No Dia Mundial de Combate às Zoonoses, celebrado em 06 de julho, é importante reiterar que o controle e o combate a essas doenças são ainda mais decisivos dentro do conceito da Uma Só Saúde. O desmatamento e a consequente diminuição das áreas de floresta e as mudanças climáticas são alguns dos fatores que podem causar novas epidemias e até pandemias. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem mais de 200 tipos de zoonoses, sendo que 60% das doenças infecciosas humanas têm sua origem em animais.
Segundo a presidente da Comissão Técnica de Uma Só Saúde do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP), Vera Letticie de Azevedo Ruiz, é importante divulgar informações baseadas em Ciência e evidências para sensibilizar a população sobre a importância da ação de cada um no combate e prevenção às zoonoses, desmistificando as fake news, que tanto atrapalham o controle de transmissão de enfermidades.
“O médico-veterinário e o zootecnista têm a responsabilidade de divulgar dados verdadeiros e ajudar no esclarecimento das dúvidas. É importante valorizar profissionais que atuam em Uma Só Saúde, fomentar o cuidado com o meio ambiente, promover a guarda responsável de animais e realizar campanhas educativas com linguagem acessível. Quando a população compreende que a prevenção de zoonoses começa em ações simples, como cuidar do próprio animal de companhia, respeitar o meio ambiente, denunciar irregularidades e participar de campanhas de vacinação, ela se torna agente ativa na construção de uma sociedade mais saudável”, enfatiza Vera Letticie.
A presidente da Comissão Nacional de Uma Só Saúde do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Maria Tereza Vargas Leal Mascarenhas, reitera que a informação é a principal arma para o combate e controle das zoonoses, mas ressalta que as ações devem considerar a saúde humana, animal e ambiental, sendo o equilíbrio entre esses três eixos fator primordial.
“A sociedade deve obter esses conhecimentos, precocemente, devendo ter esse conteúdo inserido de forma transversal nas escolas e, para os cursos de graduação das áreas da Saúde e afins, ter disciplinas específicas. O poder público deve atuar tendo como princípio a grande relevância do tema”, afirma Maria Tereza.
Papel fundamental
Médicos-veterinários e zootecnistas têm um papel estratégico no enfrentamento das zoonoses, pois atuam na interseção entre a saúde animal, humana e ambiental, exatamente onde essas doenças emergem e se disseminam.
“Os médicos-veterinários estão na linha de frente quando atuam na vigilância epidemiológica e sanitária, no diagnóstico e controle de enfermidades em animais, em campanhas de vacinação animal contra zoonoses, na inspeção de produtos de origem animal e na segurança dos alimentos. Sua atuação em emergências sanitárias e pandemias tem se mostrado indispensável e seu papel na educação da população é fundamental, pois orienta as comunidades sobre prevenção e cuidados, promovendo responsabilidade e consciência sanitária”, explica Vera Letticie.
Já os zootecnistas, esclarece a presidente da Comissão Técnica de Uma Só Saúde do CRMV-SP, contribuem de forma essencial para a prevenção das zoonoses a partir da base da produção animal. “Quando atuam com bem-estar animal, manejo racional, nutrição e genética, contribuem para construir sistemas de produção mais sustentáveis e com animais mais resistentes a doenças. Fortalecer essa atuação é um investimento preventivo, mais eficaz e econômico do que reagir a crises sanitárias depois que elas já se instalaram.”
Maria Tereza lembra que o controle das zoonoses está na responsabilidade de muitas profissões, que devem atuar de forma conjunta, sendo o diálogo entre elas essencial. “A Medicina Veterinária e a Zootecnia, profissões que apresentam como elemento central da sua atuação os animais, devem ter participação obrigatória neste processo para a busca de uma sociedade mais saudável, no contexto de Uma Só Saúde.”
Ensino presencial de qualidade
Neste contexto, Vera Letticie salienta que o ensino presencial é insubstituível para a formação de qualidade dos profissionais médicos-veterinários e zootecnistas, pois o aprendizado é prático e sensorial. “Essas áreas exigem competências que vão além do conhecimento teórico, pois envolvem habilidades práticas, tomada de decisão em campo, sensibilidade clínica, trabalho em equipe multidisciplinar e, principalmente, a capacidade de lidar com seres vivos e situações imprevisíveis.”
