Pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF) comprovaram pela primeira vez que uma planta – a barbatimão – inibe os efeitos do veneno da surucucu, uma das mais letais e a maior serpente venenosa da América do Sul. A descoberta pode facilitar a produção de um soro e baratear os custos do antídoto. Entre 2001 e 2006, 1.200 pessoas morreram no Brasil picadas por cobras, segundo dados da Fundação Nacional de Saúde. No mundo, ocorrem 100 mil mortes anualmente.
A barbatimão (S.barbatiman) é uma árvore do cerrado brasileiro que alcança até seis metros de altura. “Povos nativos, índios, caboclos e mateiros, que não têm acesso ao soro antiofídico, utilizam essa planta contra picada de cobra. A crendice popular já apontava para uma ação antiofídica. Faltava a comprovação científica”, explicou o bioquímico André Fuly, professor do departamento de Biologia Celular e Molecular da UFF, que orientou a tese de mestrado em neuroimunologia de Rafael Cisne de Paula.
Durante o trabalho de De Paula, ele conseguiu comprovar que o barbatimão inibiu quatro efeitos provocados pelo veneno de surucucu – hemorrágico, coagulante, hemolítico (destrói glóbulos vermelhos do sangue) e proteolítico (reação de decomposição das proteínas). Nos testes feitos com camundongos, observou-se um efeito protetor de hemorragias – todos os animais que ingeriram a planta em forma de chá e depois foram inoculados com o veneno não tiveram sangramentos. “Isso pode ser útil para quem vai trabalhar na mata e poderia beber o chá como precaução”, observa Fuly.
O barbatimão já é reconhecido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) por sua ação cicatrizante e é usado em forma de chá ou emplastro. Os pesquisadores da UFF testaram os efeitos do extrato da planta injetável. Mas ainda é cedo para se falar em soro fitoterápico. Os cientistas ainda têm de fazer outros testes para outros efeitos do veneno da surucucu, como o miotóxico (capacidade de lesar os músculos).
“O soro antiofídico que se utiliza hoje tem alto custo de produção e distribuição e não inibe todas as ações do veneno. Se o indivíduo não morre, pode ficar com sequelas. Também tem um índice de reação alérgica bastante grande – de 30% a 40% dos casos”, afirma Fuly. “É por isso que existe um trabalho árduo na busca por tratamentos mais eficazes. Nosso objetivo, a partir dos resultados promissores, é chegar à produção de um soro fitoterápico com propriedade antiofídica.”
Fonte: Jornal Cruzeiro do Sul (acessado em 21/07/10)