Mesmo não tendo participação decisiva na constituição do Produto Interno Bruto (PIB), o setor pecuário brasileiro integra uma rede social do agronegócio que emprega número expressivo de trabalhadores e direciona grande parte de sua produção para o mercado interno. De acordo com o secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Márcio Portocarrero, 37% do PIB nacional é gerado por todo o complexo do agronegócio e a pecuária representa um setor tradicional e estratégico da economia brasileira.
Portocarrero participa, em Buenos Aires, de um encontro da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) que reúne Brasil, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai. O secretário explicou que, mesmo sendo o maior exportador de carne bovina do mundo, o setor pecuário brasileiro não tem peso expressivo na balança comercial porque o País tem presença muito forte na área de grãos e de outras commodities. “Não analisamos a carne sob o ponto de vista de liderar, ou não, o mercado, mas, dentro do contexto social, de ser uma área estratégica do governo dentro do complexo econômico.”
Márcio Portocarrero afirmou que o pecuarista sempre dirá que o preço da carne no Brasil é barato porque ele sabe o quanto custa produzi-la. “O dono do açougue ou do supermercado dirá que ganha pouco vendendo carne. Essa é uma questão de construção econômica da cadeia. Acho que a carne, no Brasil, é um produto barato. A carne que sai do País e vai para o mundo, com todas as exigências de exportação, chega um pouco mais cara ao exterior. Existe aí um espaço de ganho que não é alcançado pelo produtor e, por outro lado, não há como o governo interferir porque essa é uma questão do mercado.”
Segundo o secretário, o pecuarista sempre reclama dos ganhos de sua atividade porque recebe muitas cobranças do mercado sobre a rastreabilidade dos animais, as condições sanitárias dos rebanhos, o manejo, a adaptação de suas estruturas às regras de bem-estar animal e o transporte adequado. “Isso, de acordo com o setor produtivo, não é remunerado a contento. Essa é uma crise permanente em que não há como interferir porque entendemos que é uma questão mercadológica, um jogo de oferta e procura”, diz.
Recentemente, a Argentina perdeu para o Uruguai o posto de maior consumidor de carne na América do Sul. De acordo com Márcio Portocorrero, o Brasil não tem interesse em ocupar o posto. “No caso da Argentina, há toda uma cultura em relação ao consumo de carne que vem desde a época da colonização. O País é considerado grande produtor de carne de qualidade e existe um perfil da população muito específico em relação ao consumo do produto.”
O Brasil, segundo o secretário, é o maior exportador do mundo, mas não é o maior consumidor por muitas razões. “Uma delas é que somos grandes consumidores da carne de frango e de peixes. Temos uma dieta mais variada e adequada às condições econômicas e financeiras de todas as camadas da população.”
Fonte: Agência Brasil (acessado em 18/11/10)