A Páscoa este ano será celebrada em 20 de abril, e uma das preocupações mais constantes é com relação a alimentação dos animais nesse período, especialmente devido ao consumo de alimentos típicos da festa, como o chocolate. Este é um dos maiores vilões para a saúde dos cães e gatos, devido à sua alta toxicidade.
O cacau, presente no chocolate, contém teobromina, uma substância que os pets não conseguem metabolizar corretamente. Substâncias como o guaraná também possuem teobromina. Quanto mais escuro o chocolate, maior o teor de cacau e, consequentemente, o risco de intoxicação.
De acordo com a médica-veterinária Vivian Pedrinelli, mestre e doutora em Nutrição de cães e gatos pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP), o consumo de chocolate pode causar uma série de problemas de saúde aos animais, como vômitos, diarreia, convulsões, e até mesmo a morte, dependendo da quantidade ingerida.
“Para evitar acidentes, recomenda-se manter os chocolates fora do alcance dos animais e educar as crianças sobre os riscos de compartilhar esses alimentos com os pets. Não deixe alimentos em áreas da casa às quais o animal tenha acesso sem supervisão. Além disso, procure manter a rotina de refeições e atividade física durante o feriado e instrua visitas a não oferecerem alimentos a eles”, orienta Vivian Pedrinelli.
Já o médico-veterinário formado pela FMVZ-USP, Bernardo Mendes Pires, lembra que a teobromina não é o único ingrediente nocivo do chocolate. “Feito de cacau, o chocolate tem dois ingredientes potencialmente tóxicos e, por vezes, letal, como a teobromina e a cafeína. Quando ingeridos podem estimular o sistema nervoso central, provocar arritmia e taquicardia, dificuldade respiratória, tremores, convulsão e óbito. Melhor evitar”, alerta.
Outro alimento frequentemente consumido nesta época é o peixe, como o bacalhau. Embora não seja tóxico para cães e gatos, é preciso muita cautela. “Os espinhos do peixe podem representar um risco caso sejam ingeridos, e é importante evitar o bacalhau para animais com histórico de reações alérgicas a peixes”, alerta.
A hora e a vez do Pistache
Embora o chocolate continue sendo o protagonista da Páscoa, neste ano, o mercado alimentício brasileiro está vivendo uma verdadeira “pistachemania”. Não será incomum encontrar derivados dessa semente verde nas mesas durante as celebrações da data.
O Brasil, que não produz pistache, importou mais de 608 toneladas da oleaginosa em 2023, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) analisados pela fintech de comércio exterior Vixtra. Embora os dados de 2024 ainda não tenham sido divulgados, a crescente presença do pistache nas prateleiras é um reflexo da popularidade crescente do alimento.
No entanto, assim como outros alimentos não destinados aos pets, o pistache requer cuidado. A médica-veterinária explica que, até o momento, não há evidências de que o pistache seja tóxico para cães e gatos. Contudo, é importante observar a ingestão do alimento pelos animais, pois, assim como outras nozes e castanhas, o pistache é rico em gorduras e pode contribuir para o aumento da ingestão calórica.
“Consumido em excesso, o pistache pode causar ganho de peso e até condições clínicas mais graves, como gastroenterites e pancreatite em alguns animais”, explica Vivian Pedrinelli.
Bernardo Mendes Pires destaca que, embora o pistache seja um alimento nutritivo para os seres humanos, rico em vitamina C, ferro e magnésio, ele não deve ser oferecido aos animais de estimação. “Embora seja excelente para nós, não é recomendado para pets, pois a casca pode conter fungos que são prejudiciais. Não vale a pena expor o pet a riscos desnecessários. Lembre-se de que nem tudo o que é bom para os seres humanos é adequado para os animais, podendo causar alergias, vômitos e alterações no trato gastrointestinal. A moderação é importante, e, no caso do pistache, ele não fará falta para o animal”.
Coelho não é brinquedo!
