Agronegócio brasileiro busca alternativas para se adaptar às mudanças climáticas

Pesquisa mostra que as variações no clima regional podem comprometer a viabilidade de 74% das terras agrícolas na fronteira Amazônia-Cerrado até 2060
Texto: Comunicação CRMV-SP / Foto: Freepik

Relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), divulgado em junho de 2024, aponta uma probabilidade de 80% de que, nos próximos cinco anos, a temperatura média global anual ultrapasse em pelo menos 1,5°C os níveis pré-industriais. Esse aumento reflete o aquecimento contínuo devido à emissão de gases de efeito estufa (GEE) e destaca a iminente superação dos limites do Acordo de Paris, que busca controlar o aumento da temperatura a longo prazo.

Os dados indicam uma urgência global em relação às mudanças climáticas, cujos impactos já afetam setores essenciais da economia, como o agronegócio. “O aumento das precipitações, a elevação da temperatura média global e a intensificação de eventos climáticos extremos causam sérios transtornos à produção de alimentos, resultando em destruição de infraestruturas rurais, aumento dos custos de insumos, diminuição dos recursos naturais, insegurança alimentar e propagação de enfermidades.”, alerta a presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), médica-veterinária e pesquisadora na área de Agronegócio, Daniela Pontes Chiebao.

O agronegócio brasileiro, que representa 27% do Produto Interno Bruto (PIB) e cerca de 20% dos empregos formais, enfrenta grandes desafios devido às mudanças climáticas. Segundo a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, até 2060, 74% das terras agrícolas na fronteira Amazônia-Cerrado podem se tornar inviáveis.

“Os extremos climáticos estão causando grandes perdas na produção de alimentos, como leite, ovos e carne, aumentando os custos e demandando profissionais tecnicamente preparados para enfrentar esses desafios”, explica a zootecnista e presidente da Comissão de Zootecnia e Ensino do Regional, Kátia de Oliveira.

Soluções e adaptações necessárias

O setor agropecuário brasileiro enfrenta desafios que exigem preparação constante e atualização. De acordo com o zootecnista e professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP, Celso Carrer, é essencial criar alternativas que conciliem a produção com a conservação dos biomas e bancos genéticos.

“Questões ambientais e de transporte devem ser abordadas como políticas de estado, com ações planejadas para um agronegócio profissional que forneça proteína animal de qualidade a preços acessíveis. É crucial entender os impactos das mudanças climáticas para desenvolver planos que mitiguem os riscos no Brasil”, diz.

Investimentos públicos

Projetos multidisciplinares estão sendo desenvolvidos globalmente para reduzir problemas na agricultura. “Uma das estratégias é a agricultura de precisão, que utiliza drones, sensores e satélites, com apoio da National Aeronautics and Space Administration (Nasa), para monitorar as culturas e prevenir problemas”, explica Daniela Chiebao.

Embora algumas áreas tradicionais de cultivo estejam enfrentando desafios, novas regiões estão surgindo como alternativas. “No Brasil, agências de fomento à pesquisa têm lançado editais para diversificar culturas, garantindo que, se uma produção for afetada por condições climáticas adversas, outras possam continuar a prosperar”, afirma a presidente.

Segundo Daniela, os Institutos de Pesquisa do Estado de São Paulo estão investindo na ampliação de bancos de germoplasma, que armazenam material genético nacional, para desenvolver novos produtos. “Além disso, há um foco na expansão do controle biológico, substituindo defensivos químicos na prevenção de pragas e doenças”, conta.

Realidade na produção

Para Sérgio Raposo de Medeiros, agrônomo e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a produção sustentável é aquela que se mantém ao longo do tempo, e que beneficia principalmente o produtor. “Ela se baseia em três pilares: justiça social, responsabilidade ambiental e viabilidade econômica. Dentre esses, a viabilidade econômica é a mais crucial, pois apenas os produtores financeiramente estáveis conseguem cumprir compromissos sociais e ambientais”, enfatiza.

Cumprir a legislação ambiental, como o “Código Florestal”, é essencial. Além disso, uma produção eficiente reduz o uso de recursos e a geração de resíduos. “Por exemplo, um bovino mal alimentado pode emitir menos metano, mas a emissão por quilo de carne produzida será alta. Portanto, a métrica recomendada é a intensidade de emissão de gases de efeito estufa (GEE) por unidade de produto, como kg de metano por kg de carne”, diz o pesquisador.

De forma geral, quanto maior a produção de carne ao longo do tempo, menor será a emissão por quilo produzido. “Produzindo mais carne por animal, é possível reduzir o número de animais e, consequentemente, as emissões. Assim, há um alinhamento entre menor impacto ambiental e maior produção, focado em aumentar a eficiência”, destaca Medeiros.

Responsabilidade profissional

Os profissionais das Ciências Agrárias devem se manter atualizados com informações recentes e científicas. “Além das instituições governamentais e públicas, a iniciativa privada também fornece recursos, como o programa Agricultural Model Intercomparison and Improvement Program (AgMIP), que analisa modelos agropecuários e suas respostas às mudanças climáticas, oferecendo previsões para o agronegócio brasileiro”, indica Daniela Pontes Chiebao.

No Brasil, a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) apoia estudos sobre sustentabilidade e tecnologia por meio da plataforma BrazilianFarmers, que apresenta dados verificados. “Médicos-veterinários e zootecnistas, como promotores da Saúde Única, devem compartilhar conhecimentos confiáveis adquiridos em sua formação continuada”, orienta a presidente do Regional.

COP 30

A Conferência do Clima (COP30) ocorrerá em novembro em Belém, Pará, e representa uma oportunidade para o Brasil destacar seu compromisso com um agronegócio sustentável. Para Sérgio Raposo de Medeiros, da Embrapa, o foco das discussões deve ser a importância de reduzir o uso de combustíveis fósseis e a transição energética. “Também devemos destacar os avanços da agropecuária brasileira em tecnologias científicas, como melhoramento animal e vegetal, manejo sustentável, pecuária de precisão e genômica”, diz.

Para a zootecnista e conselheira do CRMV-SP, Kátia de Oliveira, o Brasil precisa se empenhar na reabertura e no avanço dos debates sobre a redução das emissões de gases poluentes, um tema que, conforme ela, foi abordado de maneira tímida na Conferência anterior, realizada no Azerbaijão. “Será necessário buscar financiamento global e cultivar a boa vontade política para implementar ações contra as mudanças climáticas, especialmente diante da postura adversa dos Estados Unidos em relação a essas questões, o que poderá representar um obstáculo adicional nas negociações”, afirma.

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