Febre do Nilo Ocidental ameaça saúde de equinos no Brasil

Vacina, ainda não liberada no Brasil, é a única possibilidade de evitar a morte ou a inutilização dos cavalos
Texto: Comunicação CRMV-SP / Foto: Pixabay

O caso recente da morte de uma mula com diagnóstico de Febre do Nilo Ocidental (FNO), registrado na região norte do Paraná, traz à tona a ameaça que a doença representa para a saúde de animais, especialmente equinos e aves, além de humanos no Brasil. O caso se tornou público em setembro, quando foi confirmado pela Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar).

O animal de seis anos morreu após uma atividade de trabalho. Antes, teve sintomas como tremores e ataxia (perda ou irregularidade da coordenação muscular) nos quatro membros. A mula não resistiu por ter sido acometida por um caso mais grave da patologia. É uma doença de importância considerável na eqüinocultura e que ainda não tem a vacina liberada no Brasil.

“A priori, a mortalidade é muito alta dos cavalos. Os que não morrem ficam com seqüelas permanentes, ou seja, inutilizados ou quase, para a função a que se destinam”, explica a médica-veterinária Claudia Leschonski, integrante da Comissão Técnica de Equideocultura do CRMV-SP. Segundo ela, a FNO é semelhante a várias outras encefalites virais, e na maioria das vezes há uma confusão entre os diagnósticos.

Os sintomas da depressão do sistema nervoso central são similares ao da herpes vírus equino, da encefalite equina e da raiva. “O diagnóstico sintomático é sugestivo, mas sempre será necessário o diagnóstico laboratorial complementar”, sugere. A FNO não tem um tratamento específico, ela é apenas sintomática, como acontece com a maioria das viroses.

Imunização

A vacina comercial para prevenção da FNO existe há pelo menos dez anos, contudo, diferentemente de outros países, não está disponível no Brasil. Nos Estados Unidos, onde sempre há casos, a aplicação de doses em todos os cavalos é recomendada há muitos anos pela American Association of Equine Practitioners (AAEP) – que é a Associação Americana de Médicos-Veterinários de Equinos.

Para Claudia, não se pode falar em epidemia de FNO no País, no entanto, defende a subnotificação de casos. “Temos que insistir nos diagnósticos e ter o mapeamento claro da doença, mas, ao mesmo tempo, a vacinação tem que ser disponibilizada aos cavalos o quanto antes”, diz a médica-veterinária.

Origem e transmissão

O vírus da FNO foi identificado pela primeira vez em Uganda, em 1937, e se manteve por décadas restrita a países africanos, europeus e asiáticos. Chegou ao solo norte-americano em 1999 e causou um surto de grandes proporções, tornando-se amplamente estabelecido do Canadá à Venezuela.

Esta é uma zoonose transmitida por meio da picada de mosquitos infectados, principalmente do gênero Culex (conhecidos como pernilongo ou muriçoca), como a dengue ou febre amarela, explica o médico-veterinário Otávio Diniz, presidente da Comissão de Equideocultura do CRMV-SP. “Não existe transmissão de humano para humano ou de cavalo para cavalo. Equídeos e humanos são hospedeiros acidentais e terminais desse vírus.”

A disseminação acontece principalmente por meio de aves migratórias, capazes de reintroduzir o vírus em determinadas áreas, causando surtos esporádicos após circularem por regiões endêmicas. “Outra forma de ocorrência é pela importação de aves infectadas ou ainda a introdução acidental de mosquitos infectados. Dessa maneira, a doença pode entrar em países até então considerados livres do problema”, explica Diniz.

Proteção

O médico-veterinário do CRMV-SP aconselha reduzir a exposição dos equídeos aos vetores, com uso de repelentes, confinamento em baias com portas e janelas teladas, e distância de localidades onde exista infestação por culicoides. “Os animais devem ser isolados, dentro da cocheira e com as luzes apagadas, no período de maior atividade dos mosquitos, que costuma ser entre 16h e o amanhecer”, orienta.

Os humanos também devem evitar a exposição aos mosquitos com uso de mosquiteiros nas camas e repelentes. Os riscos são reduzidos com medidas simples, como evitar água parada e locais sem saneamento básico. É importante manter telas em janelas e portas, não despejar lixo em valas, valetas, margens de córregos, rios e riachos, e usar inseticidas e larvicidas.

“É importante evitar manusear animais mortos quando possível. Se houver a necessidade, usar luvas duplas de procedimento, para proteger a pele de sangue ou outros fluidos corporais”, acrescenta Diniz.

Imunidade

No caso desta infecção, a causa é o vírus do gênero Flavivirus, família Flaviviridae, assim como os vírus da dengue e da febre amarela. Isso significa que os humanos, diferentemente dos equinos e aves, são mais protegidos de casos mais graves da doença, ao passo que a população brasileira tem muita imunidade para Flavivirus, e estudos sobre a FNO apontam que há uma reatividade cruzada entre eles.

Todos os casos humanos da doença foram registrados no Estado do Piauí – dez pessoas foram diagnosticadas entre 2014 e 2020. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 80% das pessoas não apresentam sintomas. “Quando eles ocorrem, não apresentam sinais clínicos importantes. O paciente pode ter febre e mal-estar”, afirma o presidente da Comissão de Equideocultura, Otávio Diniz.

As formas graves da doença atingem o sistema nervoso central, com meningite e encefalite, de um em cada 150 infectados. Os sintomas podem ir de febre alta e rigidez da nuca a convulsões, coma e paralisia. Conforme o Ministério da Saúde, as formas mais graves ocorrem com maior incidência em pessoas com idade acima dos 50 anos.

Arte traz um infográfico com ilustrações e imagens de cavalos com os seguintes dizeres: 
Febre do Nilo Ocidental ameaça saúde dos equinos no Brasil. 
A Febre do Nilo Ocidental é uma zoonose transmitida por meio da picada de mosquitos infectados. 
A disseminação acontece principalmente por meio de aves migratórias. 
As formas graves da doença atingem o sistema nervoso central, com meningite e encefalite. 
A mortalidade é alta nos cavalos infectados. Os que não morem ficam com sequelas permanentes. 
A vacina, ainda não liberada no Brasil, é a única possibilidade de evitar a morte ou a inutilização dos animais.

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