Fiscais de serviços de
inspeção e técnicos de frigoríficos de Santa Catarina serão treinados a
partir deste mês para se adequar à série de normas de abate humanitário, que
regulamenta métodos de manejo com menos sofrimento para animais.
O Ministério da Agricultura tem norma desde 2000 estabelecendo como
obrigatório o abate desse tipo. Mas, segundo a Abrafrigo
(Associação Brasileira de Frigoríficos), empresas menores ainda não adotaram
os procedimentos.
Uma das idealizadoras do treinamento é a Sociedade Mundial de Proteção
Animal, que estima que o número de produtores que adotam a norma não atinja
nem a metade dos abatedouros do país.
O treinamento será ampliado para outras regiões do país em um segundo
momento.
Segundo a sociedade, serão ensinadas técnicas ainda mais rígidas do que as
estabelecidas pelo governo federal.
No abate humanitário, os bovinos são insensibilizados com o uso de uma
pistola pneumática. Segundo a Sociedade Mundial de Proteção Animal, a maior
preocupação do programa é banir o modo tradicional em que o boi é alvo de
golpes de marreta na cabeça.
O método também estabelece um número máximo de animais em confinamento em um
espaço, como forma de evitar uma lotação que gere contusões nos bois. Também
define modos de transporte mais seguros para o animal.
Em aves e suínos, a insensibilização no abate humanitário é feita por meio de
eletrodos colocados para permitir a passagem de uma corrente elétrica.
Mercado externo
O treinamento, que deve durar um ano e meio, será feito com técnicos de todos
os frigoríficos catarinenses.
A adoção do conjunto de técnicas também atende a uma pressão do mercado
internacional por um manejo dos animais com menos sofrimento.
Ricardo Gouvêa, do Sindicarnes (representa a
indústria de aves e suínos
países que visitam o Estado questionam os produtores sobre a adoção das
normas.
Para ele, apesar do custo adicional que a adoção das normas gera para os frigoríficos,
o manejo de animais por meio da técnica é um investimento para atender os
requisitos internacionais. Segundo o sindicato, as maiores empresas do setor
no Estado já adotam o método.
De acordo com a Abrafrigo, as regiões Norte e
Nordeste do país são as que têm mais produtores de carne que ainda não
utilizam o método.
Carne melhor
O veterinário Elvert de Oliveira, gerente de
inspeção animal do governo de Santa Catarina, diz que o ideal seria colocar
na embalagem da carne um alerta ao consumidor de que a produção foi feita
pelo método de abate animal considerado humanitário.
Oliveira também afirma que o abate com métodos menos estressantes para o
animal gera uma carne até de mais qualidade para o consumidor. “O negócio não
é tratar o animal na base da cacetada”, disse.
Em Santa Catarina, todos os frigoríficos devem ter ao menos quatro
integrantes participando do treinamento.
O Ministério da Agricultura não tem estimativas sobre a quantidade de
produtores que usam o método humanitário de abate no país.
A meta inicial do treinamento do método é instruir 2.000 inspetores federais,
estaduais e municipais de todo o Brasil.
Abate humanitário
– É um conjunto de medidas de manejo e de abate de bovinos, suínos e aves que
visam reduzir o sofrimento do animal e melhorar a qualidade da carne;
– No modo tradicional, o boi é morto a golpes de marreta;
– Pelo método humanitário, por meio de uma pistola pneumática, o animal é
insensibilizado;
– Em suínos e aves, o abate humanitário ocorre por meio de choque elétrico;
– Há limites para a concentração de animais confinados. Com menos bois em
mais espaço, o risco de lesões diminui.
Fonte: Folha de S. Paulo, 21/07/2009