Um estudo publicado recentemente revela os impactos negativos que a castração tradicional em bovinos pode trazer aos pecuaristas que adotam essa técnica. Complicações pós-cirúrgicas e mortes foram os principais problemas registrados nesta avaliação. Porém as vantagens de ter animais mais dóceis no manejo, ausência de comportamento sexual e maior valor de venda para o abate devido à melhor qualidade de carcaça acabam compensando os possíveis prejuízos da técnica. O grande desafio é aprimorar esta ferramenta para adequá-la às exigências atuais em aliar produtividade e bem-estar animal.
Durante o estudo “Impacto da castração cirúrgica no ganho de peso e estado clínico de bovinos de corte”, foram avaliados, de março a maio de 2010, quinhentos bovinos castrados de quatro fazendas de Minas Gerais. “O trabalho avalia os animais nos primeiros 28 dias após o procedimento e quantifica as principais complicações ocorridas após a castração em bovinos”, diz o professor e veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia, Francisco Carvalho.
O trabalho mostrou que a miíase, ou bicheira, causada pela infestação de larvas e moscas em feridas, foi a complicação mais observada, com aproximadamente 15% dos registros, enquanto a morte foi o maior prejuízo, com taxa de mortalidade média de 0,4%. “Dentre os principais problemas da castração cirúrgica tradicional, além das miíases, estão as funiculites, hemorragias, e perda de peso do animal nos primeiros 28 dias após o procedimento”, destaca o professor.
A ocorrência das complicações está relacionada ao manejo realizado em cada fazenda analisada, à assepsia e ao uso de produtos veterinários para evitar complicações após o procedimento. “A higiene e o acompanhamento dos animais pós-castração podem ter influenciado no registro das doenças e da mortalidade observada”, acrescenta Carvalho.
Os resultados refletem com precisão a realidade da castração cirúrgica de bovinos em todo o País, trazendo à tona a necessidade de novas técnicas alternativas ao método utilizado atualmente. “A adoção de um manejo adequado na castração ou mesmo a criação de novas ferramentas para o procedimento é essencial para minimizar os prejuízos associados a esta prática”, explica o veterinário. Além disso, um dos pontos de destaque nessa área é a questão do bem-estar animal. Mercados como o Reino Unido já começam a mostrar preocupações neste sentido, banindo totalmente práticas veterinárias sem anestésico em suas fazendas.
Sobre a castração
A técnica de castração mais utilizada no Brasil é a cirúrgica. Geralmente ela é realizada por meio de duas incisões laterais na bolsa escrotal do animal ou com a remoção do ápice do escroto. A idade para submeter o bovino ao procedimento varia desde seu nascimento até poucos meses antes do abate, dependendo do planejamento de cada rebanho e dos objetivos de cada criador.
O procedimento traz uma série de benefícios, já conhecidos pelos produtores, principalmente relacionados ao comportamento mais calmo dos animais e melhoria da qualidade de carcaça, quando comparados a bovinos inteiros criados nas mesmas condições. Porém, a técnica não evita prejuízos causados pelas complicações pós-operatórias, como perda de peso e risco de morte.
Fonte: Portal Nacional (acessado em 03/02/11)