Um grupo de agricultores do Paraná decidiu juntar esforços e dinheiro para montar uma grande criação de peixe. Eles aproveitam o lago formado por uma usina hidrelétrica para criar tilápias em tanques-rede.
A tilápia é um peixe nativo da África e da Ásia que chegou ao Brasil na década de 70. O animal tem crescimento rápido e se adapta bem ao cativeiro, mas não gosta muito de frio. Em temperaturas inferiores a 22°C ou 23°C ele não morre, mas para de crescer. A carne da tilápia, que é branca e firme, fica boa assada, cozida, frita e defumada.
Com tanta versatilidade, a tilápia caiu no gosto do brasileiro, o que fez o negócio de criação do peixe registrar crescimento de 20% ao ano nos últimos cinco anos.
Agricultores de Itambaracá, no norte do Paraná, tiveram a ideia de juntar recursos para montar uma grande criação em tanque-rede, que foi apelidado de condomínio. O empreendimento, fundado em 2007 e pertencente a 12 sócios, trabalha com 360 tanques que produz 350 toneladas de tilápia por ano. Cada sócio investiu R$ 60 mil para a compra e instalação dos tanques e de toda a estrutura necessária para tocar a criação.
“Estrategicamente, convidamos para participar do grupo um comprador, um produtor, um técnico especialista no negócio, um criador e investidores para tornar o negócio grande. Com isso, ganharmos em escala”, explica o agrônomo e presidente do condomínio Vauler Furtado.
O condomínio foi instalado dentro do lago de uma usina hidrelétrica, construída no leito do rio Paranapanema, que divide os Estados do Paraná e de São Paulo. A área, que reúne as condições ideais para a instalação de tanques-rede, fica em um canto próximo à margem que está protegido de ventos fortes. A água é limpa e calma, com profundidade média em torno dos oito metros.
O tanque-rede é uma gaiola feita de tela e sustentada por flutuadores que, dispostos em linha, são unidos por cordas. Os tanques têm seis metros cúbicos e a quantidade de peixe de cada um varia de acordo com o tamanho e a idade do animal. O condomínio, que só faz a engorda da tilápia, compra peixes na fase juvenil, pesando entre 30 e 40 gramas.
“Quando chega o juvenil a gente coloca três mil peixes em cada tanque, que vão crescer de cem a 150 gramas. Depois, eles são divididos em dois tanques com 1,5 mil peixes cada”, esclarece o sócio e gerente da criação, Carlos Scaramal.
Quando chegam a 200 ou 300 gramas os peixes passam por uma nova classificação e vão para outro tanque, em lotes com 850 tilápias, onde permanecem até a despesca.
A tilápia leva uma média de quatro a cinco meses para atingir o peso de venda, que gira em torno de 700 gramas. Mas para isso precisa comer bem. A ração oferecida aos peixes varia de acordo com a idade e o tamanho do animal.
Prendedores coloridos identificam o tipo de peixe que vive em cada tanque. Os tratadores sabem quanto e qual ração fornecer aos animais. Para acompanhar o crescimento das tilápias, todo mês, parte do plantel passa pela chamada biometria, momento em que os animais são medidos e pesados. A biometria também serve para avisar o piscicultor quando alguma doença entra na criação.
O agrônomo da Emater Miguel Antonucci dá assistência técnica ao condomínio. “Devido ao manejo e ao estresse provocados pelo confinamento, é comum aparecerem doenças. O mais comum é o surgimento de bactérias”, diz.
O tratamento das doenças bacterianas é feito com antibióticos fornecidos com a ração. “Quando começam a aparecer os sintomas, o ideal é coletar amostras e encaminhá-las ao laboratório para que sejam feitas análises. Na análise, serão identificados o tipo de bactéria e o melhor antibiótico”, explica o agrônomo.
Outro problema importante são os predadores, que estão por toda parte. Os tanques são equipados com tampas para impedir que pássaros e animais aquáticos roubem peixes da criação.
O condomínio também tem que cuidar da qualidade da água, o que ajuda a garantir a saúde dos peixes e a evitar a poluição do o lago. O monitoramente é constante. O disco de secchi é usado para medir a transparência da água, um indicativo do nível de oxigênio. De tempos em tempos, os funcionários também coletam amostras de água e enviam para um laboratório, que analisa os índices de nutrientes e de possíveis poluentes.
“Produzir um quilo de tilápia custa em torno de R$ 2,80 a R$ 3, contando a mão de obra, o juvenil e a ração. Estamos vendendo por cerca de R$ 3,30 a R$ 3,50”, calcula Scaramal.
Boa parte da produção é vendida para pesqueiros, outro negócio em expansão no Brasil. Um dos compradores do condomínio é Jorge Takenaka, dono do pesqueiro em Santa Isabel, São Paulo. “Eu compro em torno de três a quatro mil quilos, dependendo da época”, diz.
O condomínio também proporcionou oportunidades de negócio a outras propriedades da região. Uma das fazendas está se especializando na criação de juvenis, o segundo estágio dentro da cadeia produtiva de tilápia. O viveiro de juvenis ocupa cinco mil metros quadrados da fazenda de Miguel Romero, que tem a maior parte da propriedade de 50 hectares arrendada para a produção de cana-de-açúcar.
A fazenda produz 360 mil juvenis por ano em quatro tanques escavados. Aproveitando a estrutura que já tinha, o produtor teve que investir apenas na cobertura de tela, que impede o ataque de predadores. Os alevinos ou filhotinhos de tilápia, todos machos, são comprados de um laboratório da região. O produtor paga R$ 80 por cada lote de mil alevinos. Depois, vende os juvenis na faixa de R$ 250 o milheiro.
Para instalar uma criação dentro de rios ou lagos públicos é preciso fazer um projeto técnico e conseguir licença de órgãos como Ministério da Pesca e Ibama.
Fonte: Globo Rural (acessado em 24/10/2011)
Nota do CRMV-SP: Estabelecimentos como condomínios de tilápias também devem ser registrados nos Conselhos Regionais de Medicina Veterinária e precisam ter um médico veterinário atuando como responsável técnico.