Um costume comum para muitos na Páscoa é presentear crianças com coelhinhos, mas essa prática merece reflexão, especialmente quando se trata da responsabilidade envolvida na adoção de um animal. Santuzza Andrade, presidente da organização não-governamental Grupo de Apoio aos Coelhos (ONG GAC), alerta para a importância de entender que coelhos não são pets de baixa manutenção e, por isso, não devem ser tratados como brinquedos. “Antes de adotar um coelho é essencial compreender que ele requer cuidados específicos, atenção diária e não deve ser visto como um presente, especialmente para crianças”, enfatiza.
Apesar dos esforços de organizações como o GAC, que foi fundado em 2020 e já resgatou mais de 1.500 coelhos abandonados, o impulso de comprar coelhos como presentes na Páscoa ainda persiste. A presidente da ONG destaca que muitos dos coelhos resgatados são filhotes adquiridos ou dados de presente na Páscoa, muitas vezes sem a devida conscientização sobre as necessidades do animal.
“Infelizmente, muitos desses coelhos são abandonados quando as famílias percebem que eles exigem cuidados especiais, atenção constante e custos com a saúde veterinária. Com poucos meses de vida, muitos acabam sendo deixados em parques, terrenos baldios ou até soltos em áreas urbanas, colocando suas vidas em risco”, lamenta Santuzza.
Coelho como Pet: O que você precisa saber
Apesar de não serem roedores, os coelhos possuem dentes que não param de crescer, o que exige cuidados específicos na alimentação para garantir o desgaste natural da dentição. Segundo o médico-veterinário especializado em Medicina de Pets Não Convencionais, Rafael Amorim, uma alimentação adequada é fundamental para a saúde do animal.
“A dieta ideal para um coelho deve incluir ração de boa qualidade, específica para a espécie, representando entre 15% e 20% da alimentação diária. O feno e as folhas verde-escuras devem ser a base da dieta, compondo cerca de 60% e 20%, respectivamente. Esse tipo de alimentação favorece o desgaste natural dos dentes. Frutas e legumes, quando oferecidos, devem ser tratados como petiscos e não devem ultrapassar 5% da dieta”, explica.
Além da alimentação, o coelho, assim como os cães, precisa de exercícios para gastar energia. Porém, ao contrário dos gatos, que são conhecidos por sua independência, os coelhos têm uma personalidade distinta. Santuzza Andrade, presidente da ONG GAC, destaca que, apesar de sua natureza sensível, eles também são animais muito higiênicos e capazes de criar laços afetivos.
“Coelhos são animais naturalmente cautelosos, pois são presas na cadeia alimentar. Por isso, se assustam facilmente e, na maioria das vezes, não gostam de ser pegos no colo. Isso não significa que não possam formar vínculos, mas sim que esse relacionamento deve ser construído com paciência, respeito e compreensão de suas necessidades”, esclarece Santuzza.
Coelho exige espaço e enriquecimento ambiental
Não é recomendado que os coelhos permaneçam na gaiola o dia todo, pois, assim como qualquer outro animal, eles precisam de exercício e espaço para se desenvolver. De acordo com Rafael Amorim, médico-veterinário especializado em pets não convencionais, a criação de coelhos deve ocorrer em ambientes amplos e adequados.
“Os coelhos devem ser criados preferencialmente em espaços amplos, como recintos, viveiros ou até quartos adaptados para eles. Esse ambiente deve contar com um banheiro com substrato apropriado para a eliminação das excretas, potes de ração e água, que devem ser higienizados e trocados diariamente, um porta-feno e um local específico para oferecer as verduras, que devem ser consumidas todos os dias. Além disso, brinquedos e tocas adequados à espécie também são fundamentais para garantir que o coelho tenha uma vida saudável e estimulante”, explica.
Diante de todos esses cuidados, a adoção de um coelho precisa ser uma decisão responsável e bem-informada, como afirma Santuzza Andrade, presidente da ONG GAC. “Adotar um coelho é um ato de responsabilidade. Quando bem cuidados, esses animais podem viver por mais de dez anos, sendo companheiros incríveis, inteligentes e carinhosos à sua maneira”, ressalta.
Para saber mais sobre o trabalho do Grupo de Apoio aos Coelhos e como contribuir, acesse o site: Tudo Sobre Coelhos | GAC – Grupo de Apoio aos Coelhos.