Confirmação de caso de raiva em São Paulo reforça a importância de manter a vacinação

Médicos-veterinários e zootecnistas devem fazer o esquema profilático de pré-exposição e a sorologia, e cães e gatos devem estar com a imunização em dia
Texto: Comunicação CRMV-SP
A imagem mostra close de focinho e boca de um cão. Ao fundo, há imagem de vegetação.
Foto: Freepik

Foi confirmado caso de raiva em cão no bairro Butantã, na cidade de São Paulo, no dia 31 de agosto. Nesta última sexta-feira (15/09), o Instituto Pasteur, um dos laboratórios, credenciados pelo Ministério da Saúde para diagnóstico humano e animal, obteve o resultado de que se trata de variante de morcego (AgV3). O animal era de origem desconhecida, havia sido resgatado e levado para atendimento em clínica veterinária no Taboão da Serra. A suspeita inicial era de cinomose, que posteriormente acabou sendo também confirmada.

A Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP) realizou o exame com a técnica Imunofluorescência Direta (IDF), posteriormente, por meio da RT-PCR – reação em cadeia da polimerase em tempo real, que permite identificar a presença do RNA do vírus – , e enviou o material ao Instituto Pasteur para confirmação do diagnóstico.

Segundo o responsável pelo Laboratório de Zoonoses Virais da FMVZ-USP, Paulo Eduardo Brandão, o resultado positivo para a raiva foi uma surpresa. Em 1º de setembro, a Divisão de Vigilância de Zoonoses (DVZ/COVISA/SMS) da Prefeitura de São Paulo foi notificada. O cão apresentava sinais neurológicos, como andar em círculos e convulsões, e houve pessoas agredidas, que foram devidamente atendidas e medicadas.

Diante do caso, é fundamental que os profissionais que lidam com animais mamíferos, como médicos-veterinários, zootecnistas, biólogos e estudantes das áreas façam o esquema profilático de pré-exposição e a sorologia anualmente.

“Como ainda há a circulação das variantes de morcego no estado, os cães e gatos devem ser vacinados anualmente. Essa imunização pode ser feita em postos permanentes que as prefeituras mantêm ou em estabelecimentos médico-veterinários”, ressalta a presidente da Comissão Técnica de Saúde Pública Veterinária do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), Adriana Maria Lopes Vieira.

A raiva

A raiva é uma zoonose viral que acomete mamíferos, inclusive humanos. Em cães e gatos, a transmissão pode ocorrer de animal doméstico para animal doméstico (cão para cão ou cão para gato, por exemplo), no ciclo urbano terrestre. A variante canina teve como último registro de cão infectado, na cidade de São Paulo, em 1983, portanto, há 40 anos.

Já o ciclo urbano aéreo ocorre quando cães ou gatos têm contato com morcegos. Em 2011 foi registrado o último caso de raiva em animal doméstico, na cidade de São Paulo, sendo um gato contaminado pela variante de morcego. Entretanto, todos os anos há confirmações de casos esporádicos de morcego com raiva.

No estado de São Paulo, o último caso animal pela variante canina ocorreu em 1998 e, desde então, todos os registros foram causados por variantes de morcegos. Os casos de raiva em cães e gatos são esporádicos, uma vez que há circulação viral em animais silvestres, tendo sido diagnosticados laboratorialmente, no período de 2002 a 2023 (agosto/23), 15 cães e 22 gatos. Já o último caso humano de raiva pela variante canina, no estado de São Paulo, foi registrado em 1997.

No ciclo rural da doença, participam animais de produção (como bovinos e equinos, entre outros). No ciclo silvestre-aéreo, há o envolvimento de morcegos, e no ciclo silvestre-terrestre, mamíferos silvestres.

Imunização de profissionais

Foto: Freepik

Os profissionais que manipulam animais e estão em risco permanente devem ser submetidos ao esquema profilático de pré-exposição. É necessário que realizem a sorologia, no mínimo uma vez ao ano ou mais, verificando os títulos de anticorpos vacinais necessários para a proteção.

“Na pré-exposição, são administradas duas doses de vacina, sendo necessário o controle sorológico periódico, de acordo com o risco a que está submetido o profissional; os que trabalham em situação de alto risco devem realizar a titulação a cada seis meses. Caso o resultado da sorologia não atinja o título satisfatório, uma nova dose de vacina deve ser aplicada e a avaliação sorológica repetida”, explica Luciana Hardt Gomes, membro da Comissão Técnica de Saúde Pública Veterinária do CRMV-SP.

A raiva é uma doença fatal. “Por isso, é fundamental que esses profissionais estejam atentos à profilaxia pré-exposição que, se realizada adequadamente, oferece proteção”, destaca ela.

Cuidados

A profilaxia pós-exposição pode ser indicada, após avaliação médica, em pessoas que tiveram contato acidental com cão, gato, morcego ou outros animais mamíferos suspeitos, ou sofreram agressão – mordedura, arranhadura ou lambedura – a depender das características do animal e do estado do ferimento.

