O Brasil não aceitará propostas para restringir a criação de gado como uma das medidas para controlar o nível de emissões de gases no setor agrícola global, avisou ontem o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Edílson Guimarães.
Ele representará o Brasil na reunião de amanhã e sexta-feira de ministros de Agricultura de 40 países na OCDE – Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que terá no centro da agenda o vínculo entre agricultura e mudanças climáticas, com desdobramentos em futuras políticas nacionais e internacionais do setor.
Como o Valor revelou ontem, o documento de base para os ministros coloca ênfase na questão climática, aponta a agricultura como responsável por uma parte significativa das emissões de gases de efeito estufa e diz que será “inevitável” sua contribuição para a mitigação do problema.
No entanto, o texto de nove páginas não fala explicitamente em restrição da criação de gado. Basicamente, sugere nova nutrição para animais a fim de reduzir as emissões de metano. Nas reuniões na OCDE, ninguém falou “em vaquinhas” , segundo uma fonte próxima à entidade, e a expectativa é de que os ministros não toquem diretamente nesse tipo de detalhe.
A delegação brasileira, porém, está alerta sobre os desdobramentos da reunião ministerial de Paris. Países europeus já tentaram introduzir a proposta de restringir o uso de carnes durante reunião do G-8 na Itália, no ano passado. Houve um racha no grupo dos ricos porque os EUA, como grande produtor, frearam a ofensiva europeia.
Na semana passada, a FAO – Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação propôs uma taxa ambiental para a pecuária pagar por estragos causados ao ambiente na produção de carnes.
O Brasil é um dos maiores produtores de carnes do mundo, é o maior exportador de carne bovina, tem na JBS a maior companhia do segmento do mundo e toda e qualquer discussão envolvendo a pecuária afeta o país.
Edílson Guimarães considera problemáticas as sugestões que teriam sido feitas por países ricos para restringir a criação de gado por razões ambientais. “O Brasil é credor em termos de emissão de gases, portanto nossa agricultura não pode ser acusada”, disse.
Na Europa, em todo caso, sucedem-se campanhas que buscam reduzir o consumo de carne bovina ou simplesmente combater o consumo de qualquer carne.
Fonte: O Globo (acessado em 24/02/10)