Começaram na semana passada os testes clínicos da primeira vacina contra papilomatose bovina (doença conhecida como verrugose ou figueira), em desenvolvimento pelo Laboratório de Genética do Instituto Butantan, em conjunto com o Laboratório de Imunopatologia Keizo Akami, as Universidades Federais de Pernambuco, Sergipe e Ceará, além da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP e a Universidade de Glasgow, na Escócia.
Os testes estão sendo realizados em cerca de 50 bezerros, no Instituto de Zootecnia de Nova Odessa (IZ-Apta). Segundo a pesquisadora do Laboratório de Genética do Instituto Butantan Rita de Cássia Stocco, os testes clínicos já representam 90% do desenvolvimento da vacina. Até agora, o pecuarista tenta driblar o problema com medicamentos tópicos e outras soluções e crendices de eficácia duvidosa. A vacina será a primeira a ser lançada no País e, em condições de teste a campo, a primeira no mundo. Rita calcula que, após a etapa de testes, em um ano e meio deverá haver resultados confiáveis sobre a eficácia.
A vacina vai imunizar o animal contra pelo menos três tipos de vírus da papilomatose bovina, de um total de dez bem caracterizados. Os tipos 1, 2 e 4, que estão presentes em todo o rebanho, são os mais agressivos e associados ao surgimento de câncer nos animais infectados. “Em 20 anos de pesquisa, não encontrei animal infectado que não tivesse pelo menos um desses três tipos”, ressalta Rita.
Anos de pesquisa
A vacina é pesquisada há seis anos pelo Instituto, mas estudos sobre a doença em si e suas implicações já ocorrem desde 1988, por iniciativa do professor-doutor Willy Beçak, coordenador geral do projeto.
Conforme explica Rita, a vacina está sendo feita a partir de proteínas do próprio vírus da papilomatose. “Conseguimos isolar regiões do genoma do vírus que são praticamente idênticas entre todos os tipos virais. A partir daí, esses vírus foram clonados para que se produzisse um ‘vetor genético’, ou seja, um segmento de DNA onde estão inseridas sequências dos genes dos vírus”.
Dessas sequências, foram obtidas, em laboratório, as proteínas purificadas em quantidade suficiente para a vacina. “Aplicadas no animal, essas proteínas permitirão que ele crie anticorpos”, diz.
As pesquisas no desenvolvimento da vacina deram um salto após a aprovação de um projeto de âmbito nacional, sob a coordenação do prof. Beçak. “Esse projeto trouxe para as pesquisas uma verba substancial, via CNPq/Programa Renorbio, e a associação com as universidades do Nordeste, além de verbas aprovadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), no âmbito do governo estadual”, diz Rita.
Tais recursos permitiram, além do investimento em equipamentos e insumos, a formação de uma boa equipe. “O programa já reuniu cerca de 80 profissionais”, afirma.
Mesmo com a vacina testada e aprovada, a pesquisadora alerta que este tipo de prevenção, isoladamente, não será suficiente para controlar a doença, que atinge 60% do rebanho nacional.
“A vacina não resolverá as condições sanitárias muitas vezes inadequadas de boa parte do rebanho. Mas seria importante também os órgãos oficiais incluírem a papilomatose bovina entre as doenças de notificação obrigatória”, afirma ela.
Fonte: O Estado de São Paulo (acessado em 13/10/10)