Desde o dia 05/04, repercute o caso da tigresa Nadia, do zoológico do Bronx, em Nova York (EUA), que testou positivo para o novo coronavírus. Segundo o noticiário local, assim como outros felídeos do parque, ela teve contato com um tratador diagnosticado com a Covid-19 e que todos vêm apresentando sintomas leves, como tosse seca e falta de apetite.
Nas últimas semanas, foram divulgados casos de um gato e dois cães portando o vírus, na Bélgica e em Hong Kong, todos morando com humanos infectados. “Estatisticamente, são casos isolados e, epidemiologicamente, esses animais não representam fonte de infecção significativa, com potencial de disseminação da doença”, assinala o médico-veterinário Fernando Zacchi, assessor técnico da presidência do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV).
Para Cristiano Nicomedes, presidente da Associação Brasileira de Clínicos de Felinos (Abfel), em todos os relatos, houve o cuidado de não se fazer uma correlação direta entre a transmissão do Sars-CoV-2 entre animais e humanos, ou seja, não existe, até o momento, evidência científica que sugira a possibilidade de transmissão entre animais e seres humanos.
“Portanto, a validade dos testes de Sars-CoV-2 em animais de estimação torna-se, no mínimo, controversa, já que saber que o animal possui o vírus, pelo menos no estágio de conhecimento que possuímos agora, não significa que essa possa ser uma informação útil”, afirma Nicomedes.
Formas de identificação
O assessor técnico do CFMV explica que há duas formas de se identificar agentes infecciosos virais nos animais: a identificação direta da partícula viral; e a indireta, que sinaliza a resposta imune do paciente ao agente ou seus componentes.
“A presença do agente, isoladamente, tem pouco valor diagnóstico, pois apenas nos informa que o animal teve contato com o vírus, sendo necessários outros testes e acompanhamento epidemiológico para obtermos uma informação mais apurada”, detalha Zacchi.
Nada de pânico
Para Zacchi, detectar partículas virais no animal não significa que ele tenha a capacidade para replicá-las e transmiti-las, não há motivo para pânico e muito menos para o abandono dos animais sob pretexto de se proteger do novo coronavírus.
“Existe uma grande diferença entre encontrar o agente infeccioso e o animal ser capaz de desenvolver e transmitir qualquer doença. Os estudos até o momento não indicam que haja transmissão de cães e gatos para seres humanos. A forma comprovada de disseminação é de pessoa para pessoa”, enfatiza Zacchi.
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(Fernando Zacchi)
Ação válida
Coordenadora da Unidade de Animais Silvestres do Hospital Veterinário da Universidade de Brasília (HVet/UnB), a professora Liria Hirano observa que, no zoológico americano, apenas um animal foi testado, entre os cinco que apresentam sintomas para a Covid-19, pois o procedimento é complexo, feito sob sedação.
“É uma iniciativa válida, pois estamos tentando entender os ciclos dessa zoonose agora presente no mundo todo. O ideal, no entanto, é não causar alarme”, comenta ela.
Saiba mais:
Como cuidar dos animais em tempos de coronavírus
Faltam evidências que o novo coronavírus possa infectar gatos (Jornal da USP)
Reflexões para médicos veterinários sobre gatos e SARS-CoV-2s (em formato PDF, artigo dos professores Aline Santana da Hora e Paulo Eduardo Brandão)
Perguntas e respostas da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) – em espanhol
If You Have Animals – em inglês, informativo do Centers for Disease Control e Prevention (CDC), dos Estados Unidos
Não há evidências científicas de que cães e gatos transmitem o novo coronavírus – informativo especial produzido pela organização Proteção Animal Mundial/World Animal Protection (WAP)