A grande quantidade de hormônios lançada no meio ambiente pelo descarte irregular e pela urina das mulheres que usam anticoncepcionais e medicamentos para reposição hormonal, além de outras substâncias químicas, está causando uma feminização progressiva no reino animal.
Por viverem na água, os peixes são os principais afetados. Pesquisas feitas no Brasil e no exterior mostram que esse processo está interferindo na reprodução de peixes e outros organismos aquáticos.
Uma dessas pesquisas está sendo feita no Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), no campus de São Carlos, sob orientação da professora e pesquisadora Eny Maria Vieira.
“Submetemos os peixes ao contato com os hormônios e observamos que os machos produzem uma proteína característica da fêmea na idade adulta”, diz a pesquisadora. Ainda segundo Eny, não é normal o macho apresentar uma quantidade significativa de hormônio.
Como consequência, os peixes se reproduzem num ritmo bem abaixo do esperado. Esse processo tem atingido todas as espécies, e não são somente os hormônios femininos em excesso provocam a reversão de gênero, mas também alguns tipos de pesticidas e compostos químicos.
Eny trabalha nessa linha de pesquisa há cerca de dez anos, e durante esse período foram realizados estudos que comprovaram o processo de feminização dos peixes quando submetidos ao contato com uma grande quantidade de hormônios femininos, como o estrona, diol e estradiol.
As pesquisas foram realizadas usando peixes como base para as análises, porém, os efeitos podem se estender também a outras espécies de animais.
O objetivo atual da pesquisa, segundo Eny, é saber o quanto produtos de beleza, protetor solar e outros de cuidados pessoais também causam efeito endócrino nos peixes e outros organismos da comunidade aquática. Os estudos estão no começo e ainda não se chegou a nenhuma conclusão.
A pesquisadora revela que, de acordo com artigos científicos, as mulheres liberam naturalmente, por meio da urina, hormônios na natureza dos 8 aos 80 anos. Além da urina, outras formas de lançamento das substâncias no meio ambiente são através do descarte de medicamentos, como contraceptivos e reprodutor hormonal.
Uma vez misturado ao lixo doméstico, esses medicamentos vão para os aterros sanitários, onde se decompõem. Embora, os aterros precisam seguir uma série de recomendações das autoridades ambientais, há sempre risco de contaminação do solo, de lençóis freáticos e de rios.
Uma das formas de neutralizar a ação dos hormônios na água, segundo estudo que está sendo realizado também pela USP de São Carlos, é desenvolver mecanismos que favoreçam a degradação dessas substâncias, assim perderiam a atividade estrogênica.
Como grande parte dos hormônios estrogênicos são liberados pela urina, as ações de reversão dos efeitos deveriam ser focadas no tratamento do esgoto. Não bastaria apenas eliminar a carga orgânica do esgoto que é liberada no ambiente, mas fazer também a degradação dos hormônios.
Dessa forma, a água teria uma carga menor de compostos estrogênicos, o que afetaria menos a vida aquática e outros animais que utilizam essa água.
Fonte: Jornal da Cidade de Bauru (acessado em 28/02/11)