A origem e as transformações pelas quais passou a grande biodiversidade da Amazônia ao longo de milhões de anos são questões que intrigam muitos biólogos, em diferentes partes do planeta. Na tentativa de respondê-las, foram lançadas diversas hipóteses nas últimas décadas. Muitas delas, no entanto, não passaram pelo escrutínio científico em razão da escassez de dados paleológicos (fósseis) e de evidências geomorfológicas. Agora, especialistas das mais diversas áreas – incluindo paleoecologia e arqueologia – investigam o tema. Um grupo internacional de pesquisadores, liderado por brasileiros e norte-americanos, deu início a um projeto temático para reconstruir a origem e a distribuição dos organismos na Amazônia, nos últimos 20 milhões de anos.
De acordo com o pesquisador Frank Mayle, de Edimburgo, na Escócia, uma pergunta ainda sem resposta sobre a Amazônia é: que tipo de floresta tropical existia na região no Último Máximo Glacial? Para respondê-la, estão em curso esforços para tentar modelar a extensão de floresta úmida e de floresta seca na época. A qualidade dos dados disponíveis, no entanto, representa um dos principais gargalos para esclarecer as dúvidas.
“As controvérsias sobre a Amazônia no Último Máximo Glacial resultam do conjunto de dados dos quais dispomos”, disse Mayle. “Há poucas informações; o desafio é identificar qual escala espacial e o tipo de cobertura florestal que correspondem ao perfil de paleodados mais antigos. Por isso, somos forçados a fazer extrapolações e trabalhar com modelagem de vegetação.”
Outra pergunta que move os pesquisadores é o que ocorreu na Amazônia no Holoceno médio, quando as condições climáticas eram muito mais secas do que em outros períodos e já havia presença humana na região – e a ocorrência de ações como queimadas. “Olhar para o que ocorreu na Floresta Amazônica no Holoceno pode nos dar alguma ideia do que pode acontecer na região no futuro”, avaliou Mayle.
“Não podemos descartar a hipótese de que parte da biodiversidade da Amazônia pode estar relacionada a fatores antropogênicos [desencadeados pela ação humana]”, afirmou. “Quando falamos da porcentagem da biota que seria antropogênica, é difícil distinguirmos quais espécies são de ocorrência natural e quais foram economicamente importantes e surgiram em função da presença humana. Essa é uma das razões pelas quais pretendemos trabalhar com arqueólogos nesse projeto para tentarmos integrar diferentes linhas de evidências”, explicou.
Fonte: Agência Fapesp