Quando se fala em dezembro já se pensa em Natal e festas, mas no Brasil esse mês ganhou um significado e uma cor especial: o “Dezembro Verde”. Esse é o nome dado à campanha nacional dedicada à conscientização sobre o abandono de animais de estimação, um problema grave que se intensifica no fim do ano, devido às mudanças de rotina das famílias, com viagens e confraternizações.
A campanha busca reforçar a necessidade de comprometimento e preparo daqueles que convivem com animais e chamar a atenção para o conceito amplo de “guarda responsável”, como explica a presidente da Comissão Técnica de Bem-Estar Animal do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), Daniela Ramos.
“Há constantes progressos na relação estabelecida entre pessoas e pets, com interações cada vez mais próximas, intensas e emocionais. Termos como ‘posse’ e ‘proprietário’ já não são mais apropriados. Ser responsável por um animal de estimação e conviver com ele exige que se ofereça todas as suas necessidades, tanto físicas quanto emocionais”, afirma.
Integrante da Comissão Nacional da Medicina do Coletivo do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) e especializada em Bem-Estar Animal, a médica-veterinária Rosangela Gebara ressalta que campanhas como o “Dezembro Verde” são fundamentais para sensibilizar a sociedade como um todo. Ela também destaca o papel central dos profissionais da Medicina Veterinária nesse processo. “Neste momento, nós, médicos-veterinários, temos um papel essencial na orientação sobre os cuidados e sobre as responsabilidades que envolvem a convivência com animais”, afirma.
O trabalho dos profissionais, porém, não se limita a campanha. Eles desempenham um trabalho contínuo na educação de quem convive com animais de estimação. Com a expansão do mercado pet, a oferta de serviços e estabelecimentos especializados cresceu significativamente, mas nem todos atuam de acordo com práticas alinhadas ao bem-estar animal, alerta Daniela Ramos.
“É fundamental buscar profissionais e estabelecimentos realmente atualizados e habilitados, que sigam práticas e protocolos de interação amigáveis com os pets. O mercado oferece inúmeras opções, mas ainda há quem não esteja devidamente preparado”, orienta a presidente da Comissão Técnica de Bem-Estar Animal.
Planejamento e férias em família
Além de incentivar a adoção responsável, que envolve planejamento prévio antes de inserir um animal na rotina doméstica, considerando que pets vivem mais de dez anos e demandam cuidados veterinários contínuos, a campanha “Dezembro Verde” também reforça que os animais devem ser incluídos nos planos da família, inclusive durante as férias, mesmo quando não podem acompanhar os responsáveis nas viagens.
“Como membros da família, os animais de estimação devem ser incluídos no planejamento das férias e, se, em último caso não for possível levá-los na viagem de final de ano, é importante garantir que eles fiquem seguros e confortáveis enquanto todos viajam”, destaca Rosangela Gebara.
Cães, gatos, e até mesmo cavalos e bovinos, são seres sencientes, ou seja, sentem dor, frio, sede e a ausência das pessoas com quem convivem. Por isso, Rosangela recomenda que os responsáveis que vão viajar e deixar o animal sob os cuidados de outra pessoa promovam uma adaptação prévia ao cuidador ou optem por alguém que o pet já conheça, responsável por alimentá-lo e manter seu ambiente limpo.
Para quem não conta com uma rede de apoio durante as férias, alternativas como pet sitters ou hotéis especializados são válidas, desde que escolhidos com responsabilidade, lembra a médica-veterinária. “O ideal é sempre realizar uma pesquisa cuidadosa sobre os profissionais e os estabelecimentos para assegurar que são extremamente responsáveis e confiáveis”, orienta Rosangela.
Adoção consciente evita abandonos
Muitos casos de abandono poderiam ser evitados se, antes da adoção, as pessoas refletissem sobre questões práticas, como: o que fazer com o animal em caso de mudança? Quem cuidará dele durante uma viagem? Por isso, Daniela Ramos reforça a importância da pesquisa prévia e alerta para o risco de decisões por impulso. Ela lembra que o período de férias pode ser uma boa oportunidade para amadurecer a ideia.
“Aproveite momentos em que você tem mais tempo em casa, como as férias, para refletir sobre a adoção. Nenhum animal chega ‘pronto’ para a convivência conosco, é preciso ensiná-lo e guiá-lo para uma vida em harmonia com a família. O responsável e todos os membros da casa têm papel fundamental nesse processo”, orienta Daniela.
Rosangela Gebara destaca, ainda, que a decisão deve ser coletiva quando se vive em família, já que o animal conviverá com todas as pessoas do lar, e a falta de consenso pode gerar situações de estresse ou até maus-tratos.
“Antes de tudo, é essencial verificar se toda a família concorda com a adoção e lembrar que cães e gatos vivem, em média, 15 anos. É preciso avaliar se você e seus familiares estão preparados para oferecer cuidado, carinho e responsabilidade por todo esse período”, enfatiza.