O Brasil registrou recorde de encalhes de baleias jubartes, Megaptera novaeangliae, em 2010. Até novembro, fim da temporada de encalhes, foram contabilizados 96 casos em que as baleias chegaram até a costa vivas ou mortas. O número é 123% maior que o recorde de 2007, quando houve 43 encalhes.
Os casos se concentram no litoral da Bahia e do Espírito Santo, locais de reprodução da espécie. Filhotes são as principais vítimas. Embora diversas espécies de baleias frequentem a costa do Brasil, o aumento de encalhes aconteceu somente com as jubartes.
De acordo com o veterinário e coordenador de pesquisas do Instituto Baleia Jubarte, Milton Marcondes, a espécie está se recuperando de anos de caça predatória e a população aumentou. Com mais indivíduos no mar, é maior o número de carcaças levadas até a praia pela maré.
No entanto, outras causas são consideradas. Marcondes cita o aquecimento global, que pode estar diminuindo a oferta de krill, crustáceo parecido com um pequeno camarão, base da alimentação das jubartes. Com a escassez do alimento, os animais ficam debilitados e geram filhotes mais fracos. Outra possibilidade é a introdução de algum vírus ou bactéria que esteja enfraquecendo a população.
Além disso, alguns animais aparecem na praia com sinais de colisão com barcos. É muito difícil salvar a vida dos animais que chegam à praia. Mesmo quando resgatados, a tendência é que eles voltem e acabem morrendo.
Rede de Resgate
O responsável pelo programa de conservação de cetáceos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Paulo Flores, diz que a situação é mesmo preocupante.
“Há dificuldade em definir a causa da morte, que vai desde o estado do animal, que pode chegar ao litoral em decomposição, dificultando a necropsia, até o tamanho das baleias, complicadas de manusear”, diz. Às vezes, é preciso até explodir o cadáver.
No ICMBio, o Centro Nacional de Pesquisa de Conservação de Mamíferos Aquáticos (CMA) está formando uma rede de estudiosos no País unindo universidades, ONGs e aquários interessados em trocar informações.
Há contato ainda com pesquisadores internacionais, segundo Flores, para comparar o número de encalhes em outras costas.
Depois das jubartes, as baleias de maior incidência no Brasil são as francas. Neste ano, houve cinco encalhes. Embora o número seja bem superior ao do ano passado, quando houve só um encalhe, o aumento não causa alarme, segundo a diretora de pesquisa do Projeto Baleia Franca, Karina Groch.
Fonte: Folha de São Paulo (acessado em 14/12/10)