Pesquisadores da Universidade de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, estão criando tabaranas (Salminus hilarii) para soltá-las no rio Tietê, abaixo da barragem de Ponte Nova, no município de Biritiba Mirim. Em breve, os pescadores terão uma nova opção de pesca no trecho preservado do Alto Tietê. “O projeto de repovoamento é uma tentativa de diminuir o impacto causado pelas barragens e pela poluição, e recuperar a população desse peixe tão importante para a região”, explica a bióloga Renata Guimarães Moreira.
Também conhecida como dourado branco, a tabarana é do mesmo gênero do dourado, porém de menor tamanho. Atinge 40 centímetros e, no máximo, um quilo. Tem coloração prata-esverdeada, e a mandíbula forte e protuberante. Como o dourado, a tabarana é uma predadora voraz e, por isso, bastante apreciada na pesca esportiva. Briguenta, é combativa na linha e, quando fisgada, dá saltos acrobáticos, tornando o embate emocionante.
Vive nas bacias do Prata e do São Francisco. Com o nome de tubarana, é encontrada também nas bacias Amazônica e Tocantins-Araguaia. Estudos recentes do biólogo da Universidade de São Paulo (USP) Flávio César Tadeo de Lima sustentam a tese de que a tabarana verdadeira se restringe aos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul. A chamada tubarana, encontrada na Amazônia e no Tocantins, seria uma outra espécie do gênero Salminus, ainda não nomeada.
“A tabarana é hoje um peixe emblemático de rios pequenos”, afirma Lima. “Abundante no passado, ela ainda sobrevive em pequenas quantidades em rios menores, como os afluentes do Tietê e do Rio Grande, no Estado de São Paulo. Em certos casos, é o principal predador desses rios, onde outros peixes carnívoros maiores, como o jaú e o próprio dourado, já não aparecem com frequência”.
A seu favor, a tabarana tem uma migração mais curta durante a piracema. O trajeto tem por volta de cem quilômetros, enquanto alguns dourados precisam percorrer até 1.400 quilômetros para desovar. Contra ela, a fecundidade menor. Cada fêmea põe em média 80 mil óvulos, quase oito vezes menos que a fêmea do dourado. Com isso, a preservação da tabarana se torna ainda mais importante e necessária.
O projeto de repovoamento de Mogi das Cruzes vai contar com o apoio da comunidade. “Pedimos que os pescadores daqui e até mesmo os agricultores também pesquem e capturem peixes adultos, prontos para servir como reprodutores. Levamos as tabaranas para os tanques de criação e depois para o laboratório, na relação de dois machos para cada fêmea. Lá, eles são induzidos à desova e à fecundação”, explica Renata. A taxa de fertilização, de 30 mil ovos na primeira experiência, e o desenvolvimento dos alevinos, alimentados com ração e larvas de outros peixes, superou a expectativa dos pesquisadores.
As tabaranas criadas pelos pesquisadores alcançam cerca de dez centímetros em quarenta dias, quando já podem ser soltas no Tietê. Para o zootecnista coordenador do projeto, Alexandre Wagner Hilsdorf, não basta jogar o peixe no rio.
“Não podemos criar alevinos de um só macho e uma só fêmea, como se fossem filhos de Adão e Eva. Precisamos do maior número possível de reprodutores para garantir a diversidade genética. Como os próprios pescadores contribuem com o nosso banco genético, queremos fazer do repovoamento um acontecimento comunitário. Eles nos trazem os reprodutores, nós devolvemos alevinos e mostramos que, para eles sobreviverem, não podemos poluir o rio ou destruir a mata ciliar. É preciso cuidar para que a água viva, e assim a tabarana também possa viver”.
Fonte: EPTV (acessado em 11/01/11)