“Estamos usando a nanotecnologia e, muitas vezes, nem sabemos disso”. Assim Humberto de Mello Brandão, pesquisador A da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Gado de Leite e coordenador do Laboratório de Nanotecnologia para Produção e Sanidade Animal, argumenta sobre o uso dessa tecnologia no âmbito da Medicina Veterinária.
Embora muitos médicos-veterinários ainda não atentem para isso, é fato que se trata de um recurso que resulta em desenvolvimento e competitividade nas mais variadas áreas da profissão. Segundo Brandão, há muito a ser desmistificado junto à sociedade e a classe médica-veterinária sobre o uso da nanotecnologia.
“É preciso explicar os fenômenos que ocorrem em escala nanométrica e exemplificar como eles podem contribuir na rotina dos profissionais”, enfatiza Brandão, que ministrou a palestra “Nanotecnologia e novas abordagens farmacológicas e terapêuticas em Medicina Veterinária: Perspectivas para o setor nos próximos anos”, na sede do Regional paulista, e abordou o assunto, em setembro, durante a 2ª Semana do Médico-veterinário do CRMV-SP.
Em prol do melhoramento de fármacos
A aplicação da nanotecnologia no campo de medicamentos e vacinas para animais promete impactos muito positivos, principalmente levando em conta burocracias e atrasos enfrentados devido ao custo extremamente alto – podendo chegar a um bilhão de dólares – para a criação de uma nova molécula.
“A nanotecnologia é uma opção bem mais barata para se melhorar as características de fármacos disponíveis no mercado”, afirma Brandão, destacando o uso de nanocarreadores contendo penicilina para tratar, com sucesso, infecções causadas por Staphylococcus aureus resistente à meticilina.
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(Humberto de Mello Brandão)
Aliada do Agronegócio
Na produção de alimentos, a nanotecnologia oferece avanços importantes, como o projeto ‘NanOvo’, conduzido na Embrapa Suínos e Aves, que faz revestimentos nanométricos sobre a superfície do ovo para controlar perda de água e inibir a contaminação bacteriana, que é um problema para a cadeia.
“Nos casos de transgenia e terapia gênica, já conseguimos fazer o ‘delivery’ de DNA de forma eficiente para embriões bovinos sem a necessidade de sua micro manipulação. Isso abre um enorme horizonte em ganho de escala para a realização de transgenia animal”, afirma Brandão, destacando ainda o desenvolvimento de sensores nanoestruturados para serem utilizados na detecção do estro de bovino leiteiro.
Embalagens
Em busca da melhor conservação de produtos, embalagens fabricadas a partir nanotecnologia prometem evitar ou dificultar a proliferação bacteriana.
“Existe uma embalagem plástica para leite contendo micropartículas de sílica e nanoincrustações de prata que, de acordo com o fabricante, garante esse funcionamento e, se houver desprendimento da embalagem, sua absorção intestinal é limitada”, ressalta Brandão