Dólar debilita a competitiva carne brasileira

O Brasil ganhou fama, nos últimos anos, por sua competitividade na produção e exportação de carnes. A razão para a alardeada vantagem competitiva eram as condições mais favoráveis de produção no País – custos menores de produção e disponibilidade de terras, por exemplo. Esse cenário sozinho, porém, já não garante um bom desempenho lá fora. A recente alta do real em relação ao dólar – a valorização é de 36,45% desde janeiro – , mostra que o comportamento da moeda americana também é fundamental para a competitividade no segmento de carnes, de acordo com exportadores e analistas de mercado.

Ocorre que o real mais caro tem elevado os preços da matéria-prima em dólar em relação aos de países exportadores concorrentes, onde as moedas locais não estão tão valorizadas.

Diante disso e de uma demanda que ainda não se recuperou totalmente no mercado internacional por causa da crise, as exportações de carnes do País recuaram 24,1% de janeiro a outubro, para US$ 9,689 bilhões, na comparação com o mesmo período de 2008, segundo o Ministério da Agricultura.

“Boa parte disso é por causa da crise, mas a queda do dólar está atrasando a retomada”, afirma Otávio Cançado, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Bovina (Abiec).

Levantamento da Scot Consultoria mostra que o preço do boi nacional, em dólar, já deixou para trás o da Argentina, do Uruguai e do Paraguai, com os quais praticamente havia paridade na moeda americana até meados de 2007. A arroba do boi nacional custa o equivalente a US$ 44,53, à frente da Argentina (US$ 29,91), do Uruguai (US$ 34,57) e até da Austrália (US$ 38,62). Segundo a Abiec, também já supera o preço nos EUA, onde a arroba do boi está entre US$ 43 e US$ 44.

Uma fonte da indústria de carne diz que esse quadro torna o mercado internacional menos atrativo pois não vale a pena exportar alguns cortes bovinos, nas atuais cotações, se o preço da matéria-prima em dólar está alto. “Não somos competitivos com dólar baixo”.

Sem estímulo para vender lá fora, parte do que seria exportado acaba no mercado doméstico. Cançado diz que os preços internos só não estão em queda porque a demanda está aquecida com o fim ano e o aumento da renda

Os exportadors de carne de frango e de carne suína também se queixam da perda de competitividade. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto, com o dólar baixo o Brasil deixa de ser competitivo e fica mais vantajoso vender no mercado doméstico, onde o consumo vem melhorando. Enquanto isso, os EUA, dono da moeda desvalorizada, podem ampliar suas vendas para Rússia e Hong Kong, concorrendo com o produto brasileiro, afirma.
Crítico desde sempre do câmbio valorizado, Camargo Neto avalia que o dólar baixo “coloca em risco o setor produtivo nacional”.

Gabriela Tonini, da Scot Consultoria, lembra que, ao pagar mais pelo boi em dólar, o exportador tende a tentar transferir a alta para a carne no mercado externo. Mas essa não tem sido tarefa fácil, já que a demanda ainda não se recuperou totalmente. “Com o custo alto do boi, o Brasil perde a vantagem de poder vender com preços mais atraentes”.

Segundo ela, a tendência é de que o preço em reais do boi comece a cair a partir de 2010, pois já há sinais de reversão do ciclo de queda da produção da pecuária de corte no País: a oferta de bezerros e boi magro é maior, reflexo da retenção de matrizes.

Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef), afirma que a crise dificultou a recomposição dos preços em dólar este ano, apesar da desvalorização da moeda americana. Os volumes caíram um pouco, mas o tombo da receita com as vendas foi muito maior. Entre janeiro e outubro, as exportações de carne de frango somaram 3,051 milhões de toneladas, queda de 2,95% sobre igual intervalo de 2008. Já a receita caiu 21,11%, saindo de US$ 6,086 bilhões para US$ 4,801 bilhões.

Para o dirigente, por causa do real valorizado o Brasil vem perdendo espaço para outros exportadores de frango, como os EUA e até a Argentina, onde um dólar valia 3,82 pesos ontem. “A Argentina deve produzir 1,6 milhão de toneladas de carne de frango e já teve 16% de aumento na exportação”.

Joesley Batista, presidente da JBS S.A, avalia que a desvalorização do dólar estimula as exportações de carnes dos EUA. O quadro é favorável para a JBS, que tem operações de carnes bovina e suína no País e acaba de entrar em frango naquele mercado.

A empresa não é a única a se beneficiar da estratégia de internacionalização. A Marfrig também tem operações na Argentina (como a JBS) e no Uruguai e, no passado, já recorreu à ampliação do abate nos dois países porque havia escassez de oferta no Brasil.

Fonte: Suinocultura Industrial (acessado em 17/11/09)

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