Consciência negra: é preciso falar de representatividade na Medicina Veterinária e na Zootecnia

Classes devem se manter abertas para mudar comportamentos que fomentam o racismo estrutural
Texto: Comunicação CRMV-SP
Foto: Comunicação CRMV-SP

Ainda não existem estatísticas sobre os negros na Medicina Veterinária e na Zootecnia no Brasil. Mas é possível afirmar que os afrodescendentes não têm visibilidade nas profissões. Na opinião de profissionais negros, isso é reflexo do racismo estrutural, ou seja, resulta da base discriminatória que faz com que a sociedade privilegie algumas raças em detrimento de outras.

“A maior parte da população brasileira é negra. No entanto, somos minoria em diversas classes profissionais?”, diz o médico-veterinário Augusto Renan Rocha, fundador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros de Viçosa (MG) e do coletivo Afrovet.

O zootecnista Weksley Leonardo de Souza afirma que, justamente por esta observação de Rocha e por todo o contexto que a cerca, “o Dia da Consciência Negra é um convite para a reflexão, também, no nosso meio profissional.”

Ambos relatam que, por todos os meios pelos quais circularam, desde a graduação, entre colegas de classe e professores, até as empresas e instituições nas quais atuaram, sempre ou quase sempre eram a única pessoa negra. “Onde estão os negros?”, indaga Rocha.

Onde estão?

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) responde a pergunta do médico-veterinário em números divulgados no dia 12/11: em 2019, a taxa de desocupação da população preta ou parda atingiu 13,6%, enquanto que a da população branca foi de 9,2%, e, nesse ano, as pessoas brancas ganhavam 69,3% mais do que as pretas ou pardas.

Ainda segundo dados do órgão, a presença dos pretos ou pardos é maior em postos de trabalho menos qualificados e com baixas remunerações na agropecuária (62,7%), na construção e nos serviços domésticos (66,6%).

“Meritocracia” na sociedade desigual

Mais do que visualizar as diferenciações evidentes a partir dos dados oficiais, é fundamental a compreensão da natureza delas. “Fala-se muito em meritocracia. Mas como discutir mérito em uma sociedade desigual? O que tem sido feito por oportunidades equitativas?”, diz Souza.

De acordo com Rocha, é preciso haver uma ruptura do “olhar viciado” que o racismo estrutural alimenta. “Não se pode normalizar o fato de haver maior presença do negro em subempregos”, enfatiza.

Nas linhas e entrelinhas, o racismo

Há muitos entraves para curar o vício do olhar que promove diferenças. Segundo a médica-veterinária Ana Lúcia de Paula Viana, diretora do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), são necessários investimentos mais robustos em políticas públicas.

“Para que tenhamos uma sociedade menos desigual, é preciso um trabalho muito sério com políticas públicas para melhorar o acesso da população negra às universidades”, afirmou a profissional, primeira mulher a assumir a diretoria da maior instância de inspeção de alimentos no País.

 

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