Vacinação voluntária contra Febre do Nilo Ocidental é autorizada pelo Mapa

Comissão Técnica de Equideocultura do CRMV-SP liderou movimento do setor junto à pasta, com apoio do CFMV, para liberação
Texto: Comunicação CRMV-SP / Foto: Pexels-Pixaby

De forma a atender à solicitação de médicos-veterinários do Estado de São Paulo que exercem atividades na área, a Comissão Técnica de Equideocultura do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CTE/CRMV-SP) coordenou movimento e obteve parecer favorável do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) à vacinação de equinos contra Febre do Nilo Ocidental (FNO) em território nacional, a critério dos responsáveis pelos animais.

Em resposta ao documento técnico enviado ao Ministério, o diretor do Departamento de Saúde Animal da pasta, Geraldo Marcos de Moraes, informa que o pleito quanto à liberação da vacinação voluntária de equinos contra FNO em território nacional foi avaliado pela equipe técnica com parecer favorável e esclareceu, ainda, que no regramento que trata do registro e fiscalização de produtos de uso veterinário pelo Mapa não há proibição ao registro de vacina para prevenção da FNO em equinos no País.

“Encaminharemos aos serviços oficiais de saúde animal nos Estados orientações atualizadas sobre atividades de prevenção e controle da FNO, incluindo a possibilidade da vacinação voluntária contra a doença no Brasil”, destaca Moraes. 

Integrante das comissões técnicas de Equideocultura e de Bem-estar Animal do CRMV-SP, e docente da Universidade de Sorocaba, Claudia Sophia Leschonski ressalta a importância do parecer favorável do Mapa para que os médicos-veterinários de equinos possam oferecer a seus clientes a possibilidade desta imunização.

Há aproximadamente 20 anos, a vacina contra a doença está disponível comercialmente nos EUA e na Europa, embora sua distribuição e utilização não fossem até o momento autorizada no Brasil. “O padrão de cuidados com nossos cavalos ganha um predicado adicional. Em outra frente, ficamos satisfeitos em saber que o Mapa está disposto a atender às demandas do setor, e que juntos podemos trabalhar para a evolução da Equinocultura.”

Segundo o coordenador técnico médico-veterinário do CRMV-SP, Leonardo Burlini Soares, desde 2009 reações sorológicas para o vírus da FNO em equinos vêm sendo descritas no País e em 2018 e 2019 foram confirmados casos nos estados de São Paulo, Espírito Santo e Ceará, assim como também houve ocorrência em humano no Piauí (2014). “Tudo isso reforça a necessidade de intensificação da vigilância para a detecção da doença e de medidas de controle. A resposta do Mapa ao material enviado pelo CRMV-SP é uma grande e relevante conquista para a equideocultura nacional.”

Contribuição técnica

O documento técnico elaborado para embasar o pedido ao Mapa teve a contribuição de profissionais que são referência nacional e internacional da área da Equideocultura, e que atuam em instituições de ensino e pesquisa, em clínicas e propriedades rurais, na defesa sanitária animal e na indústria farmacêutica.

Entre os participantes estão, além de Claudia, os membros da CTE/CRMV-SP: Otávio Diniz, presidente da Comissão e médico-veterinário aposentado da Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo (CDA); Rui Carlos Vincenzi, primeiro secretário da Associação Brasileira dos Médicos-veterinários de Equídeos; Affonso dos Santos Marcos, diretor técnico do Departamento de Defesa Sanitária e Inspeção Animal da CDA; Mirian Rodrigues, docente da Universidade do Oeste Paulista, e Marcos Sampaio de Almeida Prado, profissional autônomo. 

Contribuíram também os médicos-veterinários José Joffre Martins Bayeux, docente da Universidade do Vale do Paraíba; Erica Azevedo Costa, docente do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais; Karla Dantas Madeira da Costa, coordenadora técnica comercial da Univitta; e Pollyana Rennó Campos Braga, gerente de produto da linha equinos da empresa Ceva.

