Especialistas alertam para uso indiscriminado de ivermectina veterinária contra coronavírus

Medicamento de uso veterinário tem sido utilizado por humanos que acreditam na eficácia da substância, mesmo sem comprovação científica
Texto: Comunicação CRMV-SP
Foto: Freepik

Em meados da pandemia espalhou-se a informação de que a ivermectina poderia ser utilizada como preventivo contra o coronavírus. Não há, entretanto, estudos científicos suficientes que comprovem sua eficácia para este fim. Ainda assim, tem ocorrido o uso indiscriminado da substância, inclusive, por meio da ingestão de medicamentos veterinários.

É o que alerta Marcelo Beltrão Molento, médico-veterinário e doutor em Parasitologia, que atua como consultor da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) para doenças parasitárias com interação humano-animal, e que se dedica ao estudo deste fármaco desde a década de 1990, com pesquisas no Brasil e no exterior.

Além da falta de comprovações científicas, o total desconhecimento sobre os impactos do uso continuo e descontrolado que temos visto é o que gera grande preocupação

(Marcelo Beltrão Molento)

Molento enfatiza que a ivermectina é um medicamento indicado unicamente para o tratamento contra parasitas gastrointestinais e filariose. “Até o momento, tivemos somente um experimento da substância em células infectadas com coronavírus, feito na Austrália”, diz o profissional, que ressalta que houve um efeito antiviral, porém, utilizando uma dose extremamente elevada do fármaco na versão para humanos.

Mestre em Parasitologia Veterinária e conselheiro do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), o médico-veterinário Haroldo Alberti ressalta que “este único estudo foi feito somente in-vitro e que ainda demanda muito tempo para testes em animais e em humanos.”

Danos à saúde

Se usar medicamentos de forma indiscriminada já é um risco, quando se trata de uma formulação destinada a outras espécies pode ser ainda pior. Médica-veterinária e presidente da Comissão de Saúde Pública Veterinária do CRMV-SP, Adriana Maria Vieira Lopes ressalta que, até mesmo para ingestão indireta (por exemplo, por meio da ingestão de produtos de origem animal cujos rebanhos foram tratados com determinados medicamentos), há controles previstos em legislações vigentes.

Ela argumenta que ainda que alguns medicamentos veterinários contenham ativos de uso humano, outros fatores, como o desenvolvimento da fórmula, testes, concentrações e dosagens estão de acordo com a espécie alvo. “Portanto, não existem dados que atestem a segurança do uso de formulações para animais por seres humanos.”

O risco da resistência ao medicamento

Após décadas de estudos para determinar o uso correto da ivermectina contra parasitas, o risco da resistência ao medicamento em decorrência de um uso descontrolado foi um fator comentado de forma enfática tanto por Molento, quanto por Alberti e Adriana.

“Quando se fala em resistência, certamente há impactos diversos no contexto de saúde pública, podendo se perder conquistas científicas já alcançadas”, diz Alberti, sobre o tema que tem sido alvo de campanhas de órgãos internacionais de saúde com foco em antibióticos, mas cuja preocupação se estende, também, aos medicamentos para tratamentos contra parasitas, fungos e vírus.

O papel do médico-veterinário

Diante da gravidade do tema, como agentes de saúde pública que são em essência, os médicos-veterinários devem se compromissar em conscientizar clientes, contratantes e equipes sempre que oportuno, seja no contexto de clínica, quando o contato com os tutores de animais é mais direto, ou no âmbito da produção animal, na lida com produtores e trabalhadores.

“Os colegas precisar ter esta clareza e jamais ir pelo caminho do empirismo. Precisamos nos apoiar em comprovações científicas e conscientizar sobre isso”, frisa Alberti.

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