Celebramos o Dia Internacional do Cão-guia, na última quarta-feira de abril (29/04), em meio à pandemia de Covid-19. Apesar do isolamento social não impactar tanto estes cães de serviço, é fundamental manter algumas rotinas para preservar o bem-estar e a eficiência do treinamento que têm a importante missão de guiar pessoas com deficiência visual.
Diferente de outros cães de serviço, o cão-guia é naturalmente mais calmo, tanto pelo treinamento recebido, quanto pelas características inatas, que são parte do critério de seleção dos animais nas ninhadas.
Por esse fator, o impacto da quarentena para eles pode ser menor que para os cães de companhia. É o que comenta o zootecnista Alexandre Rossi, profissional da área de Comportamento Animal e integrante da Comissão Técnica de Bem-Estar Animal (CTBEA) do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP).
“Mesmo quando pertencem a pessoas bastante ativas, os cães-guia ficam boa parte do tempo quietos, muitas vezes, deitados embaixo da mesa de trabalho de seu tutor. Eles não passam o tempo todo guiando e quando o fazem, caminham em passadas tranquilas”, afirma Rossi, que atuou por três anos acompanhando o treinamento de cães-guia na escola Guinding Eyes for the Blind, em New York (EUA).


(Alexandre Rossi)
Em casa, mas na ativa
Com essa preocupação, Rafael Fortes Braz, aproveita o amplo espaço de casa para manter ativo seu cão-guia, Popeye. “Para manter a qualidade do treinamento e evitar sedentarismo, faço, diariamente, caminhadas com o Popeye, com a guia, pelo quintal e pelo corredor extenso que tenho”, conta o jovem, cuja rotina inclui trabalho, atividades físicas e aulas presenciais da terceira graduação de Braz, em Pedagogia.
Para Braz, que perdeu a visão aos 21 anos, em decorrência de doença congênita, ter um cão-guia requer muito comprometimento em qualquer situação. “Mas mantenho todos os cuidados com muito amor, pois, com eles, pude concretizar planos importantes em minha vida, o que é algo indescritível.”


(Rafael Fortes Braz)
Caminhadas estratégicas
Aos que não possuem espaço em casa, a indicação da médica-veterinária e presidente da CTBEA do CRMV-SP, Cristiane Pizzutto, é acrescentar às dinâmicas em casa rápidas caminhadas pelo condomínio ou pelas ruas mais próximas. É uma necessidade do animal treinado para guiar e, também, de um cuidado com a segurança da pessoa com deficiência visual que se apoia no trabalho desse cão de serviço.
“No que diz respeito à manutenção do treinamento do animal, outra questão importante durante as caminhadas é o rigor contra possíveis abordagens ao cão-guia ou outras interferências”, destaca a médica-veterinária, afirmando ainda que as saídas não são passeios, mas trajetos em que o cão deve entender que está desempenhando o serviço de guiar.
[comment-mark]São indispensáveis os cuidados com a higiene na volta para casa, com a limpeza das patas e pelos do animal[/comment-marks]
(Cristiane Pizzutto)
Atenção aos hábitos
Segundo Alexandre Rossi, as necessidades fisiológicas do cão não podem deixar de receber atenção especial em um momento de mudanças na rotina, como o que estamos vivenciando.
“Os cães-guia aprendem a fazer xixi e coco sob comando e em lugares adequados. É importante manter os hábitos usuais nesse sentido”, alerta Rossi. Mudanças bruscas nesse aspecto podem desencadear interferências comportamentais e prejudicar o bem-estar e a saúde do animal.
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