No dia 3 de novembro, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) sediou o XI Encontro de Ceuas (Comitê de Ética no Uso de Animais) da Sociedade Brasileira de Profissionais em Pesquisa Clínica (SBPPC) e o XVI Fórum da Comissão de Ética no Uso de Animais (CeuaVet) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP). O evento reuniu pesquisadores, representantes da indústria, órgãos regulatórios e entidades de classe para debater o tema central “A pesquisa clínica veterinária e os desafios éticos para a condução de estudos clínicos”.
A mesa de abertura contou com a presença da presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), Daniela Pontes Chiebao, que destacou o trabalho da única comissão técnica dedicada ao tema no Estado, a Comissão de Pesquisa Clínica Veterinária, que é presidida pela médica-veterinária Greyce Lousana. “As ações do CRMV-SP têm sido fundamentais para uniformizar o cadastro das entidades, aprimorar o diagnóstico da situação no Estado e classificar as informações de registro, o que permite estabelecer escalas de risco e estratégias de atuação mais precisas”, afirmou.
Durante as discussões, Greyce Lousana, ressaltou o papel essencial das Ceuas na avaliação criteriosa dos estudos clínicos e na garantia do bem-estar animal. “As comissões têm um papel fundamental nesse processo, mas ainda enfrentam desafios importantes, como a necessidade de maior capacitação e a prevenção de conflitos de interesse, o que torna indispensável o aprimoramento técnico e ético contínuo dos profissionais envolvidos”, disse a médica-veterinária.
Greyce também enfatizou que o cumprimento rigoroso das normas estabelecidas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e pelo Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) é indispensável para assegurar a qualidade científica e a integridade das pesquisas. “O setor tem avançado de forma consistente por meio da capacitação continuada, da implementação de sistemas de gestão da qualidade e da aplicação efetiva das Boas Práticas Clínicas Veterinárias, práticas que garantem o desenvolvimento de produtos mais seguros, eficazes e alinhados aos princípios de responsabilidade ética e bem-estar animal”, afirma.
Desafios e necessidade de padronização
Um dos temas mais debatidos foi a complexidade dos estudos clínicos realizados fora de ambientes institucionais, que envolvem diferentes espécies e condições de campo. Essa diversidade impõe desafios à padronização dos processos e à harmonização das boas práticas, tanto em pesquisas acadêmicas quanto em estudos conduzidos pela indústria.
As discussões destacaram que o avanço da pesquisa clínica veterinária no Brasil depende da criação de sistemas robustos de gestão da qualidade, capazes de garantir rastreabilidade e confiabilidade dos dados, independentemente do local de execução dos estudos. A padronização das boas práticas clínicas, laboratoriais e regulatórias foi apontada como essencial para o fortalecimento científico e o reconhecimento internacional dos resultados obtidos no país.
Ética, inovação e responsabilidade
Os especialistas também enfatizaram que a inovação exige investimento, capacitação e diálogo permanente com os órgãos reguladores. A atualização constante das normas deve acompanhar o ritmo acelerado das novas tecnologias, assegurando que o desenvolvimento científico ocorra de forma ética e sustentável.
No encerramento do evento, foi ressaltado que a pesquisa clínica veterinária brasileira vive um momento de consolidação e amadurecimento, impulsionado pelo compromisso com a qualidade, a ética e a inovação. “A integração entre profissionais, instituições e reguladores sinaliza um futuro promissor para o setor, em que o avanço científico caminha lado a lado com o respeito à vida animal e à responsabilidade social da Medicina Veterinária”, disse Greyce Lousana.