Alerta amarelo: 30% dos gatos com mais de 15 anos têm doença renal crônica

Enfermidade silenciosa se manifesta apenas quando funcionamento do órgão já está 75% comprometido. Confira dicas dos especialistas para prevenir e identificar o problema
Texto: Comunicação CRMV-SP
Foto: Pixabay

No Dia Mundial do Rim, celebrado hoje (14/03), o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) aproveita a oportunidade para alertar também sobre os cuidados, a prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento de doenças renais em gatos e cães. A doença renal crônica e a insuficiência renal aguda são duas das mais comuns. De acordo com estudo publicado pelo Centro Médico de Minnesota, nos Estados Unidos, 10% dos cães e 30% dos gatos com mais de 15 anos possuem doença renal crônica.

“É uma doença silenciosa e só vai se manifestar clinicamente quando 75% da função renal estiver comprometida. Apesar de não ter cura, ela pode ser controlada e oferecer qualidade de vida ao paciente”, declara o membro da Comissão Técnica de Clínicos de Pequenos Animais do CRMV-SP, Fausto Hayashi.

Integrante da Comissão de Clínicos de Pequenos Animais do CRMV-SP, Otávio Verlengia, ressalta que a doença renal crônica é irreversível e progressiva. Por isso, é fundamental focar na prevenção, com consultas periódicas com um médico-veterinário e a realização de exames preventivos.

A alimentação deve ser balanceada, elaborada por médico-veterinário ou zootecnista. “Se for comida, deve ter a quantidade equilibrada de nutrientes. Se for ração, deve ser de boa qualidade e adequada à idade do animal, sempre com conhecimento de um profissional”, recomenda Verlengia. A quantidade de proteínas deve ser adequada, pois o excesso pode sobrecarregar a função renal.

Tanto na Medicina quanto na Medicina Veterinária, o mês de março é marcado pela campanha “Março amarelo”, voltada à conscientização sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce de doenças renais. A mobilização foi idealizada pela Sociedade Internacional de Nefrologia (sigla em inglês ISN).

Para os gatos, é muito importante a dieta úmida. Oferecer sachês e ração úmida são ótimas formas para aumentar a hidratação de forma indireta. Verlengia explica que a alimentação úmida deve ser iniciada com o felino ainda filhote, após o desmame, para que ele possa acostumar. “Essa é uma forma para prevenir a insuficiência renal crônica. Outra particularidade dos gatos é que eles gostam de água em movimento. Se a água estiver parada por poucas horas, o gato começa a recusar.”

Enriquecimento ambiental

A presidente da Comissão de Bem-estar Animal do CRMV-SP, Cristiane Pizzutto, recomenda ofertar vários pontos de água limpa e fresca, preferencialmente com água em movimento, como fontes para os gatos.

O enriquecimento ambiental pode ser usado como forma de estímulo à hidratação. “Sachês e ração úmida podem ser oferecidos em comedouros complexos, que ajudam a entreter o animal. Alguns alimentos podem ser congelados e ofertados em forma de ‘sorvetes’, contribuindo em demasia para a ingestão de mais líquido”, afirma Cristiane.

Pensando no comportamento natural de predador, a presidente da Comissão afirma que congelar a comida úmida no formato de bolinhas e colocá-las para rolar é uma forma de estimular o comportamento de caça dos gatos e, também, favorecer a ingestão da recompensa recheada de água. “Pontos de plantio de gramíneas para gatos também oferecem interação que agradam os felinos e trazem benefícios não apenas para a hidratação, como também para o bom funcionamento do intestino, ajudando, inclusive, a eliminar as bolas de pelos”, indica a profissional.

Prevenção

Confira 5 dicas para prevenir as doenças renais:

  • Hidratação: disponibilizar vasilhas com água limpa e fresca pela casa. Para os gatos, oferecer fontes e água corrente. Em dias quentes, pode-se colocar cubos de gelo na água. Os cães filhotes devem consumir cerca de 60 ml de água por quilo; os adultos, 50 ml/kg; e os idosos, 40 ml/kg. Já os gatos devem consumir entre 40 a 60 ml por quilo.
  • Comidas úmidas: a alimentação úmida é indicada principalmente para gatos e deve ser iniciada desde o desmame. Oferecer ração úmida e sachês. A ração úmida também pode ser oferecida congelada.
  • Dieta equilibrada: a dieta deve ser indicada por médico-veterinário ou zootecnista. Deve ser balanceada, com níveis de proteína adequados, boa qualidade e compatível com ao quadro de saúde e idade do animal. Alimentos específicos para paciente renal só devem ser oferecidos com prescrição do médico-veterinário.
  • Exames regulares: Em gatos e cães de pequeno porte, Verlengia afirma que os exames preventivos devem ser iniciados a partir de sete anos, já em animais de porte maior, a partir de cinco anos. Entre exames estão os de urina e pressão arterial. Para a detecção em estágios mais avançados, exames de ureia, creatinina e o SDMA (dimetilarginina simétrica) podem ser solicitados.

