Cabras transgênicas brasileiras produzem leite com medicamento

Cientistas brasileiros estão usando cabras transgênicas para produzir o equivalente mais eficiente de um medicamento que custa R$ 500 cada ampola. Segundo os cientistas, os animais geneticamente modificados funcionam como biorreatores, ou seja, uma espécie de “fábrica biológica” para os medicamentos.

A transgênese em mamíferos para produção de biorreatores é mais eficiente do que o tradicional cultivo de bactéria ou de células de mamíferos porque os animais produzem uma proteína mais similar à natural e de maneira mais econômica.

“De forma geral, os medicamentos assim produzidos seriam mais eficientes e mais baratos”, afirma o pesquisador do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (UFRJ) Vicente Freitas.

Proteína hG-CSF

O foco do trabalho de Vicente e sua equipe, em parceria com cientistas da Rússia, é o uso de biotecnologias na reprodução dos animais para a multiplicação de caprinos transgênicos capazes de secretar a proteína hG-CSF.

A proteína hG-CSF é um medicamento importado amplamente utilizado devido à eficiência comprovada contra diferentes formas de neutropenia e leucopenia, induzidas por quimioterapia. Existem no mercado duas apresentações do remédio, ambos custando em média R$ 500 a ampola.

Geração das cabras transgênicas

Pesquisas com animais transgênicos são alternativas viáveis no desenvolvimento de novos medicamentos para o tratamento de diversas doenças em humanos. A transgênese em grandes animais, sobretudo em ruminantes, é uma importante aplicação biotecnológica para a produção de proteínas recombinantes em escala comercial.

“De uma maneira resumida, cabras doadoras de embriões são induzidas para superovular com uso de hormônios. Essas cabras são cobertas por bodes férteis e algumas horas após a fecundação faz-se a colheita cirúrgica dos embriões recém-fecundados. Os embriões são levados a um microscópio acoplado a um micromanipulador onde é realizada a microinjeção. Após esse procedimento, os embriões são transferidos para cabras receptoras que levarão a gestação até o parto. Após o nascimento, um teste de DNA irá detectar os animais transgênicos”, explica Vicente.

A cabra geneticamente modificada é submetida a uma lactação induzida (sem a necessidade de gestação) e produz aproximadamente 630 microgramas de hG-CSF por mililitro (ml) de leite. Isso equivale a quase duas ampolas do medicamento disponível no mercado. Cada paciente normalmente é submetido a um tratamento completo de 14 ampolas.

“Na hipótese de uma recuperação de 100% da proteína no leite, somente sete mililitros do leite de nossa cabra seriam suficientes para um tratamento. Imagine que essa cabra pode produzir até um litro de leite por dia e ter uma lactação que dura em torno de 150 dias. Dessa forma, acreditamos que um pequeno rebanho transgênico pode atender à necessidade de hG-CSF do Brasil” ressalta Vicente.

Após a colheita do leite e purificação da proteína é que o medicamento poderá ser produzido. Contudo, antes da comercialização, virá uma etapa longa, que consiste na validação do medicamento, com a realização de testes pré-clínicos e clínicos, entre outros.

Para a produção da proteína em escala comercial, será necessário um número adequado de cabras lactando e secretando a proteína recombinante em seu leite. Por isso, são utilizadas duas estratégias: o uso do sêmen do macho transgênico para fecundação de cabras não transgênicas e produção de embriões da fêmea transgênica após fecundação com sêmen de macho não transgênico, com posterior transferência para cabras receptoras.

As estratégias têm-se mostrado eficientes. Em menos de um ano de projeto, o grupo já obteve descendentes tanto para o macho como para a fêmea transgênica.

Fonte: Diário da Saúde (acessado em 06/04/2011)

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