A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) notificou, na última semana, um caso de Febre do Nilo Ocidental (FNO), em um equino na cidade de São Paulo. Diante dos fatos, o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) alerta sobre riscos de transmissão, cuidados preventivos e identificação dos sintomas da doença.
A FNO, que já foi considerada extinta, é uma zoonose, ou seja, acomete humanos e animais. Os equinos e os humanos são hospedeiros finais do vírus, sem importância na transmissão, pois a replicação em mamíferos é muito baixa. No Brasil, foram notificados nove casos em equinos no Espírito Santo e três em humanos no Piauí, sendo um óbito.
Após receber a comunicação da ocorrência e seguindo a nota técnica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a Secretaria de Estado da Agricultura, por meio da Coordenadoria de Defesa Agropecuária, avisou à Secretaria de Estado da Saúde e realizou a investigação epidemiológica.
Na visita à propriedade e às imediações onde se encontrava o equino não foram observados outros animais com sintomas compatíveis com a doença (Nota Técnica Cedesa n° 001/2019).
Sobre a FNO
A Febre do Nilo Ocidental (FNO) é uma doença febril aguda causada por um arbovírus do gênero Flavivírus, transmitido, principalmente, pela picada de mosquitos do gênero Culex (pernilongo), tendo como reservatório natural aves silvestres. “É uma zoonose cuja transmissão se dá por meio da picada de mosquito vetor, como a dengue ou febre amarela. Não existe transmissão homem/homem ou cavalo/cavalo. Equídeos e humanos são hospedeiros acidentais e terminais desse vírus”, explica o médico-veterinário Otávio Diniz, presidente da Comissão Técnica de Equideocultura do CRMV-SP.
De acordo com Diniz, a disseminação da FNO pelo mundo ocorre, principalmente, por aves migratórias, que podem reintroduzir o vírus em determinadas áreas, causam surtos esporádicos após passarem por regiões endêmicas. “Pode ocorrer, ainda, pela importação de aves infectadas e introdução acidental de mosquitos infectados, possibilitando a entrada da doença em países considerados livres até então.”
Sintomas e riscos
O médico-veterinário Carlos Augusto Donini, presidente da Comissão Técnica de Políticas Públicas do CRMV-SP, esclarece que cerca de 80% dos indivíduos infectados (humanos ou animais) não apresentarão sinais clínicos importantes, além de febre e mal estar.
“Contudo, aqueles indivíduos mais fragilizados e debilitados imunologicamente, como crianças, idosos, gestantes, químico-dependentes e imunocomprometidos, poderão apresentar dores musculares, nos olhos e na cabeça; vômitos; disenteria; fraqueza muscular; manchas no corpo; tonturas; paralisias; alterações neurológicas graves; falta de equilíbrio; convulsões; coma; e, até mesmo, chegar a óbito”, explica Donini.
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(Carlos Augusto Donini)
Medidas de controle
Para prevenção, Diniz, apresenta algumas recomendações para o cuidado com os animais. “Deve-se reduzir a exposição dos equídeos aos vetores, com o uso de repelentes, confinamento em baias com portas e janelas teladas, e mantê-los distantes de localidades onde sabidamente exista infestação por culicoides. Aconselha-se também o isolamento dos animais em horários de maior atividade dos mosquitos (entre 16h e o amanhecer), dentro da cocheira com as luzes apagadas.”
Da mesma forma, as pessoas devem evitar a exposição a mosquitos, usar mosquiteiros nas camas, e repelentes. “Recomenda-se o controle da proliferação de mosquitos (vetores) pela eliminação dos criadouros (água parada); pela limpeza adequada do lixo, evitando sua destinação em córregos, lagos e açudes; e evitando o acúmulo de materiais inservíveis e recicláveis que possam acumular água e detritos”, alerta Diniz.
Histórico recente
O terceiro caso da FNO que resultou na primeira morte no País foi confirmado por exames laboratoriais, neste ano, pela Secretaria de Estado da Saúde do Piauí (Sesapi). A paciente era uma idosa, que faleceu em 2017, após complicações da doença e outros problemas de saúde associados. Ela morava na cidade de Piripiri, a 162 km ao norte de Teresina. Os outros dois casos já registrados no Brasil aconteceram, no Piauí, em 2014 e 2017. Os pacientes, que apresentaram a forma mais leve da doença, eram das cidades de Aroeiras do Itaim e Picos.
Além dos registros em humanos, em junho de 2018 a Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo (Sesa) divulgou a confirmação da ocorrência de infecção em equídeo em uma propriedade em São Mateus, norte do Estado, a 238 km da capital Vitória, e a investigação foi motivada a partir da notificação de óbito em cavalos na região.