Casos atípicos do “mal da vaca louca” no Brasil causam impacto nas exportações de carne

A Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) foi registrada no início de setembro em dois estados brasileiros e mobiliza especialistas do setor
Texto: Comunicação CRMV-SP/ Foto: Pixabay

Os números relacionados às exportações para a China impressionam independente do setor de negociação, mas quando o assunto são produtos de origem animal a demanda é crescente. O mercado, que envolve bilhões de dólares, entretanto, foi impactado pela confirmação de dois casos atípicos da Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), popularmente conhecida como “mal da vaca louca”, em frigoríficos dos estados de Mato Grosso e Minas Gerais.

Mas afinal, o que é EEB e quais as diferenças entre suas formas típicas e atípicas? De acordo com o presidente da Comissão Técnica, de Saúde Animal do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), Claúdio Regis Depes, a doença é de grande relevância para a saúde animal, a saúde pública e o mercado internacional.

“É uma enfermidade crônica, causada pela acumulação de uma proteína anormal, conhecida como príon, no Sistema Nervoso Central. Com longo período de incubação, sem vacina ou tratamento, é letal em bovinos. Há evidências científicas de que a ingestão por uma pessoa de carne de bovino infectado com esse agente pode causar a variante da Doença de Creutzfeldt-Jakob, com manifestações clínicas neurológicas graves e fatais”, afirma o médico-veterinário.

A forma clássica da doença, nunca registrada no Brasil, é causada pela ingestão pelo animal de alimentos contaminados pela proteína príon e, segundo Depes, denota falta de cumprimento de normas sanitárias. “É proibida a utilizada de farinhas de carne e osso ou outras proteínas de origem animal na alimentação de ruminantes”, destaca.

Tratando-se dessa doença, é importante que os profissionais conheçam as regras para produção de animais e de alimentos seguros. Não fornecer e orientar os produtores para que eles não ofereçam rações de monogástricos para ruminantes, bem como farinhas de origem animal, cama de aviário e produtos sem garantia de procedência

(Fábio Alexandre Paarmann, integrante da Comissão Técnica de Saúde Animal do CRMV-SP)

Já a forma atípica da EEB ocorre de forma natural e espontânea, de forma rara, em animais com mais de oito anos de idade, tendo sido identificada no País, anteriormente, em 2010, 2012 e 2019. “Significa que o sistema de vigilância para essa doença está ativo e funcionando, sendo capaz de captar até mesmo casos esporádicos dessa doença, esperados num baixo percentual de animais velhos”, afirma Fábio Alexandre Paarmann, que também integra a Comissão Técnica de Saúde Animal do CRMV-SP.

Vigilância

Paarmann destaca que é de grande importância que os profissionais médicos-veterinários conheçam os sintomas e os sistemas de vigilância da doença. “Em caso de animais com sintoma neurológico sem causa diagnosticada é sempre importante entrar em contato com o Serviço Veterinário Oficial da Coordenadoria de Defesa Agropecuária, em São Paulo, ou do próprio Ministério para que as ações de vigilância sejam adotadas.”

De acordo com o profissional, as medidas padrão envolvem o rastreamento das propriedades envolvidas na criação dos animais diagnosticados e investigação dos demais para avaliar se outros casos podem ter ocorrido ou estar em curso. “Nos frigoríficos é realizado um trabalho de rastreio dos produtos obtidos desses animais, visando a retirada do comércio e sua destruição”, ressalta.

Para Depes, nos dois casos identificados os procedimentos necessários exigidos internacionalmente foram feitos com transparência e o sistema de vigilância epidemiológica brasileiro foi sensível e eficaz. “Penso que o Serviço Veterinário Oficial brasileiro, apesar do impacto momentâneo produzido, sai fortalecido, ganhando maior credibilidade”, afirma.

Status sanitário

O regramento sanitário internacional e a classificação dos países e regiões em diferentes status quanto ao risco de ocorrência das doenças animaissão de responsabilidade da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), buscando padronização e qualidade dos produtos de origem animal, assim como respaldo técnico científico às relações comerciais internacionais.

Portanto, com relação aos dois casos ocorridos, após o abate de emergência e resultados do Laboratório Federal de Defesa Agropecuária de Pernambuco, as amostras foram enviadas para o laboratório de referência mundial da OIE para a doença, a Agência Canadense de Inspeção de Alimentos, em Lethbridge, Alberta, Canadá.

Em nota oficial, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) afirmou que “todas as ações sanitárias de mitigação de risco foram concluídas antes mesmo da emissão do resultado final confirmado pelo laboratório de referência”. 

Impactos econômicos

O Brasil, desde 2012, foi reconhecido com o status de risco “insignificante” para a doença. De acordo com Cláudio Regis Depes, a OIE desconsidera a ocorrência de casos atípicos da Encefalopatia como fator de alteração no status oficial. “Tanto assim, que foi mantida nossa classificação, não justificando qualquer impacto no comércio de animais, seus produtos e subprodutos.”

Os casos registrados em MT e MG são, segundo a Secretaria Defesa Agropecuária do Mapa, o quarto e quinto casos de EEB atípica registrados em mais de 23 anos de vigilância para a doença.

Após autoridades brasileiras confirmarem dois casos atípicos do “mal da vaca louca”, entretanto, a Arábia Saudita restringiu as importações de carne bovina por dez dias. E, apesar do acordo firmado entre Brasil e China prever a compra apenas de animais de até 30 meses de idade, em cumprimento ao protocolo sanitário contratual, houve suspensão de todas as exportações de carne bovina até que as autoridades chinesas concluam a avaliação das informações.

Histórico

A Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) ficou conhecida popularmente como “mal da vaca louca” nas décadas de 1980 e 1990, quando o Reino Unido sacrificou milhares de bovinos após confirmação de casos clássicos.

A doença volta a assombrar as autoridades sanitárias britânicas devido à confirmação na última sexta-feira (17) de um caso em Somerset, no sudoeste da Inglaterra.  De acordo com a Agência de Saúde Vegetal e Animal do Reino Unido (APHA, na sigla em inglês), a ocorrência é do tipo clássica. No Brasil só foram identificados, em 23 anos de atuação da vigilância, apenas cinco ocorrências da doença, todos atípicos.

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