Depois de registrarem alta generalizada no atacado em agosto, os preços das carnes poderão ficar mais salgados para o consumidor brasileiro nos próximos dois meses. Puxadas pela combinação entre oferta mais restrita e demanda externa aquecida, as carnes bovina, de frango e suína apresentam tendência altista neste segundo semestre. Esse cenário, aliado à queda dos preços dos grãos usados na ração animal, significa margens polpudas para os produtores e para a indústria.
Segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), vinculado à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), a cotação da carne suína (carcaça comum) no atacado da Grande São Paulo subiu cerca de 20% em agosto. Também em alta, o frango inteiro resfriado registrou valorização superior a 15%, enquanto a carne bovina (carcaça) subiu 5%. Parte desse movimento ascendente começou a chegar ao consumidor na segunda metade do mês passado.
“Não tem para onde correr”, afirmou o analista da consultoria MB Agro, César Castro Alves, em referência ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice oficial de inflação calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, interrompe-se a tendência de retração que vinha contribuindo para a desaceleração da inflação no país.
Na avaliação da economista da Tendências Consultoria, Amaryllis Romano, a alta dos preços ao consumidor deverá ocorrer, mas não tão facilmente. “Está um pouco difícil chegar ao consumidor, porque a renda dele está sentido bastante”, disse. Segundo ela, a inflação no Brasil deu certo alívio nos últimos meses, mas “comeu” a renda do brasileiro em boa parte do ano. Diante disso, a alta das carnes pode acontecer em um intervalo de tempo mais dilatado, ponderou.
No caso específico da carne bovina, há outro obstáculo, diz Castro Alves, da MB Agro. A questão é que a cotação do produto já está próxima do recorde – o dianteiro bovino tem oscilado em torno de R$ 7 por quilo no atacado. “Não acho que o consumidor vai ficar aceitando esse nível de preço sistematicamente, mas está rondando perto do recorde”, afirmou ele. Mesmo com essa ponderação, considera Alves, o consumidor até agora vem aceitando os preços.
Para as carnes de frango e suína, o cenário é francamente positivo para produtores e frigoríficos. Com o preço agora em alta no atacado e a forte queda dos grãos usados na ração animal, as margens dos dois segmentos são “excepcionais”, disse o analista da MB Agro.
Na avaliação de Castro Alves, o atual cenário francamente favorável para o frango poderá elevar a produção em 2015. Com margens elevadas, afirmou ele, a expectativa é de que a indústria nacional aumente a produção, o que colocaria o preço da carne em trajetória descendente. Isso, claro, se não houver alterações nas perspectivas para os preços de grãos da ração animal.
No acumulado do ano até julho, a produção de pintos de corte teve leve queda de 0,33%, para 3,573 bilhões de cabeças, conforme informações da Apinco. Considerando-se apenas o mês de julho, houve incremento de 2% em relação à igual período de 2013, para 542,8 milhões de aves.
Fonte: Avicultura Industrial.