A presidente da Comissão Técnica de Saúde Única do CRMV-SP destaca, ainda, que a interação presencial com professores, colegas, profissionais de diferentes áreas é insubstituível, pois favorece o desenvolvimento de valores éticos, empatia e habilidades de comunicação, fundamentais para o trabalho em equipe e para a educação da população. Além das atividades curriculares de extensão, que aproximam o aluno da realidade social, econômica e ambiental das regiões onde poderá atuar, especialmente, em saúde pública, controle de zoonoses e produção animal sustentável.
Maria Tereza lembra que o processo de ensino e aprendizagem tem por objetivo o desenvolvimento de profissionais habilitados para atuação em um contexto cada vez mais desafiador para a saúde, quando mudanças climáticas, por exemplo, veem desafiando os sistemas de produção animal e de controle de doenças. “Para a atuação em Uma Só Saúde é essencial o desenvolvimento de competências para o trabalho em equipe, construindo saberes para busca de soluções de questões complexas da saúde nos seus três eixos: humano, animal e ambiental.”
Fatores para prevenção
Vera Letticie destaca que, do ponto de vista da saúde pública, a vacinação é uma medida preventiva de alto impacto, tanto em animais quanto em humanos, pois interrompe a transmissão, protege populações vulneráveis e previne surtos e epidemias.
“No entanto, as vacinas atuam apenas sobre um dos elementos da cadeia epidemiológica: os indivíduos suscetíveis. Para um controle mais amplo e efetivo, é necessário considerar também as fontes de infecção e as vias de transmissão, sejam elas diretas ou indiretas. As vacinas representam um dos pilares mais sólidos da prevenção, mas é a abordagem integrada e multifatorial que permite resultados mais duradouros e eficazes no controle das zoonoses”, esclarece Letticie.
A presidente da Comissão Técnica de Uma Só Saúde, do CRMV-SP, elenca outras ações igualmente importantes que incluem: educação e conscientização da população, promovendo atitudes preventivas; melhorias no saneamento básico e nas condições de higiene, que reduzem o risco de contaminação ambiental; preservação ambiental e controle do desmatamento, evitando o desequilíbrio ecológico, que favorece a emergência de novas zoonoses.
Equipes multiprofissionais
De forma geral, zoonoses como leptospirose, toxoplasmose, leishmaniose, raiva, doença de chagas, febre amarela, esporotricose, febre maculosa, tuberculose, brucelose, salmonelose, cisticercose e larva migrans, entre outras, são detectadas pelos serviços de saúde. O controle, entretanto, inclusive daquelas transmitidas por alimentos, exigem ações multiprofissionais, com atuação na saúde pública, na defesa sanitária animal e na inspeção de produtos de origem animal.
“Além da propagação de boas informações, recomendamos a busca de profissionais para a realização de vacinação animal, controle ambiental (eliminação de criadouros, saneamento, controle de roedores e vetores), assim como busca de cuidados pessoais (vacinação, uso de repelentes, roupas adequadas em áreas de mata e cuidado com a água de enchentes) e atenção a sintomas para procurar atendimento médico”, afirma Maria Tereza.
Para Letticie, equipes multiprofissionais com ações coordenadas são imprescindíveis para o controle e a prevenção eficaz das zoonoses. “Ao integrar diferentes habilidades e competências, a resposta às doenças se torna mais completa, eficiente e sustentável diante dos desafios que essas enfermidades representam.”
A presidente da Comissão Técnica de Uma Só Saúde do CRMV-SP apresenta um exemplo prático de controle da leptospirose em centros urbanos, mostrando que o enfrentamento das zoonoses exige uma abordagem integrada, em que:
✔️Médicos-veterinários atuam na saúde animal, com diagnóstico, tratamento e vacinação de cães e outros animais;
✔️Biólogos contribuem com o controle populacional de roedores, importantes reservatórios da bactéria;
✔️Médicos se responsabilizam pelo diagnóstico e tratamento dos casos humanos;
✔️Agentes comunitários de saúde realizam ações educativas e de conscientização com a população;
✔️Engenheiros sanitaristas promovem melhorias no saneamento básico e na drenagem urbana, reduzindo os focos de contaminação.