Grupos
mais bem estruturados começam a ocupar espaços deixados por rivais em
recuperação judicial
A crise financeira global teve
um efeito devastador sobre os frigoríficos brasileiros. Grandes grupos, como
Independência, Arantes, Margen e Quatro
Marcos não resistiram às turbulências do mercado e tiveram de apelar
para a recuperação judicial, fechando unidades e demitindo milhares de
pessoas. Mas algumas empresas conseguiram fugir desse cenário e já se
preparam até para uma retomada do consumo mundial de carne, que alguns
analistas preveem para o final deste ano.
Grupos mais estruturados, que conseguiram equacionar o endividamento e manter
abertas as linhas de financiamento, começam agora a ampliar investimentos. É
o caso do Marfrig e do JBS Friboi, que recentemente
anunciaram investimentos na construção de unidades e arrendamentos de outras
plantas, até mesmo ocupando espaços deixados pelos rivais em dificuldades.
Na avaliação de Fabiano Tito Rosa, analista da Scot
Consultoria, o ambiente de negócio no mercado internacional melhorou nos
últimos meses. A saída de algumas empresas do mercado diminuiu a concorrência
e a ociosidade das indústrias. “Além disso, o mercado externo está melhorando
e as linhas de crédito, mesmo um pouco mais caras, voltaram a ficar
disponíveis. Em toda a crise tem quem fecha e tem quem cresce. Os que
sobreviveram estão crescendo”, afirma Tito Rosa.
Ações
Outro sinal de que as expectativas para as empresas mais bem estruturadas são
positivas é o desempenho das ações das três empresas com capital aberto na
Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Duas delas tiveram uma valorização
mais de duas vezes superior ao desempenho da própria bolsa. Enquanto o
Ibovespa apresenta um ganho de cerca de 45% em 2009,
as ações da Marfrig Alimentos subiram cerca de
120%. O papéis do Minerva registram uma valorização
na casa dos 130%. Apesar de as ações da JBS não terem subido mais que o
Ibovespa, também registram um ganho que está longe
de ser desprezado, de 44,4% no período.
No início de julho, a JBS anunciou o arrendamento de cinco unidades de abate
e desossa de gado
Mato Grosso
cabeças por dia. As plantas, que estavam desativadas, vinham sendo operadas
pelo frigorífico Quatro Marcos, que sucumbiu à
crise. Com o arrendamento, a capacidade de abate de gado do JBS Friboi no
Brasil passou para mais de 26 mil cabeças por dia.
Também no mês passado, o Marfrig arrendou um
abatedouro no Rio Grande do Sul, com capacidade para 400 cabeças por dia, que
vai fornecer carne in natura para uma planta de produtos industrializados que
o grupo já tem no Estado. O Marfrig trabalha com o
objetivo de elevar o grau de industrialização de seus produtos, dos atuais
18% para 50% até 2012, e o negócio no Rio Grande do Sul se encaixa nessa
estratégia.
No final de junho, o Marfrig também começou a
construção de uma fábrica de abate e industrialização de suínos
investimentos estimados em R$ 150 milhões. O objetivo é utilizar a produção
diária de 1,2 mil suínos em Diamantino, proveniente das granjas da Carroll”s
Food, adquiridas pela Marfrig
em fevereiro do ano passado, para abater e industrializar 100% dessa produção.
Hoje, a empresa comercializa os suínos vivos para outras indústrias abaterem.
O Marfrig, além disso, continua a negociar uma
fusão com o frigorífico Bertin, que criaria um
gigante do setor. O negócio, porém, parece mesmo ter emperrado na discussão
sobre qual grupo ficaria no comando da nova empresa.
Já o diretor presidente do frigorífico Minerva,
Fernando Galletti de Queiroz, disse na semana
passada que o grupo também pode aproveitar esse momento atual para avançar no
mercado. “Sem dúvida alguma hoje nos posicionamos como consolidadores
do mercado. O nosso crescimento, a cada mês, vem superando o mês anterior. A
cada trimestre tem superado o trimestre anterior. Então a gente continua a
nossa política de crescimento e nos posicionando como consolidadores.
Estamos olhando oportunidades”, disse. Ele afirmou, porém, que a empresa não
vai se afastar de sua estratégia atual, que considera “conservadora e
saudável”.
Fonte:
Estado de S. Paulo, 03/08/2009