Em caso de contato ou agressão, é preciso lavar o ferimento imediatamente com água corrente e sabão por, pelo menos, 15 minutos e procurar o serviço de saúde mais próximo, relatando o que ocorreu.

Se houver algum animal com sintomas neurológicos ou suspeita de raiva, é essencial não abandoná-lo e levá-lo para avaliação de um médico-veterinário. Já os animais domésticos que vivem próximos ao local onde o caso de raiva foi confirmado (bairro do Butantã) não devem andar soltos. Entre outros cuidados a serem tomados estão evitar tocar em animais estranhos e não deixar os animais domésticos terem contato com morcegos.

Papel do médico-veterinário para avaliação e notificação de casos

Os médicos-veterinários, quando identificam animais com suspeita de raiva, devem acionar os serviços públicos. Quando são animais de produção, devem ser contatados órgãos da agricultura, e quando são cães e gatos, ou morcegos em áreas urbanas, os órgãos de saúde municipais – o serviço de vigilância de zoonoses ou a vigilância epidemiológica do município de residência do animal.

“O profissional médico-veterinário deve notificar o óbito ou eutanásia de cão ou gato com sinais neurológicos suspeitos de raiva e encaminhar devidamente acondicionada a carcaça para diagnóstico laboratorial de raiva”, ressalta Luciana.

“Tanto cães e felinos, mesmo com confirmação de cinomose, quanto herbívoros, animais selvagens, animais silvestres, enfim, todos os animais que manifestem sintomas neurológicos, que vão a óbito ou que sejam submetidos a eutanásia, o material deve ser colhido e enviado para diagnóstico laboratorial”, destaca Adriana.

Os médicos-veterinários também devem notificar o serviço de saúde quando tiverem o conhecimento de cães, gatos ou pessoas que tiveram contato com morcego.

Variante de morcegos

Os morcegos, quando estão acometidos pela raiva, manifestam alterações de comportamento. Então, quando são avistados em locais ou horários não habituais, como os que adentram imóveis ou que são vistos voando, caídos ou pousados durante o dia, são considerados suspeitos. “Dessa forma, quando eles estão doentes, é comum que cães e gatos cacem esses animais e, nesse momento, há o risco de infecção”, explica a presidente da Comissão de Saúde Pública Veterinária do Regional.

Por isso, a população deve comunicar a prefeitura se avistar morcegos com comportamento ou em local estranho – o serviço de vigilância de zoonoses ou a vigilância epidemiológica do município. Não se deve ter contato direto, nem colocar a mão, basta cobrir o morcego com balde, caixa de papelão ou pano limpo e seco.

Adriana ressalta que esses animais têm papel fundamental na natureza. Alguns alimentam-se de insetos, outros de frutas, pólen e outros. “Por isso, os morcegos não devem ser eliminados, apenas aqueles que apresentem manifestações de alteração comportamental é que são considerados suspeitos e devem ser encaminhados para diagnóstico laboratorial”, afirma.

Comportamento de animais domésticos

Em cães e gatos infectados, as variantes virais caninas causam um quadro de irritabilidade e agressividade e as variantes de morcegos costumam causar quadros paralíticos. Essa sintomatologia clínica mais compatível com raiva paralítica pode indicar que os animais são hospedeiros terminais da doença, segundo Luciana.

De acordo com ela, os registros dos últimos casos de raiva em cães e gatos no estado de São Paulo destacam a presença de sintomas da raiva paralítica (paresia, paralisia, incoordenação motora), comportamento apático, debilidade, sialorreia e o predomínio de casos entre animais não vacinados contra a raiva ou com histórico vacinal desconhecido, com antecedentes de serem domiciliados (com acesso à rua), com temperamento dócil, e causadores de agressão (maioria felinos) aos cuidadores.

A Nota Informativa do Ministério da Saúde nº 13/2019 – CGDT/DEVIT/SVS/MS determina o envio de amostras de animais para diagnóstico da raiva com base em alguns critérios como: animais que apresentem sintomatologia neurológica ou suspeitos de raiva que foram a óbito ou submetidos à eutanásia, cães e gatos que morreram no período de observação de dez dias após a agressão ou encontrados mortos por atropelamento ou sem causa definida.

Vacinação de cães e gatos

Foto: Freepik

Atualmente, a vacinação de cães e gatos contra a raiva é considerada uma medida individual de prevenção da raiva no animal. “Estar com a imunização em dia é necessário, uma vez que qualquer cão ou gato pode, eventualmente, ter contato com morcego, infectar-se pelo vírus e transmiti-lo a outro animal ou ao ser humano”, afirma Luciana.

Ela destaca que cães e gatos saudáveis podem ser vacinados a partir dos três meses de idade, seja em estabelecimentos médico-veterinários ou em postos de vacinação disponibilizados pelos municípios.

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