“A pressão arterial, quando começa a aumentar, é um sinal que precisa ser investigado. No exame de urina, a presença de proteína (proteinúria) não é um bom indicativo, porque ela é um dos produtos mais nobres do metabolismo e deveria ficar no sangue. Quando há algumas alterações, como creatinina e ureia aumentadas, o paciente já não está mais no primeiro estágio. E quando começa a ter perda de peso, mau hálito (halitose), aumento da quantidade de urina (poliúria) e aumento da ingestão de água (polidipsia), normalmente já está do estágio três para cima”, explica o integrante da Comissão Técnica de Clínicos de Pequenos Animais.

  • Enriquecimento ambiental: principalmente para gatos, que possuem maior dificuldade em se manter hidratados, podem ser oferecidos sachês e ração úmida em comedouros complexos. Esses alimentos também podem ser congelados e ofertados em forma de “sorvetes” ou de bolinhas, estimulando o comportamento de caça.

“Hoje em dia, temos o SDMA (dimetilarginina simétrica) que em alguns casos auxilia o diagnóstico precoce da DRC, além dos exames de imagem, como a ultrassonografia, em que podemos diagnosticar as alterações precoces que ocorrem nos rins e a sua vascularização”, explica Hayashi.

Saiba mais sobre as doenças mais comuns

Doença renal crônica: é a perda da função renal, ou seja, a diminuição da capacidade do rim de filtrar o sangue, de forma progressiva. É a doença renal mais comum em cães e gatos, podendo acometer animais de todas as idades, no entanto, são mais comuns nos mais velhos – normalmente a partir dos 6 anos de idade. A enfermidade possui quatro estágios progressivos, por isso, é importante detectar a doença o quanto antes, ainda no primeiro estágio – quando ainda não costumam ter sintomas.

Entre os cães, as raças mais predispostas a apresentar a doença são: poodle, schnauzer, rottweiler, golden retriever, cocker spaniel inglês, cavalier king charles terrier, west highland west terrier e boxer. Já em felinos, persa, abssínio, siamês, ragdoll e maine coon. “Algumas comorbidades podem agravar a doença renal crônica, como as cardiopatias, diabetes, hipertensão arterial e obesidade”, afirma o integrante da Comissão Técnica de Clínicos de Pequenos Animais do CRMV-SP, Fausto Hayashi.

O profissional destaca também que os sinais clínicos mais comuns são “aumento exagerado na ingestão de água, com consequente aumento na produção de urina, ou diminuição no consumo de água. Pode haver falta de apetite, vômitos, diarreia, perda de peso, apatia e fraqueza, quando os níveis de ureia se elevam”.

Insuficiência Renal Aguda: é a perda da função renal de forma súbita. Dentre as causas principais estão as intoxicações, de modo geral (por medicamento, toxina, veneno, planta, entre outros). Há também a possibilidade de outras causas para o surgimento da enfermidade, como choque grave, traumatismo, desidratação, hemorragia intensa, queimaduras graves, hipotermia ou hipertermia, entre outros.

“Alguns dos sintomas mais comuns estão apatia, vômitos, aumento ou diminuição da urina, diarreia, febre, halitose, que é um cheiro característico que sai da boca do animal”, relata Verlengia.

Nefrite: é uma inflamação nos glomérulos renais, que afeta a capacidade de os rins filtrarem resíduos tóxicos e líquidos em excesso. Não é uma doença tão comum. Há também a pielonefrite, que é uma inflamação com pus, gerando acúmulo de conteúdo purulento no rim.

Tratamento

A definição de em qual estágio da doença o paciente está será fundamental para o tratamento. Otávio Verlengia explica que, após o diagnóstico feito por um médico-veterinário e o controle da alimentação ou a indicação de dieta própria para animais com insuficiência renal, os exames devem ser repetidos a cada 6 meses, e a pressão alta, controlada. A partir do estágio 1, começa-se a monitorar também fósforo e potássio.

A partir do estágio 2, o tratamento dependerá de quais sintomas o animal apresentar. “Além da dieta, que é o tratamento chamado de nutricional, há a correção dos distúrbios eletrolíticos, para adequar no sangue os índices de substâncias como sódio, potássio, e fósforo. A proteína também precisa ser controlada. Nos terceiro e quarto estágios, o paciente pode apresentar anemia e a resistência também pode cair, com a possibilidade de infecções secundárias. Com esse quadro mais grave, a diálise peritonial pode ser uma indicação”, explica Verlengia.

Fausto Hayashi ressalta que a internação costuma ser uma opção frequente e com resultados satisfatórios. “Será realizada a hidratação do paciente, quando necessário, melhorando o funcionamento renal. Em casos em que o paciente não responde ao tratamento, é possível submetê-lo à hemodiálise para filtrar o sangue, porém, a indicação dependerá do quadro clínico, da etiologia da doença renal, das taxas renais e da disponibilidade financeira do tutor.”

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