de equipes multidisciplinares e a participação de médicos-veterinários e zootecnistas é muito importante”, afirma Rassy.
Em situações de atendimento, é fundamental que a equipe tenha um médico-veterinário para evitar acidentes que coloquem em risco a vida do animal, “lembrando que o profissional é importante também em estudos epidemiológicos e de reprodução, e atuando com Saúde Única para evitar que doenças de animais domésticos sejam transmitidas para a onça-pintada”, enfatiza Nardi.
Ações práticas para a conservação da onça-pintada
1- diminuir o desmatamento e a consequente perda de habitat dos animais;
2- onde já está desmatado, conectar os fragmentos, usar a mata ciliar dos rios e preservar essa área para que a onça-pintada possa se deslocar na paisagem;
3- combater o abate e a caça ilegal, seja por retaliação ou por esporte;
4- com as populações muito fragmentadas, é preciso ter um programa de troca genética, por inseminação ou por introdução de novos indivíduos;
5- conscientização sobre a forma de manejo dos rebanhos para evitar ataques e, consequentemente, a caça por retaliação.