Prevenção

Claudia ressalta que a FNO é uma zoonose reconhecida há décadas, responsável por surtos em equinos com elevados índices de mortalidade. Nos EUA, segundo diretrizes da American Association of Equine Practitioners (AAEP), a vacinação de todo o plantel equídeo contra a doença é considerada essencial para o bom manejo sanitário.

“Nos últimos anos, alguns casos positivos de FNO foram confirmados em equídeos brasileiros. Considerando que esta doença tem as aves migratórias entre os seus vetores, e levando também em conta a grande similaridade de sintomas entre algumas enfermidades infecciosas com sintomatologia nervosa que acometem equídeos, a possibilidade de que a FNO possa se disseminar pelo plantel equídeo brasileiro precisa ser levada a sério”, pondera a médica-veterinária.

De acordo com Soares, a FNO é uma zoonose de notificação obrigatória, que nos seres humanos é assintomática na maioria das vezes, mas que também pode causar febre e dores de cabeça e no corpo, assim como, de maneira menos frequente, evoluir para sintomas mais graves, como meningite, encefalite e paralisia, ainda podendo levar ao óbito, o que é mais raro.

Diagnóstico Diferencial e Impacto Econômico

Os sinais clínicos da FNO em equídeos são semelhantes aos de várias doenças neurológicas, como as encefalomielites equinas do leste e do oeste, raiva e intoxicações, por exemplo. Assim, a vigilância deve seguir os procedimentos estabelecidos para a Síndrome Nervosa dos Herbívoros e realizar o diagnóstico diferencial.

Impacto econômico

Com alto índice de mortalidade nos animais afetados, Claudia ressalta que a FNO traz graves sequelas neurológicas que demandam a eutanásia e, em outros casos, pode resultar na incapacitação funcional permanente. Nos equídeos, a letalidade é de aproximadamente 35%, com outros 40% ainda apresentando sequelas neurológicas em seis meses ou após a remissão da fase aguda da doença.

“Os equídeos de esporte e de função costumam ter alto valor agregado, tanto econômico quanto afetivo. A grande demanda pela possibilidade de utilização da vacina por parte dos médicos-veterinários de equídeos destaca a importância individual destes cavalos, muares e jumentos para os proprietários e criadores que continuamente investem neles”, pondera a integrante da CTE/CRMV-SP.

Febre do Nilo Ocidental 
Como encefalite viral, a FNO causa sintomas neurológicos similares aos do herpes vírus equino, da encefalite equina e da raiva. 
Nos equídeos, tem letalidade de aproximadamente 35%, sendo que outros 40% ficam com sequelas neurológicas. 
Por ser uma zoonose a FNO também infecta seres humanos e cerca de 1% dos pacientes falecem em decorrência da doença.
Transmissão
- aves migratórias são hospedeiras naturais do vírus; 
- mosquitos Culex spp. são vetores; 
- humanos e equinos são hospedeiros acidentais;
- transmissão para humanos se dá via picada de mosquito  e não pelo contato com cavalos. 
Diagnóstico em animais:
- levar ao médico-veterinário todo equídeo com sintomas neurológicos;
- será necessária a coleta de material para exame laboratorial e confirmação do quadro;
- alguns diagnósticos diferenciais são feitos apenas no post-mortem, portanto carcaças não devem ser descartadas sem coleta e exames macro e microscópicos. 
Sintomas em humanos:
- maioria das pessoas é assintomática; 
- formas graves da doença atingem o sistema nervoso central com meningite e encefalite; 
- febre alta e rigidez da nuca, convulsões, coma e paralisia são comuns em casos graves.
Medidas preventivas: 
- controle de insetos hematófagos; 
- utilização de barreiras físicas e químicas para reduzir contato com insetos; 
- vacinação voluntária dos equídeos.
Fonte: CRMV-SP

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