Com apenas três meses,
o pequeno bugio – um macaquinho de pelo castanho – adorava circular com seu
bando pelo sítio de Josiane Pereira, no interior de
Jundiaí. Um dia, apareceu sozinho, com a cauda toda machucada, provavelmente
mordida por cães. Preocupada com o estado do animal, Josiane
o encaminhou para uma ONG da região, que resgata e cuida de bichos feridos
para depois devolvê-los à natureza.
Por duas semanas, o bugio recebeu tratamento veterinário. Tomava antibióticos
e tinha os curativos na cauda trocados regularmente. Quando se recuperou, foi
levado, em uma gaiola, pela bióloga Andrea Sesso,
responsável pelo tratamento, e por Josiane ao mesmo
local onde havia sido encontrado.
Por cerca de três horas, as duas caminharam pela mata em busca da família do
bichinho. Assim que reconheceu seus companheiros, o macaco começou uma
espécie de sinfonia na mata. Emitiu sons muito fortes, e o grupo respondeu no
mesmo tom. "Ficamos cerca de 40 minutos observando a comunicação até
soltar o macaquinho de volta à natureza", diz Andrea.
Histórias como essa são comuns na Associação Mata Ciliar, ONG responsável
pelo tratamento e pela soltura do pequeno bugio, que recebe uma média de três
animais por dia.
Segundo a veterinária Karen Bueno, a maioria é vítima da degradação ambiental
ou do tráfico. "Há, por exemplo, casos de queimadas, em que os bichos
fogem da mata e acabam atropelados." A volta ao
habitat, no entanto, nem sempre é um processo rápido como foi o do bugio.
Além de recuperar a saúde, os bichos precisam se habituar novamente a
disputar comida, a caçar e até reaprender funções básicas, como voar.
Na capital, esse trabalho é feito desde 1991 pela divisão
de fauna do Depave (Departamento de Parques e Áreas
Verdes), da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente.
De acordo com a diretora, Vilma Geraldi, a maioria
dos bichos (quase 60%) encaminhados ao órgão são aves. "Nem sempre
sabemos como eles foram feridos. Há os que são vítimas de tráfico, os que
foram eletrocutados em postes e até os que tiveram as asas cortadas por fios
de pipa", relata.
Em média, 51% dos animais são devolvidos à natureza. Do restante, parte não
sobrevive ao tratamento. Outros, que ficam com lesões permanentes, são
encaminhados para criadouros ou zoológicos.
Na S.O.S. Fauna, ONG que atua na região de
Juquitiba, o processo de soltura leva pelo menos um mês. Primeiro, o animal
fica em uma gaiola no local onde será libertado, para se acostumar com o novo
ambiente. Após cerca de 30 dias sendo monitorado por veterinários, o bicho é
solto. "Num primeiro momento, é preciso disponibilizar no ambiente a
mesma alimentação a que o animal estava acostumado em cativeiro", alerta
Marcelo Pavlenco, presidente da organização.
No caso de animais domésticos, como o de um pitbull
que sofreu maus-tratos, as denúncias devem ser encaminhadas a instituições
como a União Internacional Protetora dos Animais (www.uipasp.org.br).
Como ajudar
Se encontrar um animal
silvestre machucado, entre em contato com a Polícia Ambiental para o resgate
(tel. 0800-555190) ou com o Ibama
(tel. 0800-61-8080)
Onde saber mais
www.ibama.gov.br/patrimonio
www.prodam.sp.gov.br/svma/parques/medicina.htm
www.sosfauna.org
www.mataciliar.org.br
Como funciona a reabilitação
– A partir de
denúncias, os animais são resgatados pelas polícias Civil e Ambiental, pelo Ibama ou pelo Corpo de
Bombeiros;
– Eles são encaminhados para ONGs ou órgãos públicos de reabilitação, onde
são examinados e tratados por veterinários;
– Os bichos que se recuperam são devolvidos a seus habitats naturais;
– Todo animal solto recebe uma anilha com o contato
da instituição responsável pela soltura, para o caso de uma recaptura; com
isso, é possível estudar o fluxo migratório dos bichos;
– Aqueles que apresentam sequelas e não têm
condições de retornar à natureza são encaminhados a zoológicos.
Fonte: Folha Online, acesso em 25/05/2009